segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Poderei dizer a mim mesmo (Lc 12,19)

A parábola que Jesus conta sobre a avareza é verdadeiramente impressionante, pois o homem cuja colheita foi abundante não tem culpa disso e o mais natural é que aumente os seus celeiros para poder recolher a produção.
No âmbito da cultura semita a produção, e uma excelente produção, era uma manifestação da bênção de Deus. Os rebanhos que se multiplicavam, os frutos que cresciam, os negócios que prosperavam eram um sinal da presença de Deus, da sua protecção e auxílio, um sinal também da fidelidade dessa mesma pessoa a Deus.
Contudo, tudo isto, a bênção de Deus, torna-se condenação quando como o homem da parábola não há o reconhecimento do outro, que pode precisar e com quem podemos partilhar.
A bênção de Deus é sempre um dom e um meio para a frutificação, para a realização da salvação do outro e com o outro. Não podemos por isso encerrar-nos na nossa individualidade, no nosso egoísmo, assumindo o outro num duplo de nós próprios com quem falamos como fala o homem da parábola.
Não poderemos dizer a nós próprios, como acontece na parábola, porque a bênção de Deus, os dons e as riquezas, são para dizer ao outro, para manifestar ao outro a graça e o amor de Deus, para o despertar para essa bênção se tal for necessário.
Por isso a grande questão na hora da morte, para quem serão os bens que acumulastes? Porque não te enriquecestes aos olhos de Deus enriquecendo os teus irmãos, partilhando com eles a mesma bênção que tinhas recebido?
Afinal, é esse o fim de todos os dons de Deus, de todas as riquezas materiais ou espirituais que nos chegam, servirem de meio e possibilidade para o encontro dos outros com Deus que abençoa e enriquece.
Devemos por isso aproveitar todas as oportunidades, todas as realidades, todos os nossos dons e bênçãos, para proporcionar o encontro e a multiplicação da bênção de Deus. Somos instrumentos, pontes, caminhos que devem levar a Deus, e a bênção de Deus é o sinal do sentido obrigatório a seguir.
 
Ilustração: “Homem comendo num campo”, de David Gilmour Blythe, Museu de Arte de Pittsburgh, Pensilvânia.

1 comentário:

  1. Frei José Carlos,

    O texto da Meditação que teceu e partilha é profundo, constitui uma importante reflexão para cada um de nós. Como nos afirma ...” A bênção de Deus é sempre um dom e um meio para a frutificação, para a realização da salvação do outro e com o outro. Não podemos por isso encerrar-nos na nossa individualidade, no nosso egoísmo, assumindo o outro num duplo de nós próprios com quem falamos como fala o homem da parábola.(…)
    (…) Por isso a grande questão na hora da morte, para quem serão os bens que acumulastes? Porque não te enriquecestes aos olhos de Deus enriquecendo os teus irmãos, partilhando com eles a mesma bênção que tinhas recebido?
    Afinal, é esse o fim de todos os dons de Deus, de todas as riquezas materiais ou espirituais que nos chegam, servirem de meio e possibilidade para o encontro dos outros com Deus que abençoa e enriquece.”…
    Grata, Frei José Carlos, pela partilha. Bem-haja, por recordar-nos que …” Somos instrumentos, pontes, caminhos que devem levar a Deus, e a bênção de Deus é o sinal do sentido obrigatório a seguir.”
    Que o Senhor o ilumine, abençoe e proteja.
    Um abraço fraterno,
    Maria José Silva

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