terça-feira, 10 de maio de 2011

Uma questão de pão? (Jo 6,30-35)

A história que São João nos conta no seu Evangelho sobre a questão do pão, depois de Jesus ter multiplicado os cinco pães para cinco mil pessoas, é desconcertante, paradoxal na visibilidade da falta de fé face aos sinais que se apresentam.
Assim, encontramos uma multidão que foi saciada, que pouco depois procurou nas margens do lago, entre travessias e caminhadas, esse mesmo Jesus que a tinha saciado e quando o encontra pede-lhe um sinal, um milagre ainda mais espectacular do que o que tinha realizado.
Homens de pouca fé? Ou homens fundamentados numa tradição religiosa que inviabiliza a abertura a novas realidades? Porque afinal o milagre de Jesus é comparado e confrontado com um outro facto extraordinário, a alimentação do povo no deserto e durante quarenta anos pelo maná.
Há assim a solicitação de um milagre que perdure no tempo, que supere o acontecimento extraordinário vivido pelo povo no deserto, mas também a manifestação da cegueira de um povo, de uma multidão que não quer ver que o maná descido do céu para a alimentação do povo era um dom de Deus e não do seu fundador patriarcal ou histórico Moisés.
Perante tal demanda Jesus é obrigado a colocar as coisas no devido sítio, a manifestar a preponderância de Deus e do seu dom num e noutro momento, porque o maná do deserto foi dom de Deus assim como o pão multiplicado e partilhado.
Mas mais importante ainda que esse pão e que o maná é a presença do Filho, o dom verdadeiro e total, o dom que se oferece descido do céu para alimentar todos aqueles que quiserem aproximar-se. Um dom de vida que sacia e sedenta.
Contudo, e face a tal dom, e à semelhança da samaritana, revela-se uma vez mais a preguiça do homem, a sua pouca força de vontade. Se a samaritana pede da água viva para não ter que voltar ao poço, esta multidão pede do pão que Jesus promete para não mais ter que o procurar, ter que trabalhar para ele. Tal como no deserto esta multidão espera e deseja que em cada manhã o pão se faça presente sem qualquer esforço ou trabalho.
Mas Jesus exige um esforço, exige um trabalho, que é o da adesão à sua pessoa, a sua busca e a fé em si, pois só dessa forma é possível ser alimentado e saciado pelo verdadeiro pão da vida. Não há alimento sem trabalho, sem essa caminhada e essa procura, sem uma adesão pessoal e incondicional.
Não podemos por isso deixar de pedir ao Senhor que nos alimente, mas sobretudo que nos alimente e fortaleça nessa busca de relação com Ele, nessa adesão pessoal e única que é possível estabelecer pela fé.

1 comentário:

  1. Frei José Carlos,

    No texto da partilha da Meditação ao recordar-nos o pedido a Jesus de um sinal pela multidão que na véspera tinha sido saciada por esse mesmo Jesus (Jo 6, 3-35) salienta-nos que subjacente a esta atitude está a “falta de fé destes homens, e a dificuldade dos mesmos estarem abertos a novas realidades”.
    ...” Perante tal demanda Jesus é obrigado a colocar as coisas no devido sítio, a manifestar a preponderância de Deus e do seu dom num e noutro momento”… (…)
    Porém, como também nos afirma “a presença do Filho, o dom verdadeiro e total, o dom que se oferece descido do céu para alimentar todos aqueles que quiserem aproximar-se” pressupõe de nós um compromisso.
    … “Jesus exige um esforço, exige um trabalho, que é o da adesão à sua pessoa, a sua busca e a fé em si, pois só dessa forma é possível ser alimentado e saciado pelo verdadeiro pão da vida”.
    Peçamos com o Frei José Carlos, “ao Senhor que nos alimente, mas sobretudo que nos alimente e fortaleça nessa busca de relação com Ele, nessa adesão pessoal e única que é possível estabelecer pela fé.”
    Obrigada por esta partilha profunda, que ilustrou com tanta beleza, que nos ajuda a esclarecer nas nossas reflexões, que nos exorta a acreditar que o verdadeiro pão é Jesus. Bem haja.
    Um abraço fraterno,
    Maria José Silva

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