Jesus prepara os seus discípulos para a partida e fala-lhes da morada que lhes vai preparar, uma morada para a qual eles sabem o caminho.
Tomé, o discípulo do espírito crítico, pergunta a Jesus pelo caminho, pois se não sabem sequer para onde vai como podem saber o caminho a tomar. “Senhor não sabemos para onde vais, como poderemos conhecer o caminho?”
Não podemos deixar de dizer, com toda a verdade, que Tomé é honesto na sua expressão, pois se durante bastante tempo o objectivo de Jesus era caminhar para Jerusalém, agora não sabem para onde Jesus vai, para onde quer ir, pois já estão na cidade de Jerusalém. Que saída é possível daquele lugar?
Depois, não podemos esquecer que a maior parte das vezes os discípulos, e inclusive Tomé, nunca compreenderam o que Jesus queria, do que Jesus lhes falava. E essa incompreensão e disparidade de critérios e objectivos era agora ainda maior, pois Jesus tinha-se posto a lavar os pés quando devia estar a presidir à mesa. Que esperar afinal daquele Mestre tão incompreensivelmente estranho? Que morada vai preparar?
Para cada um de nós a pergunta de Tomé continua formulada e em formulação, continua como um aguilhão a ferir-nos no caminho possível, no fim conhecido, e nos caminhos e metas que nos iludem e dispersam. Hoje sabemos para onde foi Jesus e qual o caminho que tomou, mas outros caminhos e lugares se nos atravessam com miragens muito mais prazenteiras e satisfatórias.
E para além destes caminhos que se nos atravessam tentadoramente, deparamos também com a neblina preguiçosa e egoísta que não nos deixa ver claramente o caminho, que se interpõe ao horizonte para onde caminhamos, que nos vai atrasando na caminhada distraindo-nos com as paisagens momentâneas.
Sabemos a meta e o caminho para lá chegar, mas como exige esforço, dedicação, empenho, confiança, esperança e amor vamo-nos deixando prender por aquelas metas cujos caminhos não são exigentes, por vezes até não implicam nenhuma exigência. É tudo tão mais fácil!
São João da Cruz diz que “para ir onde não se sabe deve-se passar por onde não se sabe”, ou seja, é necessário arriscar na aventura e no desconhecido, na esperança e na confiança, dando resposta ao convite de Jesus “não se perturbe o vosso coração”, “tende confiança eu venci o mundo”.
Inevitavelmente vamos de noite, tenteando na escuridão da nossa humanidade e em contraluz à revelação amorosa de Deus, mas só dessa forma nos poderemos um dia encontrar com a luz esplendorosa e iluminadora de todos os nossos esforços Jesus Cristo Caminho Verdade e Vida.
Frei José Carlos,
ResponderEliminarNa partilha do texto que escreveu para a Meditação que intitulou “Senhor não sabemos o caminho (Jo 14,5)” recorda-nos que ...” Para cada um de nós a pergunta de Tomé continua formulada e em formulação, continua como um aguilhão a ferir-nos no caminho possível, no fim conhecido, e nos caminhos e metas que nos iludem e dispersam.”…
Sabemos o Caminho ainda que muitas vezes andemos à procura desse caminho ou distraídos por outros percursos, mais cómodos, menos exigentes. Como nos diz no texto ...” Hoje sabemos para onde foi Jesus e qual o caminho que tomou, mas outros caminhos e lugares se nos atravessam com miragens muito mais prazenteiras e satisfatórias.” ... (…)
…”Sabemos a meta e o caminho para lá chegar, mas como exige esforço, dedicação, empenho, confiança, esperança e amor vamo-nos deixando prender por aquelas metas cujos caminhos não são exigentes, por vezes até não implicam nenhuma exigência.”…
Que o Senhor fortaleça a nossa fé, para que “tenteando na escuridão da nossa humanidade e em contraluz à revelação amorosa de Deus”, como nos lembra, perseveremos com confiança e esperança, na busca d’Aquele que é o Caminho, a Verdade e a Vida.
Obrigada, Frei José Carlos, pela partilha desta importante Meditação. Bem haja.
Um bom domingo.
Um abraço fraterno,
Maria José Silva
P.S. Ao meditar no que escrevera, recordei alguns dos poemas que o Frei José A Mourão nos deixou. Permita-me que transcreva um deles.
Do nevoeiro
tira-nos, Senhor,
da agitação dos desejos
e dá aos nossos olhos
o ar, a luz das coisas invisíveis;
tira-nos do nevoeiro, Deus,
ajuda a nossa vida a sair do desastre dos espelhos;
que por tuas mãos reencontremos o caminho da Sabedoria
que dá a cada tempo o seu peso,
a sua margem
(In, “O Nome e a Forma”, Pedra Angular, 2009)