terça-feira, 12 de julho de 2011

Meditação da Flagelação de Jesus por frei José da Câmara

Continuamos a apresentação das meditações para o Rosário do livro “Arte da Perfeição Cristã” de frei José da Câmara. Meditamos hoje o Mistério da Flagelação de Jesus.

“Meditação
Considera, alma minha, como despiram dos seus vestidos ao teu Redentor diante de todo aquele concurso, e o ataram a uma coluna. Bem tens aqui que meditar ponderando o que padeceu neste passo a modéstia do teu Jesus. Como estaria injuriada aquela modesta humanidade, vendo-se tão descomposta! Se Adão se envergonhou de se ver despido no Paraíso, como ficaria o teu Jesus oprimido do pejo, estando despido naquele pátio! Escarnecia aquela vil canalha; mas de quem? Daquela humanidade Santíssima. Blasfemava aquele povo ingrato; mas de quem? Daquela Santidade suprema.
Aqui lhe deram cinco mil e tantos açoites com tão inexplicável crueldade, que chegaram a despedaçar aquela humanidade inefável, estando já tão dolorida, e magoada com as violências da prisão desde o Horto até às casas de Annás, e Caifás, e daí com desprezos, e bofetadas levada a casa de Pilatos, e de Pilatos à de Herodes, e de Herodes outra vez a Pilatos. Nesta humanidade tão delicada, e perfeita, mas também tão quebrantada, e dolorida, se empregaram os golpes de açoites com os mesmos instrumentos, com que se castigavam os escravos. Oh Senhor do Céu, quem vos pudera perguntar, qual foi o maior sentimento, que vossa Alma padeceu, se o veres-vos despido, se o seres tão cruelmente açoitado! Mas pondero, que mais vos afligiria ultrajarem a vossa modéstia, despindo-vos, que açoitando-vos, porque ao tempo, que padecíeis os açoites, considero que com o Eterno Pai teríeis estes colóquios: Satisfaça-se, Pai meu, vossa justiça, ainda que em mim se multipliquem os tormentos. Muitos, e muito cruéis são os açoites, que padeço; mas maior é o amor, com que vos amo, e o desejo, que tenho de padecer pelos homens. Veja-vos eu em paz com eles, ainda que sobre mim se torne todo o peso da guerra. Oh amor Soberano! Oh meu Jesus, que mal tenho correspondido a tanto amor!
Com as almas remidas com aquele sangue fala também neste Mistério, oh alma minha, o teu Jesus: Oh almas, quanto me custastes? Considerai bem o estado, em que as vossas culpas me puseram! Ponderai, o como estou nesta coluna! Vós é que sois as escravas, e eu sou o que levo os açoites para satisfazer pelas vossas culpas. Vedes-me tão lastimoso, tão ferido, e tão despedaçado? Pois muito mais me lastimais, feris, e atormentais, quando me chegais mortalmente a ofender. Compadecei-vos, almas, de mim; não me trateis tão mal; não me multipliqueis os tormentos; sejamos amigos, que se assim se aliviarão as minhas penas, e me não custarão tanto estes açoites. Dá atenção, alma minha, a estas vozes, penetrem-te o coração estes ecos.
Pondera quem é o que padece, que padece, por quem padece, e para que padece. Pede à Virgem Santíssima te assista para o saberes meditar, sentindo seus açoites, e mais afrontas, que neste passo sofreu o teu Jesus, sendo tudo grande motivo para chorares teus pecados, e nunca mais o tornares a ofender.”

2 comentários:

  1. Frei José Carlos,

    Obrigada por partilhar connosco a Meditação da Flagelação de Jesus por Frei José da Câmara. ...” Oh Senhor do Céu, quem vos pudera perguntar, qual foi o maior sentimento, que vossa Alma padeceu, se o veres-vos despido, se o seres tão cruelmente açoitado!”… (…)”Oh amor Soberano! Oh meu Jesus, que mal tenho correspondido a tanto amor!”…
    Que importante interrogação que nos deixa para meditar, Frei José Carlos.
    Um abraço fraterno,
    Maria José Silva

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  2. Frei José Carlos,

    Muito grata por esta bela Meditação que partilhou connosco,tão profunda e tão cheia de amor pela humanidade,padeceu tanto,porque nos amava tanto,apesar dos nossos muitos pecados.
    Como nos diz o Frei José Carlos,nesta pequena frase do texto:Bem tens aqui que meditar ponderando o que padeceu neste passo a modéstia do teu Jesus.Li e reli o texto da "Arte da Perfeição Cristã" de Frei José da Câmara,temos muito que meditar,e deixar de O ofender mais.
    Bem haja,Frei José Carlos,por nos lembrar estes santos Mistérios no dia a dia da nossa vida, tão agitada e que nem tempo damos à meditação.Obrigada pela beleza desta partilha.
    Um abraço fraterno.
    AD

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