terça-feira, 5 de julho de 2011

Meditação de frei José da Câmara sobre o Mistério da Visitação

Continuamos a publicação das meditações compostas por frei José da Câmara para o seu livrinho “Arte da Perfeição Cristã”. Desta feita a meditação tem por tema a visita de Nossa Senhora a sua prima Isabel.

"Meditação
Considera, alma minha, a grande Caridade, diligência e pressa, com que a Virgem Santíssima, sendo Mãe de Deus, menina de quinze anos, a mais delicada e perfeita de todas as mulheres, costumada ao retiro e recolhimento, por moção do Espírito Santo não recusou pôr-se a caminho na companhia de seu Esposo, andando dezanove léguas a pé pelas ásperas montanhas da Judeia, para ir dar os parabéns a sua Prima Santa Isabel de haver concebido o Sagrada Baptista. A toda a pressa caminha, porque lhe serve de guia o Amor Divino. Não é o Amor Divino vagaroso, nem sabe ir passo a passo; por isso pelas montanhas da Judeia não só caminhava, mas corria aquela delicada Donzela sem que lhe servissem de embaraço as asperezas dos montes, ou o dilatado da jornada. Para quem se abrasa no amor de Deus, tudo é suave, nada é penoso. Se sentes, alma minha, os trabalhos desta vida, é porque anda engolfada nestas caducas temporalidades: se só cuidasses em amar a Deus, nada te havia de penalizar, porque os maiores trabalhos te haviam de ser suaves, padecidos por seu amor; assim, como à Virgem Santíssima pareceu suave esta jornada tão dilatada, em que a guiava o Divino Amor.
Acompanha, alma minha, na sua jornada a esta Soberana Senhora, observa-lhe as acções, sem te escaparem até os seus pensamentos. Como iria entretida em colóquios Divinos com o Filho, que levava em seu puríssimo ventre! Quem soubera meditar os actos fervorosos de amor de Deus, em que se iria exercitando! As graças, que a Deus daria por tão supremo benefício, como o de se ver exaltada à dignidade de Mãe de Jesus! Como caminharia nesta contemplação elevada, admirando-se seu Esposo do silêncio que na Virgem observava, reverenciando a sua rara Santidade e prodigiosas virtudes? Oh que pouco imitas esta Caridade, que a Rainha dos Anjos te ensinou para acudires ao teu próximo! Sabes qual foi o fim desta jornada tão custosa? Foi para o Divino Verbo, no puríssimo ventre de Maria recluso, santificar o Baptista, livrando-o da culpa original, e para que Santa Isabel se enchesse da graça do Espírito Santo. Logo que foi concebido o Menino Deus, obrou tais finezas pelos homens: e tu nem por teu Deus obras finezas!
Considera como a Senhora entrando em casa de Zacarias foi a primeira, que saudou a sua Prima. Pondera a humildade, com que esta recebe a tão grande Senhora, confessando-se indigna de mercê tão soberana. Quantas vezes tem entrado o mesmo Deus humanado em teu peito na Mesa da Comunhão? Com que humildade o recebestes em tua morada, sendo ele o Rei da Glória e tu uma vil criatura? Ora aprende de Santa Isabel humildade para com a mais profunda receberes ao teu Deus quando na soberana Mesa o comungares. Considera, como entrando a Rainha dos Anjos em casa de Zacarias, tudo nesta casa foi harmonia e música suave de louvores; Santa Isabel louva a Senhora dizendo: Sois bendita entre as mulheres, bento é o fruto do vosso ventre: com muito afecto deves dizer à Rainha dos Anjos estes louvores, quando rezares a Ave-Maria.
Pede à Virgem Santíssima alcance de seu bento Filho te visite, para que sempre a ele, e a ela louves, e te faças digna de alcançar a sua Divina graça."

2 comentários:

  1. Frei José Carlos,

    Obrigada por continuar a partilhar connosco as meditações de Frei José da Câmara, compostas como nos diz para o seu livrinho “Arte da Perfeição Cristã”. E hoje, a Meditação sobre o Mistério da Visitação, encerra na descrição da visita de Nossa Senhora a sua prima Isabel uma grande diversidade de aspectos de uma profunda inspiração, estética, sensibilidade, amor, fraternidade e realismo. Há um detalhe do diálogo de Nossa Senhora com o Filho no ventre que surpreendeu-me e emocionou-me fortemente. Podendo correr o risco de equivocar-me esta forma de diálogo da mulher grávida com o fruto que se desenvolve no ventre começou a vulgarizar-se e a valorizar-se no último quartel do século passado. E passo a transcrever este excerto ...” Acompanha, alma minha, na sua jornada a esta Soberana Senhora, observa-lhe as acções, sem te escaparem até os seus pensamentos. Como iria entretida em colóquios Divinos com o Filho, que levava em seu puríssimo ventre!” … Interrogo-me como foi possível escrever esta última frase naquela época.
    Nas nossas orações, louvemos a Virgem Santíssima e o Seu Filho como “Santa Isabel louvou a Senhora dizendo: Sois bendita entre as mulheres, bento é o fruto do vosso ventre” e peçamos para que “sejamos dignos de alcançar a sua Divina graça”.
    As palavras , Frei José Carlos, não conseguem expressar a profundidade e a beleza destas partilhas e o nosso agradecimento. Talvez o silêncio que é também um estado de oração poderá complementar a nossa gratidão pelo que nos oferece. Bem haja.
    Um abraço fraterno,
    Maria José Silva

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  2. Frei José Carlos,

    Obrigada por esta maravilhosa Meditação que partilhou connosco,me deu muita força nesta manhã que tanto precisava.Fiquei maravilhada com a continuação das meditações de Frei José da Câmara.Todo o relato é maravilhoso sobre A Virgem Maria,a sua alegria ir a correr as montenhas sem medos para ir visitar a sua Prima Santa Isabel,e esta sua frase tocou-me muito:Como iria entretida em colóquios Divinos com o Filho,que levava em seu puríssimo ventre..!Muito grata por esta partilha,que Deus o abençõe para que nos vá ajudando nesta nossa caminhada por vezes muito difícil,mas com a graça de Deus que nos dá força e alento vamos prosseguindo a meta.Frei José Carlos,continuação de uma boa semana.Bem haja.
    Um abraço fraterno.
    AD

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