Continuamos a publicação das meditações compostas por frei José da Câmara para o seu livrinho “Arte da Perfeição Cristã”. Desta feita a meditação tem por tema a visita de Nossa Senhora a sua prima Isabel.
"Meditação
Considera, alma minha, a grande Caridade, diligência e pressa, com que a Virgem Santíssima, sendo Mãe de Deus, menina de quinze anos, a mais delicada e perfeita de todas as mulheres, costumada ao retiro e recolhimento, por moção do Espírito Santo não recusou pôr-se a caminho na companhia de seu Esposo, andando dezanove léguas a pé pelas ásperas montanhas da Judeia, para ir dar os parabéns a sua Prima Santa Isabel de haver concebido o Sagrada Baptista. A toda a pressa caminha, porque lhe serve de guia o Amor Divino. Não é o Amor Divino vagaroso, nem sabe ir passo a passo; por isso pelas montanhas da Judeia não só caminhava, mas corria aquela delicada Donzela sem que lhe servissem de embaraço as asperezas dos montes, ou o dilatado da jornada. Para quem se abrasa no amor de Deus, tudo é suave, nada é penoso. Se sentes, alma minha, os trabalhos desta vida, é porque anda engolfada nestas caducas temporalidades: se só cuidasses em amar a Deus, nada te havia de penalizar, porque os maiores trabalhos te haviam de ser suaves, padecidos por seu amor; assim, como à Virgem Santíssima pareceu suave esta jornada tão dilatada, em que a guiava o Divino Amor.
Acompanha, alma minha, na sua jornada a esta Soberana Senhora, observa-lhe as acções, sem te escaparem até os seus pensamentos. Como iria entretida em colóquios Divinos com o Filho, que levava em seu puríssimo ventre! Quem soubera meditar os actos fervorosos de amor de Deus, em que se iria exercitando! As graças, que a Deus daria por tão supremo benefício, como o de se ver exaltada à dignidade de Mãe de Jesus! Como caminharia nesta contemplação elevada, admirando-se seu Esposo do silêncio que na Virgem observava, reverenciando a sua rara Santidade e prodigiosas virtudes? Oh que pouco imitas esta Caridade, que a Rainha dos Anjos te ensinou para acudires ao teu próximo! Sabes qual foi o fim desta jornada tão custosa? Foi para o Divino Verbo, no puríssimo ventre de Maria recluso, santificar o Baptista, livrando-o da culpa original, e para que Santa Isabel se enchesse da graça do Espírito Santo. Logo que foi concebido o Menino Deus, obrou tais finezas pelos homens: e tu nem por teu Deus obras finezas!
Considera como a Senhora entrando em casa de Zacarias foi a primeira, que saudou a sua Prima. Pondera a humildade, com que esta recebe a tão grande Senhora, confessando-se indigna de mercê tão soberana. Quantas vezes tem entrado o mesmo Deus humanado em teu peito na Mesa da Comunhão? Com que humildade o recebestes em tua morada, sendo ele o Rei da Glória e tu uma vil criatura? Ora aprende de Santa Isabel humildade para com a mais profunda receberes ao teu Deus quando na soberana Mesa o comungares. Considera, como entrando a Rainha dos Anjos em casa de Zacarias, tudo nesta casa foi harmonia e música suave de louvores; Santa Isabel louva a Senhora dizendo: Sois bendita entre as mulheres, bento é o fruto do vosso ventre: com muito afecto deves dizer à Rainha dos Anjos estes louvores, quando rezares a Ave-Maria.
Pede à Virgem Santíssima alcance de seu bento Filho te visite, para que sempre a ele, e a ela louves, e te faças digna de alcançar a sua Divina graça."
Frei José Carlos,
ResponderEliminarObrigada por continuar a partilhar connosco as meditações de Frei José da Câmara, compostas como nos diz para o seu livrinho “Arte da Perfeição Cristã”. E hoje, a Meditação sobre o Mistério da Visitação, encerra na descrição da visita de Nossa Senhora a sua prima Isabel uma grande diversidade de aspectos de uma profunda inspiração, estética, sensibilidade, amor, fraternidade e realismo. Há um detalhe do diálogo de Nossa Senhora com o Filho no ventre que surpreendeu-me e emocionou-me fortemente. Podendo correr o risco de equivocar-me esta forma de diálogo da mulher grávida com o fruto que se desenvolve no ventre começou a vulgarizar-se e a valorizar-se no último quartel do século passado. E passo a transcrever este excerto ...” Acompanha, alma minha, na sua jornada a esta Soberana Senhora, observa-lhe as acções, sem te escaparem até os seus pensamentos. Como iria entretida em colóquios Divinos com o Filho, que levava em seu puríssimo ventre!” … Interrogo-me como foi possível escrever esta última frase naquela época.
Nas nossas orações, louvemos a Virgem Santíssima e o Seu Filho como “Santa Isabel louvou a Senhora dizendo: Sois bendita entre as mulheres, bento é o fruto do vosso ventre” e peçamos para que “sejamos dignos de alcançar a sua Divina graça”.
As palavras , Frei José Carlos, não conseguem expressar a profundidade e a beleza destas partilhas e o nosso agradecimento. Talvez o silêncio que é também um estado de oração poderá complementar a nossa gratidão pelo que nos oferece. Bem haja.
Um abraço fraterno,
Maria José Silva
Frei José Carlos,
ResponderEliminarObrigada por esta maravilhosa Meditação que partilhou connosco,me deu muita força nesta manhã que tanto precisava.Fiquei maravilhada com a continuação das meditações de Frei José da Câmara.Todo o relato é maravilhoso sobre A Virgem Maria,a sua alegria ir a correr as montenhas sem medos para ir visitar a sua Prima Santa Isabel,e esta sua frase tocou-me muito:Como iria entretida em colóquios Divinos com o Filho,que levava em seu puríssimo ventre..!Muito grata por esta partilha,que Deus o abençõe para que nos vá ajudando nesta nossa caminhada por vezes muito difícil,mas com a graça de Deus que nos dá força e alento vamos prosseguindo a meta.Frei José Carlos,continuação de uma boa semana.Bem haja.
Um abraço fraterno.
AD