No princípio / além do sentido / lá está o Verbo. Oh tesouro tão rico / onde princípio faz nascer princípio!
Oh coração do Pai / de onde em grande alegria / sem cessar flui o Verbo!
E contudo esse seio lá / em si guarda o Verbo. É verdade.
Dos dois um rio / de Amor o fogo / dos dois o laço / aos dois comum,
Flui o mui suave Espírito / em medida muito igual / inseparável.
Os três são Um.
O quê? Sabe-lo tu?
Não.
Só Ele sabe o que Ele é.
Dos três o anel / é profundo e terrível,
Esse contorno lá / jamais cessa ou cessará:
Lá reina um fundo sem fundo.
Leva vantagem sobre / tempo, forma e lugar!
O anel maravilhoso / é desbordante, / o seu ponto continua imóvel.
Este ponto é a montanha / a ascender sem agir. / Inteligência!
O caminho te conduz / ao maravilhoso deserto,
Ao largo, ao longe, / sem limites se alarga.
O deserto não tem / nem lugar nem tempo / tem o seu próprio modo.
Este deserto é o Bem / que nenhum pé pisou,
O sentido criado / jamais ali chegou:
Aquilo é, mas ninguém sabe o quê.
É aqui e é lá / é longe e é perto / é profundo e é elevado
É portanto o que não é isto nem aquilo.
É luz, é claridade / é a treva / é inominado / é ignorado,
Livre de começo como de fim.
Jaz tranquilamente / todo nu, sem roupa.
Quem conhece a sua casa, que saia dela!
E nos diga a sua forma.
Torna-te tal como uma criança / faz-te surdo e cego!
Todo o teu ser / deve fazer-se nada, passa para além de todo o ser e todo o nada.
Deixa o lugar, deixa o tempo / e as imagens igualmente!
Se tu vais por alguma via / sobre o caminho estreito / tu chegarás até ao sinal do deserto.
Oh minha alma / sai! Deus entra!
Afunda todo o meu ser / em Deus que é não ser, / afunda neste rio sem fundo!
Se eu te fujo / Tu vens até mim
Se eu me perco, Tu, eu Te encontro,
Oh Bem sobre essencial!
Frei José Carlos,
ResponderEliminarLi, reli, reflecti e voltarei a ler certamente noutros momentos o belo poema do Mestre Eckhart intitulado “Grão de mostarda”.
Só a poesia, para mim, uma outra forma de espiritualidade, permite expressar de forma tão profunda e simbólica o ser nada que somos à plenitude do Ser através do poder divino que dá sentido à vida. Simbolicamente expressa o conhecimento de Deus que brota do coração do ser humano.
Permita-me que cite duas das estrofes que me tocam particularmente.
.....
“Torna-te tal como uma criança / faz-te surdo e cego!
Todo o teu ser / deve fazer-se nada, passa para além de todo o ser e todo o nada.
Deixa o lugar, deixa o tempo / e as imagens igualmente!
Se tu vais por alguma via / sobre o caminho estreito / tu chegarás até ao sinal do deserto.
Oh minha alma / sai! Deus entra!
Afunda todo o meu ser / em Deus que é não ser, / afunda neste rio sem fundo!
Se eu te fujo / Tu vens até mim
Se eu me perco, Tu, eu Te encontro,
Oh Bem sobre essencial!”
Obrigada, Frei José Carlos, por partilhar connosco este belo e profundo poema. Bem haja.
Um abraço fraterno,
Maria José Silva