segunda-feira, 1 de abril de 2013

Elas abraçaram-lhe os pés (Mt 28,9)

A ressurreição de Jesus é um verdadeiro mistério, pois ninguém testemunhou alguma coisa do sucedido naquela noite e madrugada. Tendo presente o boato que foi espalhado entre os judeus, esse mistério seria ainda maior se não tivesse havido um grupo de mulheres que diligentemente, desde o raiar do dia, procuraram o túmulo onde Jesus tinha sido sepultado.  
São estas mulheres que permitem uma primeira aproximação do mistério, uma vez que face ao sepulcro violado e vazio, partem alegres e temerosas a anunciar aos discípulos a descoberta feita. O mistério da ressurreição de Jesus aparece assim desde o primeiro momento enroupado na alegria e no temor, uma alegria que brota da palavra anteriormente escutada, da esperança, e um temor fundado na maldade dos homens, na possibilidade da mentira.
Nesta primeira aproximação, deparamos com três momentos distintos, a busca, o desencontro e o encontro, e neste encontro com um gesto surpreendente, um abraço aos pés de Jesus imediatamente após a saudação deste.
Não deixa de ser um gesto estranho, que podemos fundamentar no temor, no medo face à visão, mas que igualmente podemos associar à veneração, ao amor, e ao reconhecimento de uma identidade que nos desafia.
Neste sentido devemos ter presente o gesto de Maria em casa de Lázaro e as palavras de Jesus face ao escândalo de Judas. Ali e diante da unção dos pés com perfume de nardo puro, Jesus reconhece que tal gesto era uma antecipação da sua experiência da morte, da sua experiência da finitude humana. A unção dos pés sinaliza e ilumina a sua humanidade mortal.
Quando Jesus ressuscitado é abraço nos pés, pelas mulheres que tinham vindo ao sepulcro, estamos diante de um outro sinal da sua humanidade, mas desta feita da humanidade resgatada, reabilitada da condição finita.
O abraço das mulheres da manhã de Páscoa aos pés de Jesus, a sua veneração, significa o acolhimento e a veneração da nova humanidade, a humanidade resgatada por Jesus, uma humanidade que se encontra irremediavelmente a caminho, que necessita dos pés não só para caminhar ao encontro de Deus mas igualmente ao encontro dos irmãos.  
A Boa Nova da ressurreição de Jesus passa assim pela atenção e pelo acolhimento da humanidade, da nossa humanidade, finita na sua condição mortal, mas eterna com a ressurreição de Jesus. Neste sentido, onde quer que seja que defendamos e salvaguardemos a humanidade na sua dignidade estamos a tornar presente a ressurreição de Jesus, estamos a abraçar os pés de Jesus como as mulheres que bem cedo foram ao sepulcro.
 
Ilustração: “Cristo como jardineiro aparece às três Marias”, pintura flamenga do século XVI de autor desconhecido.

1 comentário:

  1. Frei José Carlos,

    Só hoje tenho oportunidade de escrever algumas palavras sobre a Meditação que teceu e intitulou “Elas abraçaram-lhe os pés” (Mt 28,9) ainda que a leitura da mesma me tivesse tocado de forma particular quando a li. Começo por interrogar-me onde estavam os discípulos durante a Paixão, Morte e Ressureição de Jesus? Como Frei José Carlos começa por afirmar-nos …” Tendo presente o boato que foi espalhado entre os judeus, esse mistério seria ainda maior se não tivesse havido um grupo de mulheres que diligentemente, desde o raiar do dia, procuraram o túmulo onde Jesus tinha sido sepultado. (…)
    (…) Nesta primeira aproximação, deparamos com três momentos distintos, a busca, o desencontro e o encontro, e neste encontro com um gesto surpreendente, um abraço aos pés de Jesus imediatamente após a saudação deste.” …
    E transcorridos muitos séculos, penso que possamos olhar a Paixão, Morte e Ressureição de Jesus para além do aspecto sacrificial, como dom e sinal de humanidade de Jesus e as suas consequências na condição humana, numa dimensão universal e duradoira que não era susceptível de ser interpretada pelo Homem naquele tempo.
    Como nos salienta …” O abraço das mulheres da manhã de Páscoa aos pés de Jesus, a sua veneração, significa o acolhimento e a veneração da nova humanidade, a humanidade resgatada por Jesus, uma humanidade que se encontra irremediavelmente a caminho, que necessita dos pés não só para caminhar ao encontro de Deus mas igualmente ao encontro dos irmãos. “…
    Grata, Frei José Carlos, pelas palavras partilhadas, de grande espiritualidade, verdade, ânimo, e esperança, pelo reconhecimento do papel das três Marias, por recordar-nos que …” A Boa Nova da ressurreição de Jesus passa assim pela atenção e pelo acolhimento da humanidade, da nossa humanidade, finita na sua condição mortal, mas eterna com a ressurreição de Jesus.”…
    Que o Senhor o ilumine, o guarde e o abençoe.
    Um abraço fraterno,
    Maria José Silva

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