terça-feira, 23 de abril de 2013

Já vos disse mas não acreditais. (Jo 10,25)

É certamente correcto dizer que todos nós já nos encontrámos pelo menos uma vez envolvidos num diálogo de surdos, ainda que nem nós nem os nossos oponentes sofrêssemos de algum problema de audição.
Nessa situação vemo-nos envolvidos numa incapacidade de compreender ou de nos fazermos compreender, num beco sem saída, que faz desesperar e conduz muito frequentemente a rupturas irreversíveis.
Também Jesus se encontrou nesta situação, e de modo particular naquele momento em que pela festa da dedicação do Templo se encontrava em Jerusalém e passeava pelo pórtico. Os judeus, inquietos sobre as repercussões da opção por Jesus, pediam-lhe um sinal, uma prova, de que ele era o Messias esperado. Se havia alguma opção a fazer era bom que os dados fossem claros!
Este pedido é contudo contraditório, e Jesus mostra essa contradição quando responde aos seus interlocutores, àqueles que o acusam e acusarão no futuro, dizendo-lhes que a resposta que eles procuravam e desejavam já tinha sido dada.
A acção de Jesus, o testemunho das obras realizadas, era a resposta que eles desejavam; uma resposta que ainda que patente e visível se tornava imperceptível por falta de vontade, por falta de acolhimento, por não quererem acreditar.
Esta acusação de Jesus, a resposta que lhes dá, é para nós uma interpelação extremamente significativa, porque de facto Deus vai falando, Deus vai-se revelando na nossa história e na história dos homens.
Contudo, para escutarmos essa palavra, essa revelação, a resposta de Jesus às nossas questões e aspirações, tem que haver da nossa parte uma vontade, uma abertura, uma disponibilidade para a acolher. Não podemos exigir uma resposta de Deus se não estamos dispostos a escutá-la, se não acreditamos na resposta.
Necessitamos portanto abrir-nos à resposta, às manifestações da resposta, para que ela aconteça, para que se nos torne audível e compreensível.
Necessitamos abrir os olhos e os ouvidos do coração para discernir a presença e a revelação de Deus nos gestos e nas realidades mais simples, nas manifestações divinas dos nossos irmãos como são a amizade, o carinho, a atenção, a justiça ou a partilha da luta pela verdade, entre tantas outras.
 
Ilustração: “Os fariseus interrogam Jesus”, de James Tissot, Brooklyn Museum.

 

 

4 comentários:

  1. Jesus responde com sabedoria. Pois ensina-nos a a escutar com paciência o que nos é proposto.
    Ao responder na presença dos que se manifestam dispostos a acreditar.
    Mas que ainda desconhecem a realidade que Deus em Seu gesto de atenção connosco, trouxe.
    Partilhando a justiça e a verdade e escutando para além dos que O procuravam.
    Ao discernir a história para um caminho onde se acredita ter como certa a revelação de Deus Pai. Numa visão atenta da humilde pregação, que os testemunhos herdados pela fé são compreensíveis.

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  2. Acho que é muito pela amizade, o carinho, a confiança que vamos sendo capazes
    de abrir os ouvidos e o coração à Palavra e à Verdade e vamos mudando a nossa vida e caminhando para a santidade. Inter Pars

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  3. Frei José Carlos,

    Muito grata,pela maravilhosa e profunda Meditação que partilhou connosco,sobre o Evangelho de São João,e pela magnífica ilustração.Como nos diz o Frei José Carlos,necessitamos abrir os olhos e os ouvidos do coração,para discernir a presença e a revelação de Deus nos gestos e nas realidades mais simples,nas manifestações divinas dos nossos irmãos como são a amizade,o carinho, a atenção,a justiça ou a partilha da luta,pela verdade, entre tantas coisas.Obrigada,Frei José Carlos,pelas palavras partilhadas,que nos ajudam e dão força para a caminhada no nosso dia a dia.Bem-haja.Votos de uma boa noite e bom descanso.Que o Senhor o ilumine o guarde e o proteja.
    Um abraço fraterno.
    AD

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  4. Frei José Carlos,

    A leitura e a reflexão do texto da Meditação que teceu desinstalou-me, fez-me recordar alguns dos diálogos de Jesus com judeus, fariseus e com os próprios discípulos. Levou-me mais uma vez a questionar sobre a procura de tantas explicações, sobre as questões que nunca me abandonam, quando o importante é estar disponível para escutar e ouvir a Deus, sem que as minhas necessidades e anseios sejam o centro, mas o amor, o dom, o gratuito, o outro, e saber aceitar os desafios que se vão colocando, libertar-me das teias que bloqueiam. Afinal tenho (emos) tantas pprovas …
    Como nos salienta no texto …” Deus vai falando, Deus vai-se revelando na nossa história e na história dos homens.(…)
    (…)Não podemos exigir uma resposta de Deus se não estamos dispostos a escutá-la, se não acreditamos na resposta.(…)
    (…)Necessitamos abrir os olhos e os ouvidos do coração para discernir a presença e a revelação de Deus nos gestos e nas realidades mais simples, nas manifestações divinas dos nossos irmãos como são a amizade, o carinho, a atenção, a justiça ou a partilha da luta pela verdade, entre tantas outras.”
    Um grande obrigada, Frei José Carlos, pelas palavras partilhadas, profundas, que nos questionam e ajudam no nosso peregrinar, a descobrir o invisível e a valorizar a simplicidade que Deus coloca ao nosso alcance.
    Que o Senhor o ilumine, o guarde e abençoe.
    Bom descanso.
    Um abraço fraterno,
    Maria José Silva

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