Após a celebração da
Ressurreição de Jesus eis que nos encontramos no início deste tempo pascal com
esta grande afirmação de Jesus a Nicodemos, “Deus não enviou o Filho ao mundo
para condenar o mundo mas para que o mundo seja salvo por Ele”.
Afirmação cheia de consequências,
antes de mais para Deus, uma vez que foi por sua iniciativa que o Filho veio ao
mundo, que pela sua acção fomos salvos, foi pela sua liberalidade e amor que
tudo aconteceu; e depois para nós próprios, que diante destas palavras de Jesus
não podemos acreditar mais num Deus que castiga, num Deus sádico e distante das
nossas necessidades e condição humana.
Uma outra consequência
que nos alcança com estas palavras de Jesus prende-se inevitavelmente com a
nossa relação com o mundo. À luz destas palavras descobrimos não só a bondade e
beleza da criação, Deus viu que tudo era muito bom, como encontramos no livro
do Génesis, mas também a nova realidade dessa mesma criação após o sacrifício de
Cristo.
Jesus ao assumir a
encarnação como oportunidade salvadora está a garantir uma abertura à salvação
em todas as realidades e em todos os momentos da criação, e desta forma tudo,
absolutamente tudo, das nossas vidas, das vidas nos nossos amigos e dos outros
homens, hoje e sempre, está a salvo em Cristo.
Neste sentido, podemos
dizer que Deus não faz outra coisa senão salvar, que não faz outra coisa que
convidar-nos a usufruir dessa salvação operada pelo Filho, e que tão
frequentemente deixamos de gozar e beneficiar porque nos custa aceitar a luz
que ela nos traz, a iluminação das nossas obras imperfeitas e a necessitar
reforma.
Que não nos deixemos
vencer pelo medo ou pela preguiça, e sobretudo, depois de termos vivido a
felicidade desta salvação, não tenhamos vergonha de anunciar e partilhar com o
mundo essa novidade plena de alegria que Deus nos confia.
Ilustração: “Jesus e
Nicodemos”, de Alexander Andreyevich Ivanov, Museu Tretyakov, Moscovo.
Que depois desta Páscoa sejamos capazes de viver, sem medo,da salvação que Cristo nos trouxe às nossas vidas e levar aos outros essa mesma alegria que é luz para todos e cada um.Inter Pars
ResponderEliminarFrei José Carlos,
ResponderEliminarLi e fiquei a reflectir em cada uma das ideias que nos transmite a partir da …”grande afirmação de Jesus a Nicodemos, “Deus não enviou o Filho ao mundo para condenar o mundo mas para que o mundo seja salvo por Ele” (Jo 3,17).
É a antítese de tudo isto que me fora ensinado que me levou ao período da minha vida que vai dos sete anos até meio da adolescência e às consequências daí resultantes. Mas depois de algumas décadas passadas, continuo, na actualidade, a ouvir e a ler com preocupação o que teimavam em ensinar-me como a muitos de nós e que fazia interrogar-me e a rejeitar num profundo conflito interior, doloroso, silencioso.
É como diz, Frei José Carlos, …” diante destas palavras de Jesus não podemos acreditar mais num Deus que castiga, num Deus sádico e distante das nossas necessidades e condição humana.”…
Mas, Frei José Carlos vai mais além ao recordar-nos que …” À luz destas palavras descobrimos não só a bondade e beleza da criação, Deus viu que tudo era muito bom, como encontramos no livro do Génesis, mas também a nova realidade dessa mesma criação após o sacrifício de Cristo.”…
Saibamos aceitar o desafio e o convite que nos faz ao recordar-nos …” Que não nos deixemos vencer pelo medo ou pela preguiça, e sobretudo, depois de termos vivido a felicidade desta salvação, não tenhamos vergonha de anunciar e partilhar com o mundo essa novidade plena de alegria que Deus nos confia.”
Um grande obrigada, Frei José Carlos, pelas palavras partilhadas, profundas, pela confiança, serenidade e esperança que nos transmitem, ainda que no peregrinar da vida possa ter-me parcialmente reconciliado comigo própria, acreditar que a catarse se fez.
Que o Senhor o ilumine, o guarde e o abençoe.
Continuação de boa semana.
Um abraço fraterno,
Maria José Silva
P.S. Permita-me, Frei José Carlos, que partilhe o texto de uma oração.
A ESTRADA
DA LIBERDADE
Faz-nos trilhar, Senhor, a estrada da Liberdade. Ajuda-nos a ver nos nossos braços fatigados, asas. Nos obstáculos mais hirtos, desafios que nos modelam. Nos nossos limites de hoje as portas que havemos de transpor amanhã.
Recorda-nos em cada dia que estamos prometidos à imensidão e à transparência. Há uma Arte do Ser que fica muitas vezes ignorada: que nós a descubramos, humildes mas também vibrantes, acreditando-nos amados e por isso capazes de uma plenitude feliz.
Que o sentido da Aventura interior se sobreponha ao nosso modo sonâmbulo e assustado. E depois de termos pedido o pão tenhamos a sabedoria de pedir ainda o desejo e o espanto.
(In, Um Deus Que Dança, Itinerários para a Oração, José Tolentino Mendonça, 2011)