No seguimento da divulgação da
Carta que frei Francisco Rendeiro escreveu ao Superior frei Tomás Videira em
defesa da Escola Apostólica em Aldeia Nova no ano de 1943, aquando da sua
instalação, apresentamos uma outra Carta de frei Francisco Rendeiro em defesa
também da Escola Apostólica em Aldeia Nova, desta feita em 1947.
Uma vez mais se testemunha a
defesa da Escola Apostólica, graças à qual pôde sobreviver ao desaire que de
facto se veio a verificar no Colégio Gil Vicente.
23 de Janeiro de 1947
Reverendíssimo Senhor Padre Tomás
Videira
Acabo de receber a carta de Vossa
Reverência que muito agradeço. Como por ela depreendo que Vossa Reverência está
resolvido a hipotecar o que nós temos em Aldeia Nova para contrair um
empréstimo para o Colégio Gil Vicente e até já deu ordem para que me fossem
remetidos os impressos para proceder a essa hipoteca, venho dizer a Vossa
Reverência o que em consciência julgo dever dizer-lhe. Falei no caso aos Padres
que aqui estão (Padre Estêvão e Padre Clemente) que são do mesmo parecer que eu
e me aconselharam a que escrevesse a Vossa Reverência e prontificaram-se mesmo
a assinar a carta.
Vossa Reverência nunca me pediu o
meu conselho sobre este assunto, nem tinha que o pedir; apenas me comunicou o
que resolvera. Mas permita-me que lhe fale com toda a franqueza. Acho muito
arriscado o que Vossa Reverência vai fazer e tenho escrúpulos de consciência em
fazer o que Vossa Reverência me pede.
Hipotecar a única coisa que temos
para obter dinheiro para uma obra que não é nossa e cujo futuro é tão incerto,
é expormo-nos a ter que vir amanhã para a rua, ficando sem dinheiro e sem casa (o
que se poderia dar muito bem no caso de um fracasso do Colégio). Tenha a
certeza de que o Padre Geral não aprova o Colégio da maneira como as coisas
estão feitas; e porque se não há-de esperar então que ele venha para adiantar
essas coisas? Se se tratasse de hipotecar isto para comprar melhor no Porto ou
em qualquer outro sítio era outra coisa.
Estou convencido de que Vossa
Reverência vê bem o que eu digo, mas vê também o adiantamento que tomaram as coisas
do Colégio e não ousa arrepiar caminho. Ora não valerá mais um desgosto agora
que outro muito pior mais tarde? Lembre-se Senhor Padre Tomás que no Colégio há
uma sociedade e que a nossa cota fica em nome de um religioso e
que não sabemos o que dará uma obra na qual em verdade temos tão pouca parte
(apenas um Padre que está a fazer o papel de um Ecónomo).
Oxalá que eu me engane, mas
receio muito que nos estejamos a encravar.
Longe de mim o querer desobedecer
e por isso se Vossa Reverência manda faço-o. Ignoro a opinião dos Padre daí a
tal respeito – os de cá (pelo menos os que acima enumero e são todos os que
estão agora em casa) são de parecer contrário. Repugna-me em consciência fazer
uma coisa cujos resultados me parecem tão fuscos sem saber se o Padre Geral
está informado da verdadeira situação. Achamos todos muito boa a ideia do
Colégio mas de maneira nenhuma como se está a fazer.
Vossa Reverência desculpará a
liberdade com que lhe falo e fará como entender. O que eu pretendo é tão somente
que amanhã se se reconhecer que foi um erro não se possa dizer que ninguém o
viu e ninguém o procurou fazer ver ao Superior. E se tiver sido um passo
acertado não ficaremos com remorsos por termos nós errado.
Creia-me sempre súbdito obediente
em São Domingos.
Frei Francisco Rendeiro
Assinaram também os Padres Estêvão e Clemente. O Padre Lourenço,
ausente em Fátima, quando teve conhecimento aprovou plenamente esta carta e
disse que ia telegrafar no mesmo sentido.
PS. Acabo de receber a papelada,
mas nada farei sem ordem renovada de Vossa Reverência e muito estimaria que
tivesse connosco um entendimento oral.
Ilustração: Rosto da Carta de
frei Francisco Rendeiro para o frei Tomás Videira.
Frei José Carlos,
ResponderEliminarQuando leio a “Nova Carta de Frei Franscisco Rendeiro defendo a Escola Apostólica de Aldeia Nova” que publicou, fico a apreciar a franqueza, a coragem com que ousava assumir uma posição contrária a um superior mas simultaneamente a disponibilidade para o entendimento.
Obrigada, Frei José Carlos, pela partilha. Bem-haja.
Um abraço fraterno,
Maria José Silva