Jesus viveu algum
tempo da sua vida em Cafarnaum e ali realizou alguns milagres significativos,
segundo nos contam os evangelistas.
Face a isto, não é de
estranhar que, ao vê-lo afastar-se, a multidão o tenha procurado e o tenha
tentado reter junto de si. Como não, se aquele homem tinha palavras que
despertavam o interesse, se tinha poder sobre os espíritos impuros e sobre as
doenças, se tinha uma autoridade até ali desconhecida.
Jesus tem contudo
consciência da sua missão e por isso não se deixa vencer pelas pressões, pelo
reconhecimento e agradecimento, e portanto não só lhes anuncia a necessidade de
partir como o faz imediatamente.
Por outro lado, Jesus
tem também consciência que aquela adesão, a sua procura, não é motivada pela
sua pessoa, por um desejo de fidelidade à palavra que ele lhes tinha anunciado.
Tal como no milagre da multiplicação dos pães, em que a multidão o procurou
para fazer rei por causa de ter sido saciada, também aqui a multidão o procura
e o quer reter pelos milagres operados, pela possibilidade de saúde para sempre.
A tentação desta
multidão, e da multidão que o procurou para fazer rei, é muitas vezes a nossa
tentação, pois queremos reter Jesus nas malhas da nossa fé e da nossa oração,
na busca de fidelidade, como se pudesse ser uma propriedade ou um serviço ao
nosso dispor.
Esta é de facto a
nossa grande tentação, querer ser donos e senhores de Deus, colocá-lo ao nosso
serviço, esquecendo-nos que em qualquer relação, e na relação com Deus também,
o desejo de propriedade, de apropriação, destrói a relação.
Deus é livre de vir
até nós e é livre também para nos deixar, para partir depois de nos despertar e
deixar com desejo de mais. Nesta liberdade, a nós cabe-nos a obrigação ou
tarefa de o esperar, de o desejar, como o povo de Israel esperou o Messias
prometido, e de o buscar e seguir depois de nos encontrarmos com ele.
Tal como Salomão
cantou no “Cântico dos Cânticos”, é atrás do seu perfume que devemos correr,
porque depois de se cruzar connosco Jesus não deixou de ter necessidade de se
cruzar com os outros, de despertar nos outros o mesmo desejo que despertou em
nós.
Ilustração: “Maria,
irmã de Lázaro encontra Jesus a caminho de casa”, de Nikolai Ge, Museus da
Russia.
Frei José Carlos,
ResponderEliminarQue importante recordar-nos que à semelhança daquela multidão ...” Esta é de facto a nossa grande tentação, querer ser donos e senhores de Deus, colocá-lo ao nosso serviço, esquecendo-nos que em qualquer relação, e na relação com Deus também, o desejo de propriedade, de apropriação, destrói a relação.”…
Como nos diz “Deus é livre de vir até nós e é livre também para nos deixar” cabe-nos a “a obrigação ou tarefa de o esperar, de o desejar, como o povo de Israel esperou o Messias prometido, e de o buscar e seguir depois de nos encontrarmos com ele.”
Jesus sabia que devia anunciar a Boa Nova do Reino de Deus em todos os lugares. A Sua missão era universal, destina-se a todos nós.
Precisamos ter a fé, a força e o entusiamo para sairmos do nosso conforto, deixar os nossos egoísmos para não desistir da busca incessante de Deus e depois do encontro ou reencontro prosseguirmos o seu seguimento, alimentarmos a chama da fidelidade.
Grata, Frei José Carlos, pela partilha do texto da Meditação, profunda, bela, por recordar-nos que ...” depois de se cruzar connosco Jesus não deixou de ter necessidade de se cruzar com os outros, de despertar nos outros o mesmo desejo que despertou em nós”.
Desejo ao Frei José Carlos que o Senhor o assista nos seus trabalhos, o guarde sempre onde quer que esteja, lhe conceda a paz, que a Sua Luz o encaminhe sempre, acolhendo e servindo com alegria todos aqueles com quem se cruza.
Desejo que tenha um bom dia.
Um abraço fraterno,
Maria José Silva