Quando Jesus chega a Cafarnaum alguns membros importantes da
comunidade dirigem-se a ele para lhe solicitar ajuda para um servo que estava
doente e pertencia ao centurião. Justificando o pedido, pois afinal o centurião
é um pagão, dizem-lhe que o homem ama o povo e lhes construiu a sinagoga, pelo
que é digno de toda a consideração por parte de Jesus.
Encontra-se Jesus já a caminho da casa do centurião, quando ao seu
encontro vem um outro grupo, um conjunto de amigos, para lhe dizer que o
centurião não se acha digno da sua visita e por isso mesmo nem se dirigiu a ele
pessoalmente.
Apesar disso, desse sentimento de falta de dignidade, o centurião continua
a confiar e a esperar a salvação do seu servo. Aliás, manifesta uma confiança
na palavra de Jesus, no seu poder, que acredita que mesmo sem entrar em sua
casa o Mestre pode curar o servo.
Habitualmente, e assim o texto evangélico nos orienta pelas próprias
palavras de Jesus, ficamos focados na fé daquele homem, daquele pagão que
acredita mais no poder de Jesus que aqueles que o acompanham e aos quais foi
enviado.
Contudo, não podemos deixar de constatar a diferença que se encontra
entre a consideração de uns e a consciência do próprio. Enquanto que os anciãos
consideram o centurião uma pessoa digna, por aquilo que lhes fez, o próprio
centurião não se considera digno da visita de Jesus, da entrada na sua casa.
Para os anciãos de Cafarnaum a dignidade e o valor daquele homem
assentava no que lhes tinha feito e proporcionado, na forma como os tratava. Era
de certa forma o exterior, o visível, que autorizava e garantia a dignidade.
Pelo contrário, para o centurião as acções não eram significativas,
Jesus não necessitava deslocar-se a sua casa, porque a palavra e o seu poder
eram capazes de operar a cura necessária. E neste sentido, o centurião
manifesta uma fé que não necessita do visível, da acção directa de Jesus.
Estamos assim perante uma situação em que percebemos que a fé é uma dinâmica
interior, um processo que provoca movimento sem necessidade de méritos, de
compensações exteriores, os quais a maior parte das vezes imobilizam mais que
activam.
Percebemos também nesta situação que a fé em Jesus é sempre
acompanhada de um processo de conversão, de um reconhecimento de indignidade
que é impossível ultrapassar sem a palavra salvadora e libertadora de Jesus. A nossa
cura, a vinda de Jesus à nossa casa, começa no exacto momento em que nos
reconhecemos indignos dessa mesma vinda.
Ilustração: “Centurião de Cafarnaum diante de Jesus”, desenho de
Jean-Baptiste Jouvenet.
Frei José Carlos,
ResponderEliminarAo recordar-nos o Evangelho do dia, falando-nos da forma como se desenrola o pedido do centurião a Jesus para a cura de um servo, salienta-nos que …” Estamos assim perante uma situação em que percebemos que a fé é uma dinâmica interior, um processo que provoca movimento sem necessidade de méritos, de compensações exteriores, os quais a maior parte das vezes imobilizam mais que activam (…) e que a fé em Jesus é sempre acompanhada de um processo de conversão, de um reconhecimento de indignidade que é impossível ultrapassar sem a palavra salvadora e libertadora de Jesus.”…
A indignidade do centurião e a fé que tinha no poder da Palavra de Jesus para que o servo ficasse curado transmitidas por um grupo de amigos a Jesus: «Não te incomodes, Senhor, pois não sou digno de que entres debaixo do meu tecto, pelo que nem me julguei digno de ir ter contigo. Mas diz uma só palavra e o meu servo será curado”, é a mesma oração que repetimos antes da sagrada comunhão. Como Frei José Carlos nos afirma …” A nossa cura, a vinda de Jesus à nossa casa, começa no exacto momento em que nos reconhecemos indignos dessa mesma vinda.”
No nosso peregrinar, peçamos a Deus que nos reforce a fé e nos liberte o coração do orgulho, dos preconceitos, das ambições, para que possamos acolher o Senhor, pelos dons gratuitos e pelo amor.
Grata, Frei José Carlos, pela partilha da Meditação, profunda, que ilustrou de forma tão bela. Que o Senhor o abençõe e o guarde, e receba a Sua graça e amor.
Bom descanso.
Um abraço fraterno,
Maria José Silva
P.S. Permita-me, Frei José Carlos, que partilhe o texto de uma oração.
OS ANOS
LECTIVOS QUE
COMEÇAM
Gosto de pensar, Senhor, que não são apenas os anos lectivos que começam, mas somos nós. É dentro da nossa vida que conjugamos começos e recomeços, reencontros e descobertas... É dentro da nossa
vida que as folhas são mais brancas, essas folhas onde anualmente escrevemos “lição nº.1”. A aventura do saber faz sentido se ajuda, se interroga, se aprofunda a nossa maior aventura que é aquela do ser.
(In, Um Deus Que Dança, Itinerários para a Oração, José Tolentino Mendonça, 2011)