quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Digo a vós que me escutais. (Lc 6,27)

É a seguir ao momento da eleição dos doze Apóstolos e do encontro destes e de Jesus com a multidão vinda de todas as partes, que São Lucas nos apresenta o discurso das Bem-Aventuranças e da chamada “regra de ouro”, ou seja, o mandamento do amor aos inimigos e de fazer o bem sem nada esperar em troca.
Neste contexto poderíamos dizer que se trata do programa de vida daqueles que Jesus escolheu, um programa de vida de forma a poderem cooperar com a missão a que tinham sido associados por Jesus.
Contudo, não podemos também deixar de assumir que desde o primeiro momento e até hoje, até à experiência de cada um de nós, este programa esbarrou e esbarra nos limites da nossa condição humana, nas nossas fragilidades e desejos de poder ou propriedade.
Por esta razão, e também ao longo da história e da nossa história pessoal, nos acusamos e nos acusam de estarmos a viver de uma forma contraditória este mesmo programa, ou de não o estarmos a viver ou termos vivido.
Tal crítica e tal condenação resulta do facto de concebermos e conceber-se este programa de vida como um programa político ou social, como um manifesto revolucionário que alterará completamente a sociedade e a forma como ela está organizada.
No entanto, para que tal aconteça temos que partir da dinâmica que está intrínseca ao programa que Jesus estabelece, porque se deve acontecer uma revolução política ou social é na sequência da revolução pessoal e interior que deve ocorrer antes de mais.
De facto Jesus não deixou um programa político, mas um programa de conversão, um processo de desenvolvimento interior que garante o acesso à liberdade de filhos de Deus, e consequentemente à construção do Reino de Deus. Não é bons políticos ou bons administradores sociais que Jesus nos convida a ser, mas misericordiosos como o Pai é misericordioso.
E neste sentido as nossas falhas e debilidades, as nossas misérias, são um potencial acrescentado a este processo, pois dão-nos a dimensão da misericórdia que podemos e devemos viver, uma vez que as faltas do outro e o perdão possível são também as minhas faltas e o perdão que espero.
Jesus diz-nos hoje, como disse naquele dia aos seus discípulos, que há um caminho a trilhar, uma conversão a operar, e na medida em que a tentarmos viver nas nossas limitações e na confiança da acção de Deus, estamos a revolucionar o mundo, a fazer um mundo melhor com o que de melhor temos.
Escutemos a voz de Jesus que nos convida e alenta.
 
Ilustração: “Rosto de Cristo”, de Nikolai Andreevich Koshelev. Russia

1 comentário:

  1. Frei José Carlos,

    O Evangelho do dia (Lc 6, 27-38) e o texto da Meditação que teceu e partilha são de uma grande espiritualidade e importância no nosso peregrinar. “Amai os vossos inimigos”. Como o Frei José Carlos nos afirma …” São Lucas apresenta-nos o discurso das Bem-Aventuranças e da chamada “regra de ouro”, ou seja, o mandamento do amor aos inimigos e de fazer o bem sem nada esperar em troca.”…
    Como nos salienta a “revolução pessoal e interior” deve ocorrer antes de mais, …”De facto, Jesus não deixou um programa político, mas um programa de conversão, um processo de desenvolvimento interior que garante o acesso à liberdade de filhos de Deus, e consequentemente à construção do Reino de Deus.”….
    Bem-haja, por recordar-nos que …” Jesus diz-nos hoje, como disse naquele dia aos seus discípulos, que há um caminho a trilhar, uma conversão a operar, e na medida em que a tentarmos viver nas nossas limitações e na confiança da acção de Deus, estamos a revolucionar o mundo, a fazer um mundo melhor com o que de melhor temos.”…
    Grata, Frei José Carlos, pelas palavras partilhadas, profundas, que nos ajudam nas nossas reflexões, por exortar-nos a ser misericordiosos como o Pai é misericordioso e a que “Escutemos a voz de Jesus que nos convida e alenta.”
    Que o Senhor o ilumine, o abençoe e o proteja.
    Um abraço fraterno,
    Maria José Silva

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