segunda-feira, 4 de julho de 2011

Meditação do livro "Arte da Perfeição Cristã" de frei José da Câmara

Deixamos hoje uma meditação que frei José da Câmara, religioso da Ordem dos Pregadores, compôs para o seu livro “Arte da Perfeição Cristã”, livro dedicado ao Sereníssimo Senhor D. António, Infante de Portugal, e publicado em Lisboa, na Oficina Silviana da Academia Real, em 1739.

"Meditação
Considera alma minha o infinito amor de Deus que o moveu a obrar por ti tantas finezas, vindo ao Mundo em pessoa para te remir e resgatar. Não obrou estas finezas pelos Anjos, e só as obrou por ti, que nada lhe merecias e tão mal lhe havias de corresponder! Com que tens gratificado estas finezas? Com que tens correspondido a este amor? Pondera devagar o que tens obrado na tua vida, e acharás que tudo tem sido em ti ingratidões? Cuida em seres agradecida a quem por teu amor tanto obrou. Veio Deus do Céu à terra a buscar-te e tu ainda lhe queres fugir? O que pretende de ti é que o ames; e sendo ele tão digno de ser amado, hás-de deixar de o amar? Obrando por ti tantas finezas, hás-de faltar ao seu amor?
Considera aquela humildade suma de Maria, Senhora Nossa, pois anunciando-lhe o Anjo estar para Mãe de Deus escolhida, respondeu: Aqui está a escrava do Senhor, cumpra-se em mim a sua vontade. Oh humildade a mais profunda! A soberba de Eva foi a origem do nosso mal, e a humildade de Maria foi o princípio de todo o nosso bem; pois com tão humilde resposta, do Sangue puríssimo do Coração da Senhora formou o Espírito Santo um corpo, e criando uma alma, naquele Corpo inefável a infundiu, o qual unido à pessoa do Divino Verbo, resultou em um instante um Menino Deus encerrado no puríssimo ventre de Maria Santíssima. Deus feito homem com corpo passível! Oh amor imenso! A natureza humana unida tanto a Deus? Oh amor infinito! De Deus à natureza humana vai uma infinita distância, e tudo isto se venceu! Mas tudo vence um amor Divino!
Pede, alma minha, ao Espírito Santo, que te assista, para poderes meditar tão inefáveis excelências, como as que se encerram neste soberano Mistério. Considera as graças, que aquele Deus Menino, já com perfeitíssimo uso de razão, renderia ao Eterno Pai no mesmo instante da sua Conceição, por lhe dar Corpo passível para padecer pelos homens, oferecendo-se desde logo a padecer e morrer. Quis estar por nove meses recluso no ventre de sua Santíssima Mãe, começando desde logo com esta reclusão a obrar finezas pelos homens. Que fosse possível que a Sabedoria de Deus estivesse dissimulada e calada por tanto tempo! Oh Divino amor! E há-de ser possível, que considerando eu toas estas finezas, não me assombre? Não me eleve ao mais alto de tanto amor? Neste amor me abraso já; só a vós, meu Deus, quero amar, e só o que for vossa vontade quero cumprir, para assim de alguma sorte corresponder ao infinito do vosso amor.
Pede, alma minha, à Virgem Santíssima te queira fazer participante da sua viva fé, da sua pronta obediência, e da sua profunda humildade."

3 comentários:

  1. Frei José Carlos,

    Que profunda e bela partilha que li e meditei, Frei José Carlos! É profundo e simples o texto da Meditação do livro “Arte da Perfeição Cristã” de Frei José da Câmara, de grande harmonia poética e que ilustrou com tanta beleza. Que maravilhosa exortação. Na verdade, com palavras tão simples mas que guardam a essência do ser cristão, podemos ficar em comunhão com o Divino Amor.
    Que Maria Santíssima interceda por nós e que a sua profunda humildade nos sirva de exemplo.
    Obrigada por esta maravilhosa partilha. Bem haja.
    Um abraço fraterno,
    Maria José Silva

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  2. Frei José Carlos,

    Agradeço-lhe esta maravilhosa partilha que propõe para Meditação,veio ao nosso encontro no momento preciso,ajudar-nos a meditar mais profundamente nestas palavras tão simples,mas cheias de sentido para as nossas vidas.
    Obrigada Frei José Carlos,por partilhar connosco toda esta beleza .Gostei muito deste texto.
    Desejo-lhe uma boa semana.Bem haja.
    Um abraço fraterno.
    AD

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  3. Quão reconfortantes para a nossa fragilidade humana são as belas palavras da meditação de Frei José da Câmara que connosco tem a generosidade, a sensibilidade e a ternura de partilhar, Frei José carlos.
    Inclinamo-nos recolhidamente perante a magnífica descrição da Concepção de Jesus, não bastando o nosso coração, mas todo o nosso ser para agradecer tão incomensurável prova de amor.
    Que a Virgem Santíssima, Purísssimo Sacrário do Corpo de Jesus nos olhe como filhos e se alegre com o nosso esforço para A imitar-nos na sua Fé, Humildade e Obediência.
    GVA

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