sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Os teus discípulos comem e bebem. (Lc 5,33)

As refeições do homem, com o que representam de arte da transformação dos alimentos e de oportunidade para a construção social e relacionamento pessoal, são uma das mais importantes instituições civilizacionais, um dos mais significativos mecanismos de geração de cultura.
A vida de Jesus, e de modo particular a vida pública que nos é dada a conhecer pelos Evangelhos, desenvolve-se também neste âmbito cultural das refeições e por isso desde o banquete das bodas de Caná até à última ceia encontramos diversos momentos significativos à volta da mesa e da alimentação.
Para além da crítica dos fariseus à forma como os discípulos se alimentavam sem os cuidados de higiene prescritos pela lei, Jesus assume também pessoalmente a acusação de ser considerado um comilão e um beberão.
Acusação que aparece em contraste com a vida de austeridade de João Baptista, e na sequência de Jesus aceitar os convites que lhe eram dirigidos, como no caso de Zaqueu que o convidou para sua casa.
Contudo, estes momentos foram para Jesus uma oportunidade única de diálogo, de enunciação de ensinamento para os seus discípulos e para aqueles que o convidavam e acolhiam. Em casa de Marta e Maria tratou do que era verdadeiramente importante face à sua presença e na casa de Simão alertou para a atenção que lhe era devida e não tinha sido tida pelo dono da casa.
As refeições de Jesus aparecem-nos assim como um momento privilegiado para a revelação do convite dirigido ao homem para a participação no banquete eterno, no banquete preparado por Deus para todos os homens. Todos estamos convidados a comer e a beber do que Deus preparou para a humanidade.
Necessitamos por isso acolher o convite, e preparar-nos com o traje nupcial que resulta das oportunidades de sermos também alimento e bebida para os nossos irmãos no seu peregrinar. Os discípulos de Jesus devem comer e beber, devem dar-se em alimento uns aos outros, fazer-se pão para todos à semelhança do Pão da Vida.
 
Ilustração: “As Bodas de Caná”, de Bartolome Murillo, Barber Institute of Fine Artes, Inglaterra.

1 comentário:

  1. Frei José Carlos,

    O texto da Meditação que teceu e partilha é profundo e belo. Como nos recorda a vida pública de Jesus desenvolve-se no âmbito cultural das refeições (...). E passo a citá-lo ...”estes momentos foram para Jesus uma oportunidade única de diálogo, de enunciação, de ensinamento para os seus discípulos e para aqueles que o convidavam e acolhiam.” …
    E, “Todos estamos convidados a comer e a beber do que Deus preparou para a humanidade”, como nos afirma, mas a participação no banquete pressupõe que “acolhemos o convite e que no nosso peregrinar, em todas as oportunidades, somos também alimento e bebida para os nossos irmãos”, como nos exorta.
    Obrigada, Frei José Carlos, pelas palavras partilhadas, pelo incentivo, pela força que nos dá para continuar a Caminhada ao dizer-nos que …”a participação no banquete eterno, no banquete preparado por Deus para todos os homens”, está ao nosso alcance.
    Que o Senhor o ilumine, o abençõe e o guarde.
    Desejo ao Frei José Carlos um bom fim de semana, de paz e alegria.
    Um abraço fraterno,
    Maria José Silva

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