Apresentamos a meditação proposta por frei José da Câmara para o quarto Mistério Doloroso do Rosário, no seu livro “Arte da Perfeição Cristã”.
"Meditação
Considera, alma minha, ao teu Redentor pelas ruas de Jerusalém afrontado tão ignominiosamente diante de tanto povo. Qual seria a sua aflição com uma Cruz às costas entre dois ladrões, sendo ele a mesma inocência? Mas ainda que estas ignominias lhe feriam tanto o sensitivo, com que ternura abraçaria aquela Cruz, em que havia de dar a vida pelos homens, e remir o género humano? Que palavras ternas lhe diria, pois tão voluntariamente a abraçava! Com que afectos ofereceria ao Eterno Pai aquele sacrifício tão custoso em satisfação dos teus pecados? Assim caminha com aquele Sagrada Lenho aos ombros, e com uma corda ao pescoço! Porque àquela Santíssima humanidade faltavam já as forças naturais, foram inumeráveis as quedas, que naquela jornada padeceu. Pondera bem de vagar este Mistério. Considera ao Rei da Glória todo banhado de sangue, com uma coroa de espinhos na cabeça, que lha não tiraram aqueles algozes, para que fosse mais dilatado o seu tormento.
Era aquela Cruz muito pesada pela matéria, de que era composta; mas ainda que por este princípio o não fosse, bastava levar nela o teu Redentor os pecados de todo o Mundo, para ser inexplicável o seu peso. Com tão grande peso aos ombros um Homem, sobre quem tinham chovido, havia tão poucas horas, tantas tristezas, tantos açoites, tantas bofetadas, e tantas crueldades, como estaria desfalecido? Como havia de poder dar um passo, sem que logo a ele se seguisse uma queda? Caminha, alma minha, em seguimento do teu Redentor; e se os teus pecados fizeram com que dele te apartasses, busca-o pelos sinais daquele sangue, que nas ruas de Jerusalém caiu, e logo o acharás. Aqueles são os vestígios, que ficaram impressos no caminho da salvação: não busques outra estrada, que esta é a estrada corrente, pois nela se divisam tantas correntes de sangue. Considera o estado, em que vai o teu Redentor, sendo as tuas culpas a causa dele chegar a tal estado! Fazes tenção de continuar nos teus pecados, para lhe aumentar mais os tormentos? Queres, que seja mais pesada aquela Cruz pondo-lhe aos ombros mais culpas? Não seja assim, alma minha, à vista do teu Redentor, tão inumanamente ferido: acabem-se já os teus insultos, pois estes são os que lhe ocasionaram tantos danos.
Pondera, que espectáculo seria para aquela Mãe Santíssima, encontrar na rua da amargura a seu Filho neste estado! Que dor trespassaria o coração da Mãe vendo ao Filho tão ferido, e a alma do Filho vendo a Mãe tão magoada! Caminha acompanhando com a consideração ao teu Jesus, e sua Santíssima Mãe, ponderando o muito, que padeceriam até chegarem ao Monte Calvário.
Considera quem é o que padece, que padece, por quem, e para quê. Pede à Virgem Santíssima queira alcançar de seu Filho, que naquela Cruz se crucifiquem os teus pecados, dando-te um verdadeiro arrependimento deles."
Frei José Carlos,
ResponderEliminarMuito grata pela continuação da Meditação sobre o Mistério de Jesus a caminho do Calvário,e com esta bela ilustração que nos ajuda à meditação mais profunda.
Obrigada Frei José Carlos,por nos recordar estas belas palavras:Pondera bem de vagar este Mistério.Bem haja,por nos ajudar com este texto maravilhoso.
Um abraço fraterno.
AD
Frei José Carlos,
ResponderEliminarA Meditação do Mistério de Jesus a caminho do Calvário por Frei José da Câmara faz-nos reflectir profundamente no sofrimento doloroso e prolongado de Jesus mas particularmente na aceitação do mesmo para salvar a Humanidade.
...” Mas ainda que estas ignominias lhe feriam tanto o sensitivo, com que ternura abraçaria aquela Cruz, em que havia de dar a vida pelos homens, e remir o género humano?” …
E como nos recorda Frei José da Câmara, todo o sofrimento de Jesus é presenciado por Sua Mãe Santíssima. ...” Que dor trespassaria o coração da Mãe vendo ao Filho tão ferido, e a alma do Filho vendo a Mãe tão magoada!”…
Façamos nossa a exortação de Frei José da Câmara …” Pede à Virgem Santíssima queira alcançar de seu Filho, que naquela Cruz se crucifiquem os teus pecados, dando-te um verdadeiro arrependimento deles”.
Obrigada, Frei José Carlos, pela partilha. Bem haja.
Um abraço fraterno,
Maria José Silva