quinta-feira, 19 de maio de 2011

O servo não é mais que o seu Senhor (Jo 13,16)

Jesus mandou-os primeiro preparar a sala e tudo o necessário para a celebração da Páscoa. Depois sentou-se com eles e partilhou da refeição que tinham preparado. E quando nada o fazia suspeitar, levantou-se, retirou o manto e começou a lavar-lhes os pés, como um humilde servo, um escravo.
Nada poderia ser mais chocante, mais desconcertante, porque estavam todos à mesa, estavam em festa, e o que o Mestre fazia, essa tarefa servil, costumava fazer-se antes de se iniciar a refeição. Que despropósito e que loucura!
Contudo a acção de Jesus, surpreendente e recusada por um momento por Pedro, é um ensinamento, uma oportunidade para deixar aos discípulos uma grande palavra sobre tudo o que se passará dentro em breve, e também se deverá passar na vida de cada um dos seus discípulos.
O que acontece não é uma troca de lugares, não é o Mestre que se faz discípulo e servo dos seus discípulos, mas uma acção exemplar que mostra qual deve ser a atitude dos discípulos frente aos outros, serviçal, ministerial, fautora de uma dignificação.
E esta atitude é por demais significativa na medida do paradoxo que a envolve, pois se Jesus insiste em lavar os pés, essa insistência processa-se com aquele que pouco depois vai negar a pertença que esse gesto humilhante do Mestre gera. É a Pedro que Jesus insiste em lavar os pés, a esse que o negará.
Neste sentido, não podemos deixar de ver no gesto de Jesus uma imagem do que foi a sua vida, a sua missão, o seu mistério de incarnação, afinal uma busca amorosa daqueles que apesar do seu amor são capazes de o negar, de dizer que não conhecem.
E por isso, quando mais tarde Jesus se encontra com Pedro nas margens do lago, lhe pergunta se o ama. Não porque duvidasse, mas para que Pedro se libertasse do remorso da negação, da culpa mortal da infidelidade. Uma vez mais Jesus vem servir o homem, vem libertar Pedro e cada um de nós dessa carga brutal que nos esmaga e que se chama culpa.
Perante estes gestos fica-nos o desafio do serviço ao próximo e aos irmãos, mas fica-nos sobretudo o desafio contra toda a certeza e a garantia, fica-nos o serviço amoroso junto daqueles que nos podem trair ou até já nos traíram, fica-nos o desafio da dignificação daqueles que por si ou pelos seus actos provocaram o descrédito e a desconfiança.
Afinal ninguém é mais que o seu Mestre, ninguém é maior que o seu Senhor, mas todos somos convidados a seguir o Mestre e o Senhor no seu exemplo e na sua proposta, a procurar aproximarmo-nos do que nos deixou como mandamento, “amai-vos uns aos outros como eu vos amei”.

1 comentário:

  1. Frei José Carlos,

    Na Meditação que partilha connosco, recorda-nos o gesto de Jesus com os discípulos na Quinta-feira Santa e o seu significado ...” não podemos deixar de ver no gesto de Jesus uma imagem do que foi a sua vida, a sua missão, o seu mistério de incarnação, afinal uma busca amorosa daqueles que apesar do seu amor são capazes de o negar, de dizer que não conhecem”…(…) e lembra-nos que
    ….“Uma vez mais Jesus vem servir o homem, vem libertar Pedro e cada um de nós dessa carga brutal que nos esmaga e que se chama culpa.”…
    Obrigada por nos salientar que …”Perante estes gestos fica-nos o desafio do serviço ao próximo e aos irmãos, mas fica-nos sobretudo o desafio contra toda a certeza e a garantia, fica-nos o serviço amoroso junto daqueles que nos podem trair ou até já nos traíram, fica-nos o desafio da dignificação daqueles que por si ou pelos seus actos provocaram o descrédito e a desconfiança.”…
    Bem haja, Frei José Carlos, pelo desafio que nos deixa para meditar, para viver no quotidiano, cientes da dificuldade da sua prática e do desejo sincero de transformação que implica …”todos somos convidados a seguir o Mestre e o Senhor no seu exemplo e na sua proposta, a procurar aproximarmo-nos do que nos deixou como mandamento, “amai-vos uns aos outros como eu vos amei”.”
    Obrigada pela partilha desta reflexão profunda, que nos leva a questionar-nos em permanência.
    Um abraço fraterno,
    Maria José Silva

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