Mas para muitos dos
nossos irmãos que vivem em zonas rurais, no campo e da agricultura, também já
não é fácil esta experiência, pois a obrigatoriedade da produção em grande
escala obriga a que os animais e rebanhos estejam confinados a espaços
delimitados, a que não circulem pelos caminhos e campos conduzidos por um
pastor e guardados pelos cães dos pastores.
Falar assim, hoje, do
bom pastor e das ovelhas que escutam a voz do pastor é uma missão arriscada,
uma missão que que esbarra no desconhecimento das realidades subjacentes ao
discurso. Contudo, não podemos deixar de abordar o tema, procurando nas
diversas dimensões da realidade actual elementos que nos possam ajudar.
Um desses elementos é
a voz, a voz do pastor que as ovelhas conhecem, reconhecem e à qual obedecem.
Na nossa sociedade tecnológica também fazemos experiência desta realidade,
ainda que em outros âmbitos e por isso já não nos surpreendemos que o nosso
telemóvel reaja e responda à nossa voz, já não nos surpreendemos que ao
entrarmos em casa um determinado dispositivo à nossa voz nos acenda as luzes da
sala ou nos ligue a televisão.
Contudo, para que tais
aparelhos funcionem, e funcionem bem, temos que os programar, temos que lhes
apresentar a nossa voz para que posteriormente possa ser reconhecida e
obedecida, porque de contrário são inoperacionais.
Na nossa relação com
Deus, na necessidade de escutar e reconhecer a voz, também esta programação e
esta apresentação de voz está presente, na medida em que somos obra de Deus, e
uma obra criada à sua imagem e semelhança. Neste sentido, naturalmente estamos programados
para ouvir a voz de Deus, a voz do pastor e responder à sua chamada.
Pelo que não nos
podemos surpreender quando ao longo da vida e nas várias experiências que ela
comporta sintamos que há algo em nós que está por preencher, que há um vazio
que só Deus pode plenamente preencher e satisfazer, que há uma voz, um apelo, a
fazer algo de diferente, a tomar uma atitude, uma opção diante de determinada
situação, que é premente e não nos deixa, ou ansiamos ouvir com clareza.
Porque fomos
programados na criação, somos capazes de reconhecer a voz de Deus, e muitas
vezes, muito frequentemente, até a reconhecemos e identificamos, mas procuramos
fechar os ouvidos, fazer de conta que não ouvimos nada ou foi uma interferência
estranha na nossa onda.
Tal acontece porque
escutar a voz e dar-lhe atenção não é fácil e muitas vezes como escutávamos na
leitura dos Actos dos Apóstolos provoca a violência, a rejeição por parte dos
outros. Escutar a voz do pastor e procurar reproduzi-la fidedignamente conduz
muitas vezes à marginalização, ao perigo de vida, à morte.
Contudo, diante destas
realidades e destas ameaças não podemos esquecer aquilo que Jesus disse aos
seus discípulos e que é extremamente importante, “ninguém pode arrebatar nada
da mão do Pai”, ou como disse São Paulo na sua Carta aos Romanos, “as promessas
e os dons de Deus são irrevogáveis”.
Neste sentido, o apelo
de Deus e o que ele comporta de predilecção, de protecção, de graça para a sua realização
plena são dons irrevogáveis, estão de tal maneira vinculados que não podem ser
separados ou aniquilados. Como também diz São Paulo, “nada nos poderá separar
do amor de Deus”.
Esta certeza, esta
confiança, deveria fazer-nos escutar a voz de Deus com um pouco mais de atenção,
com um pouco menos de medo, e a estar mais abertos a reproduzir nas mais diversas
circunstâncias aquilo que nos pede e nos convida a partilhar. E quando sabemos
que o cordeiro caminha connosco, vai à nossa frente, essa confiança deveria ser
ainda mais intensa, mais provocadora de ousadia testemunhal.
Que o nosso coração
não feche os ouvidos à voz do Senhor, à voz do pastor, que tantas vezes se faz
ouvir nas vozes dos irmãos que nos chamam a colaborar na construção de um mundo
melhor, na instauração do Reino de Deus entre os homens.
Ilustração: Cartela
com imagem de Jesus Bom Pastor num confessionário da igreja da Abadia de Saint
Gallen.
Frei José Carlos,
ResponderEliminarO IV Domingo do Tempo Pascal, conhecido como o Domingo do Bom Pastor, leva-nos a reflectir na simbologia escolhida por Jesus durante o tempo de Pregação e a actualidade da mesma ao longo dos tempos. Na pouca informação que tenho, creio que Jesus quando fala das suas “ovelhas” e do pastor vai mais longe para além da comparação familiar com a atitude do criador/cuidador das ovelhas, numa época em que a pastorícia era a actividade predominante à época. É do cuidado e do Amor que nos dedica para que vivamos em plenitude e para a nossa salvação que Jesus nos fala. Cada um de nós também é pastor e ovelha em diferentes dimensões e situações.
Senhor é bom saber que sou, como alguns de nós, muitas vezes, uma daquelas ovelhas que levas aos ombros.
Na Tua eterna misericórdia conforta-nos e dá-nos esperança saber que esperas por todos, que cuidas em especial dos mais frágeis, dos mais receosos, que nos aceitas por inteiro, como somos, para que ganhemos uma vida nova. E que à semelhança dos discípulos, saibamos contar com a Tua Luz para que todos (as) aqueles (as) que um dia ouviram e aceitaram e outros que escutarão o Teu chamamento, sejam os continuadores da Tua missão nas suas múltiplas formas.
Grata, Frei José Carlos, pela partilha, bela, carregada de simbolismo. Que o Senhor o guarde e o ilumine.
Votos de uma boa semana.
Um abraço fraterno,
Maria José Silva
P.S. Permita-me que cite um excerto de uma das versões do Salmo 23.
“O Senhor é meu pastor: nada me falta
……………………………………………………..
A tua bondade e o teu amor
hão-de acompanhar-me
todos os dias da minha vida,
e habitarei na casa do Senhor
para todo o sempre.”
Cristo Bom Pastor nos guia pela nossa vida, e permite, através de uma permanente resposta, salvaguardar a verdadeira peregrinação.
ResponderEliminarPela Sua bondade, nos habitua a que todos tenhamos, uma fraterna felicidade, em partilhar o que temos, com os que mais necessitam numa verdadeira,
Acção de solidariedade.
Que se actualiza, nas nossas boas-obras. Numa coragem permanente de em cada oração. Repetir-Lhe que nos Guie e nos, faça com um Coração maior.
Onde a palavra seja um movimento e dê, a todos vontade para aceditar.