Após vários acontecimentos significativos, reveladores da verdade da pessoa de Jesus, chega a hora da verdade, a hora do confronto com a questão “quem sou eu”. É o momento de aferir o conhecimento adquirido, por aquilo que os outros dizem, mas sobretudo por aquilo que foi experimentado, vivido na intimidade com o Mestre.
Contudo, podemos perguntar-nos se esta questão, se este confronto, não seria mais fácil, mais viável à volta de uma mesa, uma situação afinal tão frequente na vida de Jesus e dos discípulos. Quantas vezes não se sentaram juntos e trocaram ideias…
Mas é no caminho, fazendo o caminho para as povoações de Cesareia de Filipe, para as zonas pagãs, que Jesus coloca a questão, como se houvesse uma necessidade de uma resposta antes de entrarem nessas zonas.
É também neste caminho que Jesus revela pela primeira vez aos discípulos o seu fim, a morte trágica que o espera, uma morte no coração da terra e do povo considerado santo, o eleito de Deus, e não na terra pagã para a qual se dirigem.
A pergunta de Jesus e a resposta de Pedro é assim um colocar-se em situação, é perceber que a pergunta de Jesus e a resposta a Jesus se dão em caminho, se dão em processo, é uma revelação e portanto não existem de forma estática, definitiva. Jesus continua a colocar a questão e continuamos a necessitar responder em cada momento quem é de facto Jesus para nós.
E necessitamos responder nessa passagem da terra eleita para a terra pagã, na passagem das nossas garantias e concepções estabelecidas para a novidade e a diferença da verdade de Jesus Cristo que nos é revelada. Como nos diz o profeta Isaías “os caminhos do Senhor não são os nossos caminhos”, mas é nos seus caminhos que nos podemos encontrar com ele e podemos responder “tu és o Messias de Deus”.
E ainda assim, e aí, a nossa resposta pode ser contraposta pelas palavras de Jesus que não foram a carne nem o sangue que nos deram esse conhecimento, ou seja, que apesar de tudo há ainda algo para descobrir, há ainda um caminho que necessitamos continuar a trilhar.
Jesus apresentou-se-nos como o “Caminho” e neste sentido só por ele podemos chegar ao verdadeiro conhecimento, à verdadeira resposta à pergunta. Que o medo do esforço a aplicar não nos paralise no desejo de encontrar a resposta verdadeira.
Ilustração: “Caminho de Santiago junto às ruínas de San Miguel, depois de Hontanas. Maio de 2010.
Frei José Carlos,
ResponderEliminarLeio e fico a reflectir no excerto do Evangelho de São Marcos e no texto da Meditação que elaborou. É um texto profundo e que ilustrou de forma tão simbólica. É um texto de interrogação, para os crentes e não crentes, sobre o encontro, a experiência pessoal com Jesus que acontece num processo dinâmico.
Como nos salienta no texto ...” A pergunta de Jesus e a resposta de Pedro é assim um colocar-se em situação, é perceber que a pergunta de Jesus e a resposta a Jesus se dão em caminho, se dão em processo, é uma revelação e portanto não existem de forma estática, definitiva. Jesus continua a colocar a questão e continuamos a necessitar responder em cada momento quem é de facto Jesus para nós. …(…)
(…) Como nos diz o profeta Isaías “os caminhos do Senhor não são os nossos caminhos”, mas é nos seus caminhos que nos podemos encontrar com ele e podemos responder “tu és o Messias de Deus”. …(…)
(…) Jesus apresentou-se-nos como o “Caminho” e neste sentido só por ele podemos chegar ao verdadeiro conhecimento, à verdadeira resposta à pergunta.”
Grata, Frei josé Carlos, pela partilha da Meditação profunda e bela, pela simbologia que encerra a ilustração, pelo estímulo e pelo conforto das palavras partilhadas, por nos afirmar que …” há ainda algo para descobrir, há ainda um caminho que necessitamos continuar a trilhar.” Bem-haja.
Um abraço fraterno,
Maria José Silva
P.S. Permita-me, Frei José Carlos, que partilhe o texto de uma oração.
A PAZ
DO CAMINHO
“Lembro-me muitas vezes, Senhor, daquilo que me disse um peregrino que passou por mim
no Caminho de Santiago, quando me viu sentado, com a mochila ao canto, pondo mercúrio
nas feridas. “É tão bom ter tempo para conversar consigo próprio!” – atirou-me ele. E eu que
ainda pensava estar apenas a tratar dos pés. Mas, de repente, senti que se não me aceitasse
(a mim e às feridas que surgiram) e não entabulasse um diálogo integrador comigo mesmo,
não tornaria a encontrar a paz do caminho.”
(In, Um Deus Que Dança, Itinerários para a Oração, José Tolentino Mendonça, 2011)