sábado, 11 de fevereiro de 2012

Faz que os surdos ouçam e os mudos falem (Mc 7,37)

Ao regressar de Tiro e Sidónia Jesus encontra-se com um surdo-mudo que lhe apresentam. Uma vez mais Jesus enche-se de compaixão e afastando-se um pouco da multidão cura aquele homem.
Este episódio narrado por São Marcos está marcado por uma dimensão de contradição que não pode deixar de nos interrogar e fazer pensar, porque Jesus cura o surdo-mudo, dá-lhe poder para ouvir e falar, mas depois proíbe que se divulgue o milagre que tinha operado.
Afinal de que serve aquela cura se não é para falar e para ouvir, para anunciar a Boa Nova salvadora de Jesus? Porquê calar uma dimensão ou consequência da própria missão de Jesus?
As respostas para estas questões podemos certamente encontrá-las nos mesmos gestos de Jesus que operam a cura, nesse enfiar o dedo nos ouvidos e tocar com a sua saliva a língua do mundo, na oração ao Pai para poder dizer “effathá”.
Os gestos de Jesus prendem-se com os gestos criadores, com uma nova humanidade que se gera pelo seu toque e pela sua vida, uma nova humanidade que se abre à novidade da presença e da acção de Deus. Não estamos diante de uma simples cura de surdez e mudez, de um simples gesto taumatúrgico.
O silêncio solicitado por Jesus quanto ao milagre é assim apenas um pedido no sentido da centralização da cura operada, do reconhecimento do que verdadeiramente aconteceu, que afinal é muito mais que uma cura, pois é uma nova criação.
Neste sentido a nossa participação na escuta da Palavra e no seu anúncio, a nossa abertura e acolhimento à oferta da Palavra viva de Deus, significa uma participação numa nova humanidade, numa possibilidade de outra vida e outra história, a vida redimida por Jesus e a história da salvação.
Prontifiquemo-nos portanto a escutar e a acolher a Palavra de Deus, a participar activamente nessa nova criação.

Ilustração: “Cura do surdo-mudo”, Bíblia Ottheinrich, Bayerische Staatsbibliothek.

1 comentário:

  1. Frei José Carlos,

    Reflicto o excerto do Evangelho de São Marcos (7,37) e o texto da Meditação que partilha. A compreensão da aparente contradição de Jesus ao pedir ao surdo-mudo para não divulgar o milagre que realizara que é mais profundo do que uma simples cura que também faz parte da missão de Jesus, encontramo-la nos detalhes dos gestos de Jesus como diz no texto que elaborou.
    Como questiona e salienta...” Afinal de que serve aquela cura se não é para falar e para ouvir, para anunciar a Boa Nova salvadora de Jesus? Porquê calar uma dimensão ou consequência da própria missão de Jesus?
    As respostas para estas questões podemos certamente encontrá-las nos mesmos gestos de Jesus que operam a cura, nesse enfiar o dedo nos ouvidos e tocar com a sua saliva a língua do mudo, na oração ao Pai para poder dizer “effathá”.
    Os gestos de Jesus prendem-se com os gestos criadores, com uma nova humanidade que se gera pelo seu toque e pela sua vida, uma nova humanidade que se abre à novidade da presença e da acção de Deus.”…
    E Frei José Carlos vai mais além, recordando-nos que …” a nossa participação na escuta da Palavra e no seu anúncio, a nossa abertura e acolhimento à oferta da Palavra viva de Deus, significa uma participação numa nova humanidade, numa possibilidade de outra vida e outra história, a vida redimida por Jesus e a história da salvação.”…
    Obrigada, Frei José Carlos, pela partilha desta profunda Meditação, pelas palavras de ânimo e de estímulo para estarmos disponíveis, libertos …”a escutar e a acolher a Palavra de Deus, a participar activamente nessa nova criação.”
    Que o Senhor abençoe e proteja o Frei José Carlos.
    Votos de um bom domingo.
    Um abraço fraterno,
    Maria José Silva

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