Em Outubro de 1786,
aquando da estância nas Caldas da Rainha a banhos, Dona Maria I e a sua família
fizeram um pequeno passeio pela região, visitando os mosteiros de Alcobaça, Batalha,
e a fábrica de vidros da Marinha Grande.
O Infante D. João,
mais tarde D. João VI, no dia seguinte à visita escreve desde Alcobaça, onde
ficaram alojados, a sua irmã a Infanta D. Mariana Vitória, à data já casada com
o Infante D. Gabriel de Bourbon e portanto a residir em Madrid, a contar-lhe o
passeio.
É na carta, datada de
16 de Outubro, que encontramos um relato do que o Infante D. João pôde
encontrar e apreciar ao visitar o mosteiro da Batalha na véspera, dia 15 de Outubro.
Na medida em que é uma
imagem que se pode contrastar com outras que outros visitantes deixaram do
mosteiro da Batalha neste mesmo século dezoito, e nos revela a sensibilidade
artística do Infante, aqui a apresentamos para divulgação.
Ontem, que foi domingo, fomos ao mosteiro da Batalha, que é
dos frades domínicos, que me pareceu muito bom. Tem obra de muita delicadeza. A
igreja é de uma altura grandíssima e muito comprida. A casa onde está el-Rei
Dom João, o primeiro, é coisa magnífica e também o túmulo onde ele está e mais
os seus filhos, excepto o seu filho mais velho que está aos pés do altar-mor.
Também fomos ver o túmulo do senhor rei Dom João segundo, que
está em um caixão de pau. Abriu-se para o vermos, que nos diziam que estava
inteiro, mas não tem carne. É como um couro: a cara é uma caveira com a sua
coroa na cabeça. Estava com um vestido comprido de veludo carmesim com casas de
ouro e depois fomos ver o claustro, que é excelente, mas não tinha mais nada
que ver, porque está imperfeita a obra: até umas capelas que se chamam
imperfeitas, que eram destinadas para panteão dos reis, se não acabaram. Pois é
uma lástima! Obra a mais delicada que eu tenho visto! E são as coisas que lá há
dignas de se ver.[1]
Ilustração: Mosteiro
da Batalha, Gravura oferta aos Assinantes do Arquivo Pittoresco, 1860.
[1]
LÁZARO, Alice – Se saudades matassem… Cartas Íntimas do Infante D. João (VI)
para a Irmã (1785-1787). Lisboa, Chiado Editora, 2011, página 395-396.
Frei José Carlos,
ResponderEliminarGrata pela partilha da imagem que o Infante D. João registou ao visitar o mosteiro da Batalha no dia 15 de Outubro de 1786 e transmitiu na carta a sua irmã a Infanta D. Mariana Vitória e que sintetizou nas frases: ”Obra a mais delicada que eu tenho visto! E são as coisas que lá há dignas de se ver”.
Bem-haja, Frei José Carlos, pelo trabalho de preparação e divulgação dos documentos históricos que são sempre reveladores de interesse.
Um abraço fraterno,
Maria José Silva