quarta-feira, 3 de abril de 2013

Nesse momento abriram-se-lhes os olhos e reconheceram Jesus. (Lc 24,31)

O relato que nos é feito por São Lucas do sucedido aos dois discípulos que se afastavam de Jerusalém e se encontraram com Jesus é surpreendente e não deixa de nos tocar na nossa condição de discípulos, de homens e mulheres que se encontram igualmente em caminho.
Tal como aqueles dois discípulos, defraudados nas suas expectativas relativamente a Jesus, também nós muitas vezes nos colocamos num caminho e num processo de afastamento, nomeadamente naquelas situações que parecem não responder às nossas expectativas, aos nossos desejos.
Quantas vezes não nos confrontamos com um Deus que se mantém em silêncio, que não responde às nossas perguntas, aos nossos pedidos feitos com a maior fé e confiança? Como nesses momentos nos é difícil aceitar o silêncio da cruz, a morte dos nossos desejos e aspirações!
Nesses momentos Jesus vem ao nosso encontro, caminha connosco como caminhou com os dois discípulos, e explica-nos também a Escritura, tenta iluminar as nossas dores e as nossas perdas com a certeza da presença e do amor de Deus.
Contudo, e tal como aconteceu com os discípulos, os nossos olhos mantém-se frequentemente cerrados, incapazes de ver esse Jesus que caminha connosco e até mesmo o amor de Deus por cada um de nós, por cada uma das suas criaturas. Estamos tão focados, tão centrados em nós, que não somos capazes de ouvir ou ver a presença de Deus.
Nessas circunstâncias, Emaús é para nós um alento de esperança, uma proposta que não podemos deixar de ter presente, de procurar como possibilidade de encontro. Tal como fizeram os discípulos, devemos convidar Jesus a ficar connosco, pois o dia vai longo e a noite aproxima-se.
E então teremos a grande surpresa de descobrir que afinal Jesus esteve sempre connosco, caminhou connosco e nos foi iluminando, ainda que os nossos olhos estivessem vendados pelo nosso egocentrismo, pelos nossos próprios problemas.
Em Emaús descobrimos que é no repouso, no encontro à mesa, que Jesus se nos faz visível, que tomamos consciência da sua presença no nosso caminhar.
Inevitavelmente o gesto de Jesus remete-nos para a Eucaristia, para a bênção e partilha do pão, mas não podemos deixar de acreditar que em cada momento que nos sentamos tranquilos com Jesus, desejando partilhar o nosso pão com ele, abrindo o nosso coração ferido e desalentado, ele se faz presente e nos alimenta com o pão do amor.
Procuremos pois encontrar-nos à mesa com Jesus, nesse face a face que nos abre os olhos e nos dá o sinal que altera tudo, transforma tudo, que nos abre novos horizontes infinitos de presença e relação.
 
Ilustração: “Cristo e os dois discípulos de Emaús”, de Alonso Cano, Walters Art Museum.

2 comentários:

  1. Frei José Carlos,

    Ao ler esta maravilhosa Meditação sobre o Evangelho de São Lucas,de Jesus a caminho de Emaús,com os dois discípulos.Emaús é para nós um alento de esperança,uma proposta que não podemos deixar de ter presente,de procurar como possibilidade de encontro,como nos diz o Frei José Carlos,nestas suas palavras tão profundas que partilhou connosco.Também pela sua bela ilustração.Que o Senhor o ilumine o guarde e o abençoe.Bem-haja,Frei José Carlos.Desejo-lhe um bom dia e bom descanso.
    Um abraço fraterno.
    AD

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  2. Frei José Carlos,

    O texto da Meditação que teceu leva-nos a reflectir no caminho que vamos fazendo, tantas vezes desnivelado e, como nos afirma, … “tal como aconteceu com os discípulos, os nossos olhos mantém-se frequentemente cerrados, incapazes de ver esse Jesus que caminha connosco e até mesmo o amor de Deus por cada um de nós, por cada uma das suas criaturas. Estamos tão focados, tão centrados em nós, que não somos capazes de ouvir ou ver a presença de Deus.”…
    O texto que partilha é profundo, vem ao encontro das nossas fraquezas, dos nossos desalentos, das nossas cegueiras e egoísmos, dando-nos confiança e esperança, ajudando-nos a iluminar as nossas noites.
    Como nos exorta …” Emaús é para nós um alento de esperança, uma proposta que não podemos deixar de ter presente, de procurar como possibilidade de encontro. Tal como fizeram os discípulos, devemos convidar Jesus a ficar connosco, pois o dia vai longo e a noite aproxima-se.
    E então teremos a grande surpresa de descobrir que afinal Jesus esteve sempre connosco, caminhou connosco e nos foi iluminando, ainda que os nossos olhos estivessem vendados pelo nosso egocentrismo, pelos nossos próprios problemas.”…
    Façamos nossas as palavras de Frei José Carlos, e …” Procuremos pois encontrar-nos à mesa com Jesus, nesse face a face que nos abre os olhos e nos dá o sinal que altera tudo, transforma tudo, que nos abre novos horizontes infinitos de presença e relação.”
    Grata, Frei José Carlos, pelas palavras partilhadas, maravilhosamente ilustradas, de grande espiritualidade, que nos ajudam a reflectir sobre os nossos comportamentos e encorajam-nos a prosseguir a caminhada.
    Que o Senhor o ilumine, o guarde e o proteja.
    Bom descanso.
    Um abraço fraterno,
    Maria José Silva

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