Os primeiros
testemunhos de Jesus ressuscitado não deixam de provocar admiração,
incredulidade face a um mistério tão grande e tão inexplicável. Desde a manhã
de Páscoa que acontecem as aparições e os consequentes testemunhos, mas ainda
assim não deixa de ser difícil de acreditar.
Quando Jesus aparece
no meio dos discípulos reunidos, e a escutarem mais um testemunho, a
incredulidade não deixa de se manifestar. A sua presença física no meio deles
não parece possível, é extraordinária, pois ainda que de longe mais ou menos
todos o viram suspenso na cruz, todos o viram morto.
Neste sentido, a
própria palavra de Jesus não é suficiente, não é prova fidedigna, pois também
os espíritos se podem manifestar pelos sons e pelas palavras. Num primeiro
momento é afinal o que os discípulos acreditam, que estão diante de um espírito.
Torna-se assim necessário
a Jesus manifestar a dimensão corpórea, apresentar-lhes o corpo que conheceram,
que viram pregado na cruz e depositado no sepulcro. Torna-se necessário mostrar
que esse corpo continua vivo, cheio de vida, e para tal Jesus pede aos discípulos
um bocado de peixe para comer.
É diante deste sinal
que os discípulos conseguem vislumbrar um pouco do mistério da ressurreição, da
nova presença do Mestre entre eles, uma presença fundada na palavra que o
anunciava, na palavra que escutaram dos seus lábios, e fundada nas relações de
comunhão que estabeleceram com ele, perfeitamente identificadas na comida
partilhada.
Jesus ajusta assim a
possibilidade de conhecimento dos discípulos à sua nova realidade, pois Jesus
não é um espirito, um fantasma, nem uma recordação feliz do passado. Jesus está
vivo e permanece vivo para eles na palavra e no testemunho, na fé da palavra
partilhada e vivificada.
Tal como os discípulos
também nós ainda hoje temos dificuldade em perceber o mistério da ressurreição
de Jesus, o mistério da sua presença viva entre nós. E contudo continua vivo e
presente, de certa forma palpável na Palavra da Escritura e no pão e no vinho da
Eucaristia.
Através destas
presenças continua a dizer-nos “sou eu mesmo”, sou o mesmo que curou o cego de nascença,
que caminhou sobre as águas ao encontro de Pedro, que partilhou o banquete de Simão,
que quis ficar na casa de Zaqueu, o mesmo que nasceu numa manjedoura em Belém e
foi injustamente condenado à morte e crucificado às portas da cidade santa de
Jerusalém.
Sou o mesmo, “eu mesmo”,
e ofereço-me a ti numa outra dimensão, numa outra realidade, esperando que me
acolhas no mistério da minha presença, que é somente uma prova mais do amor de
Deus pelos homens que manifestei em toda a minha vida.
Ilustração: “Aparição
de Jesus aos discípulos”, de Duccio di Buoninsegna, Catedral de Siena.
Frei José Carlos,
ResponderEliminarComo nos afirma …” Tal como os discípulos também nós ainda hoje temos dificuldade em perceber o mistério da ressurreição de Jesus, o mistério da sua presença viva entre nós. E contudo continua vivo e presente, de certa forma palpável na Palavra da Escritura e no pão e no vinho da Eucaristia.”…
“Felizes os que acreditam sem terem visto”, disse Jesus a Tomé. É o dom da fé que faz acreditar na ressureição de Jesus e que nos leva a dar testemunho. É uma outra dimensão, não visível, que nos leva a acolher e a anunciar o mistério da ressureição de Jesus.
Como Frei José Carlos nos transmite, Jesus continua a dizer-nos …” Sou o mesmo, “eu mesmo”, e ofereço-me a ti numa outra dimensão, numa outra realidade, esperando que me acolhas no mistério da minha presença, que é somente uma prova mais do amor de Deus pelos homens que manifestei em toda a minha vida.” Que assim seja.
Grata, Frei José Carlos, pelas palavras partilhadas, profundas, maravilhosamente ilustradas, que nos levam a acolher Jesus ressuscitado e a não querer racionalizar tudo.
Que o Senhor o ilumine, o guarde e o abençoe.
Bom descanso.
Um abraço fraterno,
Maria José Silva