Jesus disse que quem
não se fizesse como uma criança não entraria no Reino dos Céus. Contudo, ao
comparar os seus contemporâneos como crianças está a colocar a atenção no lado
oposto do ser criança, naquilo que poderíamos apelidar da perversão da criança.
De facto, Jesus
compara os seus contemporâneos a crianças insatisfeitas, pois cantaram para
elas e não dançaram, entoaram lamentações e não choraram. No entanto, mais que
a insatisfação, o que verdadeiramente acontece é um bloqueio, uma recusa
liminar ao que se faz e oferece, o que não permite sequer a satisfação ou
insatisfação.
Os contemporâneos de
Jesus não foram capazes de acolher João Baptista que se apresentava com um
convite à conversão através da ascese de vida, e terminaram mesmo por o
criticar e condenar. Jesus, que actuava de forma diferente, foi também alvo das
mesmas críticas, ainda que as realidades e os modos de agir fossem diferentes.
De facto não estava em
questão o objecto ou a pessoa, mas o acolhimento, a capacidade de estar disponível
para algo diferente, para uma novidade. E tal não aconteceu.
Ao apresentar as
crianças como possibilidade de entrada no Reino dos Céus, Jesus convida-nos a
acolhimento, à atitude da criança que é curiosa, que quer saber, que está disponível
para experiências novas.
E esta atitude é
extremamente importante, podemos dizer que é mesmo a chave do nosso ser
cristãos, que aparece já patente no prólogo do Evangelho de São João quando diz
“que a todos aqueles que o acolheram lhes deu o poder de se tornarem filhos de
Deus”.
Deus oferece-se-nos e
cabe-nos a nós acolhê-lo ou rejeitá-lo. Deus deixa-nos a liberdade de o poder
fazer, e de o podermos fazer em cada dia, em cada momento, em cada ocasião que
se nos proporciona um acolhimento, seja da palavra, seja do outro, seja até da
dor ou a morte.
Ilustração: “Troika”,
de Andrey Andreevich Popov, Museu Rybinsk, Russia.
Frei José Carlos,
ResponderEliminarComo nos salienta ...” Os contemporâneos de Jesus não foram capazes de acolher João Baptista que se apresentava com um convite à conversão através da ascese de vida, e terminaram mesmo por o criticar e condenar. Jesus, que actuava de forma diferente, foi também alvo das mesmas críticas, ainda que as realidades e os modos de agir fossem diferentes. (…)
(…) Deus oferece-se-nos e cabe-nos a nós acolhê-lo ou rejeitá-lo. Deus deixa-nos a liberdade de o poder fazer, e de o podermos fazer em cada dia, em cada momento, em cada ocasião que se nos proporciona um acolhimento, seja da palavra, seja do outro, seja até da dor ou a morte.”…
Peçamos ao Senhor que liberte o nosso coração da ambição, do poder, do orgulho, dos preconceitos, de um coração semelhante aos contemporâneos de Jesus. Dai-nos um coração simples, aberto e disponível, como o das crianças prontas para a aventura, para acolher a surpresa, para encontrarmos os caminhos a percorrer, os projectos a que somos chamados a participar na construção do Reino de Deus.
Grata, Frei José Carlos, pela partilha da Meditação que nos desinstala, fazendo-nos auto-examinarmo-nos para libertar-nos do que em alguns de nós permanece à semelhança dos fariseus e dos doutores da Lei e que carece de eliminação, aperfeiçoamento.
Que o Senhor o ilmunine, o abençoe e o guarde.
Bom descanso.
Um abraço fraterno,
Maria José Silva
P.S. Permita-me, Frei José Carlos, que partilhe de novo um poema de Frei José Augusto Mourão, OP
caminho, verdade e vida
Deus, tu és o Caminho, a Verdade e a Vida/que se dão as mãos/porque a verdade do caminho é a vida que a tece/e a engloba, aberta/e é a polifonia da ternura que acorda os caminhos/e age e cura a vida//
tu és o caminho que precede todos os caminhos,/a visitação do corpo/no que o corpo esquece,/o nunca visto da paz e da alegria//
dá a este corpo que o teu dom reúne/um instante de fome e de aflição/para que deste tempo-fora-do tempo/se erga a verdade dos caminhos/da nossa vida e do nosso louvor,/Deus que vens em Jesus Cristo/e no Espírito que nos ensina a rezar.//
(In, “O nome e a Forma”, Pedra Angular, 2009)