sábado, 6 de abril de 2013

Eles porém não acreditaram. (Mc 16,11)

Face aos relatos que os Evangelistas nos apresentam dos primeiros anúncios da ressurreição de Jesus é fácil constatar que não foi simples acreditar, que os discípulos tiveram imensas dificuldades em acreditar naqueles que se tinham encontrado com Jesus ressuscitado.
Antes de mais temos Maria Madalena, que se encontra com Jesus no jardim onde se situava o sepulcro, e que tem imensas dificuldades em fazer-se acreditar. Podemos supor uma certa discriminação pelo facto de ser mulher, discriminação que se alarga às outras mulheres, pois como nos diz o texto evangélico os discípulos ficaram sobressaltados com o que elas tinham visto e contado.
Mas a verdade é que não é só Maria Madalena e as outras mulheres que não são tidas em conta, que são discriminadas no seu testemunho, pois também os dois discípulos que iam a caminho de Emaús não são considerados no seu testemunho.
Deparamos assim com a necessidade da aparição de Jesus aos onze, ao grupo reunido, para que as outras aparições pessoais, se assim se pode dizer, sejam tidas em crédito. É necessário o encontro decisivo para que a incredulidade seja ultrapassada e todos os testemunhos sejam de certa forma creditados, certificados como verdadeiros.
Estes acontecimentos marcados pela falta de fé, pela incredulidade, este emperramento da difusão da boa nova da ressurreição, e que os evangelistas honestamente assumem, mostram-nos os começos humildes da Igreja, as dificuldades iniciais da missão, mas igualmente que a missão e o testemunho não nos pertencem, não são propriedade pessoal.
Estes acontecimentos mostram-nos que não nascemos testemunhas, que não somos testemunhas natas, mas pela graça de Deus, pela experiência diversificada da sua presença, nos vamos transformando em testemunhas.
Se no ano 2000 o Papa João Paulo II dizia aos jovens que se fossem o que deveriam ser incendiariam o mundo inteiro, também nós, na medida em que acolhermos o desafio de ser verdadeiras e fiéis testemunhas, seremos capazes de anunciar ao mundo a alegria e a experiência do encontro com Jesus ressuscitado.
 
Ilustração: “A incredulidade de Tomé”, de Béla Iványi-Grunwald, Galeria Nacional da Hungria.

1 comentário:

  1. Frei José Carlos,

    O texto da Meditação que teceu leva-me a tentar perscrutar o que teria sido a vivência dos discípulos com Jesus, a compreensão da Sua Palavra e missão e a relação que estabelecemos com Jesus no presente, a escuta e a compreensão da Palavra dos Evangelhos e o nosso peregrinar que conduziu e conduz à dificuldade de acreditar no mistério da ressureição de Jesus. E nestes dois momentos cronologicamente tão distantes há um elemento em comum: a fé, o dom da fé.
    Como Frei José Carlos refere no texto …” Estes acontecimentos marcados pela falta de fé, pela incredulidade, este emperramento da difusão da boa nova da ressurreição, e que os evangelistas honestamente assumem, mostram-nos os começos humildes da Igreja, as dificuldades iniciais da missão, mas igualmente que a missão e o testemunho não nos pertencem, não são propriedade pessoal.”…
    Precisamos libertar-nos, ir mais além, de descentrarmo-nos, de elevar-nos espiritualmente, o que requer um esforço continuado, por vezes difícil.
    Grata, Frei José Carlos, pelas palavras partilhadas que nos desinstalam, e simultaneamente nos confortam ao recordar-nos que …” na medida em que acolhermos o desafio de ser verdadeiras e fiéis testemunhas, seremos capazes de anunciar ao mundo a alegria e a experiência do encontro com Jesus ressuscitado.”
    Que o Senhor o ilumine, o guarde e o abençoe.
    Bom descanso.
    Votos de um bom domingo.
    Um abraço fraterno,
    Maria José Silva

    P.S. Permita-me, Frei José Carlos, que partilhe de novo o texto de uma oração.

    ORAÇÃO
    DA MANHÃ
    DE PÁSCOA

    Dá-nos, Senhor, a coragem dos recomeços. Mesmo nos dias quebrados faz-nos descobrir limiares límpidos.
    Não nos deixes acomodar ao saber daquilo que foi: dá-nos largueza de coração para abraçar aquilo que é.
    Afasta-nos do repetido, do juízo mecânico que banaliza a história, pois a desventra de qualquer surpresa e
    esperança.Torna-nos atónitos com os seres que florescem. Torna-nos livres, deslumbrantemente insubmis-
    sos. Torna-nos inacabados como quem deseja e de desejo vive. Torna-nos confiantes como os que se atre-
    vem a olhar tudo, e a si mesmos, uma primeira vez.

    (In, Um Deus Que Dança, Itinerários para a Oração, José Tolentino Mendonça, 2011)

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