terça-feira, 4 de setembro de 2012

Eu sei quem tu és, o Santo de Deus. (Lc 4,34)

Tal como acontece na vida de qualquer um de nós, também na vida de Jesus se deram encontros frutíferos e outros nem tanto, encontros agradáveis e outros menos simpáticos.
Pela narração dos Evangelhos percebemos que muitas vezes a ineficácia do encontro, o desencontro entre Jesus e os seus interlocutores, se ficou a dever ao facto de conhecerem a sua origem. Tanto os fariseus, como os habitantes da sua Nazaré, sabiam que era filho de José, conheciam a sua família, a sua procedência e a sua profissão.
Por causa deste conhecimento esbarraram frequentemente na palavra de Jesus, foram incapazes de ver para além do conhecido e do imediato, foram incapazes de ver o Filho de Deus que se lhes apresentava sob as roupagens do jovem carpinteiro. Foram mesmo incapazes de ler e interpretar os sinais extraordinários que lhes manifestava a origem divina daquele que se encontrava diante deles.
O encontro de Jesus, na sinagoga de Cafarnaum, com o homem que tinha um espirito impuro, mostra-nos a diferença de conhecimento, a possibilidade do reconhecimento divino por parte daqueles que não olham ao exterior mas ao interior.
O espirito impuro perante a pessoa de Jesus, e consequentemente perante o Filho de Deus, revela o conhecimento que possui, revela aos outros quem de facto têm diante de si. O espirito impuro não olha ao visível mas ao invisível, àquela realidade que como espirito podia conhecer. “Eu sei quem tu és, o Santo de Deus.”
A revelação e a denúncia do espirito impuro não se fica pelo banal, pelo acessório ou secundário, mas vai ao que verdadeiramente interessa e reconhece, o Santo de Deus. Aquilo que aos homens era impossível ver o espirito impuro é capaz de ver.
Num outro momento, quando Pedro confessa que aquele Jesus que o interroga é o Santo de Deus, Jesus diz-lhe que não foram a carne e o sangue que lhe deram aquele conhecimento mas o Espirito de Deus. Uma vez mais a confirmação que o acesso à santidade de Deus, ao seu ser mais essencial, não pode ser alcançado por força humana nem capacidades intelectuais, mas apenas por dom da graça.
Neste sentido, o nosso conhecimento de Jesus, a nossa relação de intimidade e amizade com ele, deve progredir cada vez mais do superficial e acessório para o fundamental e profundo. No mistério da Encarnação, na pessoa de Jesus de Nazaré, somos convidados a encontrar-nos com o Filho e o Santo de Deus, a santidade divina que veio ao nosso encontro.
Para tal necessitamos pedir o Espirito de Deus, pedir que o Espirito Santo venha até nós e ilumine o nosso coração para conhecermos e reconhecermos as graças de Deus, pois tal como São Paulo diz na Primeira Carta aos Coríntios, “ninguém conhece o que há em Deus senão o mesmo Espirito de Deus”.

Ilustração: “Quem é de Deus escuta a palavra de Deus”, de James Tissot, Brooklyn Museum.

1 comentário:

  1. Frei José Carlos,

    Como nos recorda, muitas vezes, o “desencontro entre Jesus e os seus interlocutores”, quer para os fariseus quer para os habitantes de Nazaré, resultava do conhecimento da sua origem que os impedia de reconhecer a origem divina de Jesus. Porém, o conhecimento e a proximidade da realidade humana, a capacidade de transformá-la, a simplicidade e simultaneamente a profundidade e radicalidade das palavras de Jesus, apelando à dignidade humana, à justiça, à paz, assim como a humildade, a ausência de interesses pessoais de Jesus, deixaram sempre o poder, as classes instaladas, inquietas, pondo em causa o sistema religioso estabelecido.
    Como nos afirma, Frei José Carlos, ...” O espirito impuro perante a pessoa de Jesus, e consequentemente perante o Filho de Deus, revela o conhecimento que possui, revela aos outros quem de facto têm diante de si. O espirito impuro não olha ao visível mas ao invisível, àquela realidade que como espirito podia conhecer. “Eu sei quem tu és, o Santo de Deus.””…
    Como nos recomenda, …”necessitamos pedir o Espirito de Deus, pedir que o Espirito Santo venha até nós e ilumine o nosso coração para conhecermos e reconhecermos as graças de Deus, pois tal como São Paulo diz na Primeira Carta aos Coríntios, “ninguém conhece o que há em Deus senão o mesmo Espirito de Deus””.
    Grata, Frei José Carlos, pelas palavras partilhadas, profundas, por salientar-nos …”que o acesso à santidade de Deus, ao seu ser mais essencial, não pode ser alcançado por força humana nem capacidades intelectuais, mas apenas por dom da graça”. …
    Que a Luz do Senhor nos ilumine sempre, particularmente, quando no nosso peregrinar as paredes do caminho se desmonoram, quando saímos num espaço aberto, onde precisamos recomeçar o caminho para o encontro profundo com Jesus Cristo.
    Que o Senhor abençoe e proteja o Frei José Carlos,
    Bom descanso.
    Um abraço fraterno,
    Maria José Silva

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