No trecho do Evangelho de São Mateus que escutamos neste domingo, Jesus convida-nos de uma forma muito clara a tomar sobre nós o seu jugo, que segundo as suas mesmas palavras é suave e nos dará descanso e alívio.
Na nossa liberdade e desejo de auto-suficiência este convite a tomar o jugo aparece-nos como uma capitulação, uma subjugação a um poder estranho e superior que parece querer escravizar-nos. O jugo de que fala Jesus aparece-nos mais como estratégia, como mecanismo de subjugação do império romano relativamente aos povos conquistados, que como instrumento ou objecto de madeira destinado à unificação de animais de carga e trabalho.
E não podemos deixar de ter presente que as palavras de Jesus, e a própria redacção dos Evangelhos, se inserem numa cultural rural, agrícola, e que muitas das imagens e das referências têm por fundo essa mesma cultura e o seu contexto natural. Desta forma, quando Jesus fala do jugo, fala dessa trave de madeira que se coloca sobre o cachaço dos animais para lhes facilitar o exercício da força no transporte da carga ou no lavrar da terra.
Há assim no convite de Jesus uma dimensão de partilha e de suavidade, de misericórdia para connosco e os nossos esforços, que não podemos esquecer nem deixar de ter presente no nosso horizonte e compromisso de assumir o jugo de Jesus. Ao convidar-nos a tomar o seu jugo Jesus convida-nos a partilhar com ele a caminhada, a sabê-lo ao nosso lado nos esforços de puxar o nosso carro com as suas cargas históricas e humanas.
Neste sentido o jugo é e será sempre suave porque se partilhará, será equilibradamente dividido, e se partilhará com aquele que sabe já, desde a sua obediência e do seu amor, levar o jugo do peso da cruz. Pelo que, e de alguma forma, mais do que carregar com o jugo somos nós os carregados nesse jugo, a nossa força e o nosso esforço ainda que exigidos e exigentes estão suavizados pela companhia daquele que já fez o caminho e conhece os tropeços.
Na natureza e no trabalho agrícola, numa junta de animais há sempre um mais forte que vai um pouco mais à frente, que incentiva o outro a caminhar e a carregar. No nosso jugo é Jesus que vai à frente, é ele o mais forte e afinal aquele que verdadeiramente puxa a carga e puxa por nós.
E é por esta razão que Jesus convida aqueles que andam cansados e oprimidos a dirigirem-se a ele e a aceitar o seu jugo; ou seja, a partilhar com ele os esforços da carga do peso diário e da nossa condição humana finita e frágil, que também ele carregou por amor e para nos aliviar desse mesmo peso finito e frágil, e para nos ensinar e mostrar que é possível não ficar cativo e escravo dessa mesma condição.
A aceitação do convite ao jugo implica no entanto um espírito prévio, uma abertura de espírito que se traduz nessa pequenez de que fala Jesus. Porque foi aos pequeninos que o Pai revelou estas verdades e não aos sábios ou poderosos. Os sábios, inteligentes e poderosos procurarão de todas as formas carregar os jugos sem a ajuda de ninguém, confiantes apenas nas suas forças e capacidades, no seu engenho e perspicácia.
Pelo contrário, os pequeninos, aqueles que são como crianças, saberão que sozinhos não serão capazes, interiormente terão o gosto e a alegria da partilha dos esforços e da companhia e por isso não só procurarão ajuda como aceitarão aquela que lhes for oferecida. E neste caso a ajuda de Jesus e a sua fraternidade.
Cabe assim fazer eco das palavras da Carta de São Paulo aos Romanos e pedir ao Senhor que habite em nós e dê vida aos nossos corpos mortais, que nos vivifique e fortaleça para caminharmos lado a lado com Jesus, sabendo que a carga que levamos é partilhada e foi já aliviada pelo seu compromisso de caminhar juntamente connosco.
Frei José Carlos,
ResponderEliminarNa Homilia do XIV Domingo do Tempo Comum que partilha connosco ao recordar-nos uma das mais belas passagens do Evangelho ...” Vinde a Mim, todos os que andais cansados e oprimidos, e Eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de Mim, que sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso para as vossas almas. Porque o meu jugo é suave e a minha carga é leve". …, salienta-nos que …”Há assim no convite de Jesus uma dimensão de partilha e de suavidade, de misericórdia para connosco e os nossos esforços, que não podemos esquecer nem deixar de ter presente no nosso horizonte e compromisso de assumir o jugo de Jesus. Ao convidar-nos a tomar o seu jugo Jesus convida-nos a partilhar com ele a caminhada, a sabê-lo ao nosso lado nos esforços de puxar o nosso carro com as suas cargas históricas e humanas.”…
Como nos diz “mais do que carregar com o jugo somos nós os carregados nesse jugo, a nossa força e o nosso esforço ainda que exigidos e exigentes estão suavizados pela companhia daquele que já fez o caminho e conhece os tropeços” e é Jesus que vai à frente.
Bem haja por exortar-nos a aceitar o convite de Jesus, …”a partilhar com ele os esforços da carga do peso diário e da nossa condição humana finita e frágil, que também ele carregou por amor e para nos aliviar desse mesmo peso finito e frágil, e para nos ensinar e mostrar que é possível não ficar cativo e escravo dessa mesma condição”.
Peçamos ao Senhor com humildade e amor que reforce a nossa fé , … e “que habite em nós e dê vida aos nossos corpos mortais, que nos vivifique e fortaleça para caminharmos lado a lado com Jesus”…
Obrigada Frei José Carlos por esta bela e profunda partilha tão simbolicamente ilustrada que nos encoraja a prosseguir a Caminhada.
Votos de uma boa semana.
Um abraço fraterno,
Maria José Silva
P.S. Permita-me que recorde que no dia 2 de Julho o Frei José Carlos celebrou mais um aniversário de ordenação presbiterial.
Nas nossas orações, pedimos ao Senhor que o cumule de todas as bençãos e bem-haja por tudo. Um abraço fraterno, MJS
"Cabe assim fazer eco das palavras da Carta de São Paulo aos Romanos e pedir ao Senhor que habite em nós e dê vida aos nossos corpos mortais, que nos vivifique e fortaleça para caminharmos lado a lado com Jesus, sabendo que a carga que levamos é partilhada e foi já aliviada pelo seu compromisso de caminhar juntamente connosco."
ResponderEliminarEm face deste parágrafo, Frei José Carlos, permita-me pensar que este corpo mortal para quem se pede vida e força foi-nos gratuitamente entregue, sendo nossa obrigação cuidar dele, mantendo-nos saudáveis, não só por gratidão pela dádiva, mas também como prova exemplar da nossa existência de cristãos. Grata pela sua partilha,
GVA