segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Visita da Rainha D. Maria I ao Mosteiro da Batalha em 1786

Em Outubro de 1786, aquando da estância nas Caldas da Rainha a banhos, Dona Maria I e a sua família fizeram um pequeno passeio pela região, visitando os mosteiros de Alcobaça, Batalha, e a fábrica de vidros da Marinha Grande.  
O Infante D. João, mais tarde D. João VI, no dia seguinte à visita escreve desde Alcobaça, onde ficaram alojados, a sua irmã a Infanta D. Mariana Vitória, à data já casada com o Infante D. Gabriel de Bourbon e portanto a residir em Madrid, a contar-lhe o passeio.
É na carta, datada de 16 de Outubro, que encontramos um relato do que o Infante D. João pôde encontrar e apreciar ao visitar o mosteiro da Batalha na véspera, dia 15 de Outubro.
Na medida em que é uma imagem que se pode contrastar com outras que outros visitantes deixaram do mosteiro da Batalha neste mesmo século dezoito, e nos revela a sensibilidade artística do Infante, aqui a apresentamos para divulgação.
 
Ontem, que foi domingo, fomos ao mosteiro da Batalha, que é dos frades domínicos, que me pareceu muito bom. Tem obra de muita delicadeza. A igreja é de uma altura grandíssima e muito comprida. A casa onde está el-Rei Dom João, o primeiro, é coisa magnífica e também o túmulo onde ele está e mais os seus filhos, excepto o seu filho mais velho que está aos pés do altar-mor.
Também fomos ver o túmulo do senhor rei Dom João segundo, que está em um caixão de pau. Abriu-se para o vermos, que nos diziam que estava inteiro, mas não tem carne. É como um couro: a cara é uma caveira com a sua coroa na cabeça. Estava com um vestido comprido de veludo carmesim com casas de ouro e depois fomos ver o claustro, que é excelente, mas não tinha mais nada que ver, porque está imperfeita a obra: até umas capelas que se chamam imperfeitas, que eram destinadas para panteão dos reis, se não acabaram. Pois é uma lástima! Obra a mais delicada que eu tenho visto! E são as coisas que lá há dignas de se ver.[1]
 
Ilustração: Mosteiro da Batalha, Gravura oferta aos Assinantes do Arquivo Pittoresco, 1860.


[1] LÁZARO, Alice – Se saudades matassem… Cartas Íntimas do Infante D. João (VI) para a Irmã (1785-1787). Lisboa, Chiado Editora, 2011, página 395-396.

1 comentário:

  1. Frei José Carlos,

    Grata pela partilha da imagem que o Infante D. João registou ao visitar o mosteiro da Batalha no dia 15 de Outubro de 1786 e transmitiu na carta a sua irmã a Infanta D. Mariana Vitória e que sintetizou nas frases: ”Obra a mais delicada que eu tenho visto! E são as coisas que lá há dignas de se ver”.
    Bem-haja, Frei José Carlos, pelo trabalho de preparação e divulgação dos documentos históricos que são sempre reveladores de interesse.
    Um abraço fraterno,
    Maria José Silva

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