sábado, 8 de setembro de 2012

Natividade da Virgem Santa Maria

Não encontramos nos Evangelhos nenhuma referência, nenhuma menção, ao acontecimento que hoje celebramos, o nascimento da Virgem de Nazaré, da Mãe do Salvador, Maria.
Mas se a Igreja desde cedo começou a comemorar e a celebrar festivamente este acontecimento, que certamente não se distingue por nada de excepcional, de maravilhoso, de outros nascimentos, é porque ele se insere num quadro de normalidade, de quotidiano da vida humana, do qual se desprende um sentido novo, uma profundidade e luminosidade que alteram o mesmo quotidiano e normalidade.
Se olharmos para as representações iconográficas que a devoção e a arte construíram não vemos mais que uma mulher que acabou de dar à luz uma criança, uma mulher que a tradição baptizou de Ana, e casou com um homem prudente e fiel chamado Joaquim.
À volta da mãe, um conjunto de mulheres que cumprem os rituais normais de qualquer nascimento tratando da higiene da criança e do fortalecimento da mãe. Um acontecimento perfeitamente normal e sem nada mais de extraordinário.
Contudo, este acontecimento normal, que a tradição e a Igreja assumiram, transporta-nos para a beleza e o extraordinário do nascimento de todo e qualquer ser humano. Cada vida é um milagre, e um milagre que altera o quotidiano, pois representa um começo, a oportunidade de algo único, irrepetível, inimitável, a possibilidade de uma pessoa destinada à plenitude.
Na festividade da natividade da Virgem Maria nós sabemos já o que representou esta criança e esta vinda ao mundo, a maternidade do Filho de Deus, pois aquela cujo nascimento comemoramos hoje vai aceitar ser mãe do Salvador, colaborar na obra de Deus.
Neste sentido, esta festa é também a comemoração de todos os nascimentos, de todas as vindas à vida e ao mundo dos homens, pois em cada um se abre a possibilidade da mesma colaboração com Deus, a mesma participação no projecto salvador, e de cada vez como se fosse a primeira vez.
A festa da natividade da Virgem Maria é assim a festa de toda a humanidade, de todos os homens e mulheres enquanto possibilidade de uma realização única, de uma resposta pessoal e intransmissível a Deus.
Procuremos pois festejar este nascimento como sendo o nosso e compenetrar-nos do que nos falta ainda para que à semelhança de Maria de Nazaré o nosso nascimento e a nossa vida sejam uma via para vinda do Filho de Deus ao nosso mundo e à história dos homens.
 
Ilustração: “Nascimento da Virgem Maria”, de Francisco de Zurbarán, Museu Norton Simon, Pasadena, Califórnia.

1 comentário:

  1. Frei José Carlos,

    Como nos recorda, celebramos hoje o nascimento de uma criança que é Maria e Mãe de Jesus, e como a obra de Deus está entrelaçada na história humana.
    Como nos salienta, ... “este acontecimento normal, que a tradição e a Igreja assumiram, transporta-nos para a beleza e o extraordinário do nascimento de todo e qualquer ser humano. Cada vida é um milagre, e um milagre que altera o quotidiano, pois representa um começo, a oportunidade de algo único, irrepetível, inimitável, a possibilidade de uma pessoa destinada à plenitude.”…
    Grata, Frei José Carlos, pela partilha da Meditação, profunda e muito bela, por nos enfatizar que …” A festa da natividade da Virgem Maria é assim a festa de toda a humanidade, de todos os homens e mulheres enquanto possibilidade de uma realização única, de uma resposta pessoal e intransmissível a Deus.”
    Que o Senhor o ilumine, o abençõe e o guarde.
    Bom descanso.
    Um abraço fraterno,
    Maria José Silva


    P.S. Permita-me, Frei José Carlos, que partilhe um poema citado por Frei José Augusto Mourão, OP.

    Misericordiosa


    misericordiosa/Senhora das tormentas/que confias na treva/e não temeste a morte/roga a Deus por nós, Maria//

    Senhora do Sim/mesmo em frente à Cruz/rosa em sangue que moves/para um mundo aberto//

    ó fonte de milagres/passagem de pujança/que anuncias os sons/da paz que nos molha os pés/porta de onde o Céu nos vem//

    ó Maria, Mãe/flor aberta, irmã/que em Deus foi bordada/roga a Ele por nós, Mãe//

    Senhora que não fala/nem dá regras de vida/só põe no colo a Mãe/só olha o que falta ao ser/roga por nós, Maria//

    flor azul do mar/cais de embarque, flor/que perfuma o beiral do céu/bênção de Deus, doçura//

    texto para uma música islandesa de
    Atli Heimir Sveisson (1938)
    (In, “O Nome e a Forma”, Pedra Angular, 2009)

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