“Nos cinco talentos,
nos dois, e no um, só devemos entender, ou as diversas graças que a cada um
foram confiadas, ou então que no primeiro se examinam os sentidos, no segundo a
inteligência e as obras, e no terceiro a razão, que é pela qual nos
diferenciamos dos animais.”
É desta forma que São
Jerónimo no seu Comentário ao Evangelho de São Mateus, Livro IV, interpreta a
parábola dos talentos e da distribuição diferenciada a cada um dos servos.
Uma interpretação
interessante, na medida em que pelos cinco talentos, que correspondem aos sentidos
corporais, contemplando as obras da natureza, podemos conhecer e apreciar a
obra da criação de Deus, e portanto valorizar e enriquecer a nossa própria
realidade humana e divina com o gozo dessa obra.
Os dois talentos, que
correspondem à inteligência e às obras, na medida em que permitem uma relação
construtiva e alterante das realidades em que estamos envolvidos, são chamadas
também a produzir-se e a multiplicar-se. De certa forma é a resposta à
recomendação de Deus no momento da criação, quando diz ao homem que cresça e
domine a terra.
Um domínio que não
podemos deixar de assumir que deve ser equilibrado, racional, justo, porque é
um outro dom, um outro património do qual todos, e cada um, somos apenas
usufrutuários, e portanto temos o dever de o deixar se não melhor do que o
encontrámos pelo menos como o encontrámos.
O talento único é a
razão, o talento que mais nos aproxima de Deus e portanto aquele que mais exige
um cuidado na sua administração. Sendo a razão que nos diferencia dos animais,
deveria também elevar-nos a um outro patamar de relações interpessoais e com
Deus. Infelizmente parece que funciona ao contrário e serve muitas vezes apenas
para humilhar o nosso próximo ou para nos afastar de Deus na medida no nosso
racionalismo auto-suficiente.
Necessitamos por isso
assumir que são muitos os talentos que o Senhor nos concede, que os devemos
fazer crescer e multiplicar-se, e que o produto final da rentabilização será maior
na medida em que todos nos levam ao encontro com o Senhor, com um proprietário que
colhe onde não semeia, mas que deseja o retorno do entregue na plenitude da
nossa própria realização.
Ilustração: “São
Jerónimo no seu estudo”, de Caravággio, Galeria Borghese, Roma.
Frei José Carlos,
ResponderEliminarBem-haja pela partilha da interpretação da parábola dos talentos segundo São Mateus introduzida pelo Comentário de São Jerónimo. Muitas vezes a interpretação das parábolas para o leigo não é fácil como é o caso da parábola dos talentos. A interpretação que partilha é muito interessante e enriquecedora e como nos afirma ...” Necessitamos por isso assumir que são muitos os talentos que o Senhor nos concede, que os devemos fazer crescer e multiplicar-se, e que o produto final da rentabilização será maior na medida em que todos nos levam ao encontro com o Senhor, com um proprietário que colhe onde não semeia, mas que deseja o retorno do entregue na plenitude da nossa própria realização.”
Grata, Frei José Carlos, pelas palavras partilhadas, por recordar-nos a responsabilidade que temos na administração com sabedoria dos dons e talentos que o Senhor nos concede em graça, na partilha generosa dos frutos com o nosso próximo e do “dom de nós próprios com os outros”.
Votos de um bom domingo.
Bom descanso.
Um abraço fraterno,
Maria José Silva