sexta-feira, 22 de julho de 2011

Levaram o meu Senhor e não sei onde o colocaram (Jo 20,13)

A memória de Santa Maria Madalena traz à nossa meditação e reflexão a história desta mulher que o Evangelista São João nos diz que permaneceu chorando junto ao sepulcro mesmo depois de o ter visto vazio e de ter ido anunciar aos discípulos que o Senhor Jesus não estava no túmulo.
Para a Igreja Ortodoxa é a Apostola dos Apóstolos e para a Ordem de São Domingos é a grande mestra dos pregadores, daqueles que como ela são convidados a anunciar a ressurreição de Jesus.
E é neste modelo e exemplo que nos confrontamos irremediavelmente com os equívocos de Maria Madalena relativamente ao ressuscitado e as palavras “levaram o meu Senhor e não sei onde o colocaram”. Palavras que em qualquer momento podemos fazer nossas, pois nós muitas vezes também não sabemos onde colocaram o nosso Senhor, também não sabemos como fomos capazes de o deixar levar.
Na escuridão da noite, tal como Maria Madalena, também nós buscamos o Senhor, o corpo morto do Senhor, para lhe prestar uma última homenagem, um último respeito, ou realizar talvez uma autópsia, dissecando nos instrumentos da nossa auto-suficiência o corpo e a história desse homem que loucamente nos quis filhos de Deus.
E nessa noite esbarramos com o sepulcro vazio, sem um corpo para dissecar, e choramos porque perdermos o objecto do nosso desejo, aquele corpo que nos poderia confirmar a satisfação da posse. Esquecemos que neste sepulcro não há corpo, não pode haver um corpo, porque o corpo é sempre um limite, uma possibilidade de propriedade, e com Jesus o corpo é manifestação, é encarnação, passagem de Páscoa libertadora.
E no choro da perda, tal como Maria Madalena, nem nos damos conta que no sepulcro ficaram as ligaduras e o lençol, e que à cabeceira e aos pés se encontram os anunciadores da palavra de Deus, esses seres de luz que são os anjos. Os indícios de um outro corpo, de uma outra presença são-nos imperceptíveis, ainda que presentes e inequívocos, e inevitavelmente manifestados quando interpelados pelo nome que nos foi dado.
Maria! Foi o suficiente para que o choro e o sentimento de perda terminassem, para que se manifestasse essa presença ainda pouco antes irreconhecível e imperceptível. O nome é o novo corpo, afinal uma outra encarnação, a possibilidade de passagem e relação. E é no nosso nome, e nesse apelo ou convite que nos podemos encontrar com o corpo de que somos membros, o corpo que é luz e vida, o corpo do ressuscitado.
Graças ao amor, e à perseverança de se manter frente ao sepulcro vazio, Maria Madalena foi a primeira a ver o Jesus ressuscitado, ela que o julgava perdido e sem possibilidade de encontro. Também nós, como ela e seguindo o seu exemplo, somos convidados a buscar perseverantes na noite o Senhor que julgamos perdido, ou não sabemos onde encontrar. E se o nosso desejo de encontro, o nosso amor, for suficiente para persistirmos na busca, ainda que entre lágrimas, o encontro acontecerá e far-se-á maravilhoso pelo apelo do nome, do nome de cada um de nós.
Como a Amada do Cântico dos Cânticos, que o medo da noite escura e as sentinelas vigilantes da cidade não nos intimide de sair em busca do nosso Amado Jesus.

2 comentários:

  1. Frei José Carlos,

    Leio com emoção o texto que escreveu, burilou, sobre a história de Maria Madalena, a sua relação com Jesus, o seu papel como pregadora e que connosco partilha. Mas vai mais além porque é da nossa relação com Jesus que nos fala e nos exorta. Permita-me que transcreva algumas passagens.
    ...” Na escuridão da noite, tal como Maria Madalena, também nós buscamos o Senhor, o corpo morto do Senhor, para lhe prestar uma última homenagem, um último respeito, ou realizar talvez uma autópsia, dissecando nos instrumentos da nossa auto-suficiência o corpo e a história desse homem que loucamente nos quis filhos de Deus.”… (…)
    …” Esquecemos que neste sepulcro não há corpo, não pode haver um corpo, porque o corpo é sempre um limite, uma possibilidade de propriedade, e com Jesus o corpo é manifestação, é encarnação, passagem de Páscoa libertadora.”…
    ...” Os indícios de um outro corpo, de uma outra presença são-nos imperceptíveis, ainda que presentes e inequívocos, e inevitavelmente manifestados quando interpelados pelo nome que nos foi dado.”…
    …” Maria! (…) … O nome é o novo corpo, afinal uma outra encarnação, a possibilidade de passagem e relação. E é no nosso nome, e nesse apelo ou convite que nos podemos encontrar com o corpo de que somos membros, o corpo que é luz e vida, o corpo do ressuscitado.”…
    E como nos diz no texto …” Também nós, como ela e seguindo o seu exemplo, somos convidados a buscar perseverantes na noite o Senhor que julgamos perdido, ou não sabemos onde encontrar. E se o nosso desejo de encontro, o nosso amor, for suficiente para persistirmos na busca, ainda que entre lágrimas, o encontro acontecerá e far-se-á maravilhoso pelo apelo do nome, do nome de cada um de nós.”…
    Obrigada, Frei José Carlos, por esta partilha, profunda, muito bela, que nos encoraja a não desistir, a continuar a busca do “nosso Amado Jesus.” Bem-haja.
    Votos de um bom fim-de-semana.
    Um abraço fraterno,
    Maria José Silva

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  2. Frei José Carlos,

    Quero agradecer-lhe a fineza ,como escreveu este maravilhoso texto do Evangelho de São João,tão esclarecedor,e como nos diz o Frei José Carlos,para a Igreja Ortodoxa é a Apostola dos Apóstolos e para a Ordem de São Domingos é a grande mestra dos pregadores,daqueles que como ela são convidados a anunciar a ressurreição de Jesus.
    A ilustração com que ilustrou este magnífico texto,é bela e cheia de significado,pois Maria Madalena é o modelo e exemplo desta intimidade com o Senhor Ressuscitado.Tocou-me muito estas palavras;"levaram o meu Senhor e não sei onde o colocaram".Na escoridão da noite,tal comoMaria Madalena,também nós buscamos o Senhor,o corpo morto do Senhor,para lhe prestar uma última homenagem,um último respeito.
    Obrigada Frei José Carlos,por este texto tão belo e rico,que partilhou connosco,é duma profundidade maravilhosa,que nos ajudou a meditar com mais intimidade ao Senhor.Gostei muito.Bem haja,Frei José Carlos.Desejo-lhe uma boa semana.
    Um abraço fraterno.
    AD

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