quinta-feira, 4 de abril de 2013

Vede as minhas mãos e os meus pés, sou eu mesmo. (Lc 24,39)

Os primeiros testemunhos de Jesus ressuscitado não deixam de provocar admiração, incredulidade face a um mistério tão grande e tão inexplicável. Desde a manhã de Páscoa que acontecem as aparições e os consequentes testemunhos, mas ainda assim não deixa de ser difícil de acreditar.
Quando Jesus aparece no meio dos discípulos reunidos, e a escutarem mais um testemunho, a incredulidade não deixa de se manifestar. A sua presença física no meio deles não parece possível, é extraordinária, pois ainda que de longe mais ou menos todos o viram suspenso na cruz, todos o viram morto.
Neste sentido, a própria palavra de Jesus não é suficiente, não é prova fidedigna, pois também os espíritos se podem manifestar pelos sons e pelas palavras. Num primeiro momento é afinal o que os discípulos acreditam, que estão diante de um espírito.
Torna-se assim necessário a Jesus manifestar a dimensão corpórea, apresentar-lhes o corpo que conheceram, que viram pregado na cruz e depositado no sepulcro. Torna-se necessário mostrar que esse corpo continua vivo, cheio de vida, e para tal Jesus pede aos discípulos um bocado de peixe para comer.
É diante deste sinal que os discípulos conseguem vislumbrar um pouco do mistério da ressurreição, da nova presença do Mestre entre eles, uma presença fundada na palavra que o anunciava, na palavra que escutaram dos seus lábios, e fundada nas relações de comunhão que estabeleceram com ele, perfeitamente identificadas na comida partilhada.
Jesus ajusta assim a possibilidade de conhecimento dos discípulos à sua nova realidade, pois Jesus não é um espirito, um fantasma, nem uma recordação feliz do passado. Jesus está vivo e permanece vivo para eles na palavra e no testemunho, na fé da palavra partilhada e vivificada.
Tal como os discípulos também nós ainda hoje temos dificuldade em perceber o mistério da ressurreição de Jesus, o mistério da sua presença viva entre nós. E contudo continua vivo e presente, de certa forma palpável na Palavra da Escritura e no pão e no vinho da Eucaristia.
Através destas presenças continua a dizer-nos “sou eu mesmo”, sou o mesmo que curou o cego de nascença, que caminhou sobre as águas ao encontro de Pedro, que partilhou o banquete de Simão, que quis ficar na casa de Zaqueu, o mesmo que nasceu numa manjedoura em Belém e foi injustamente condenado à morte e crucificado às portas da cidade santa de Jerusalém.     
Sou o mesmo, “eu mesmo”, e ofereço-me a ti numa outra dimensão, numa outra realidade, esperando que me acolhas no mistério da minha presença, que é somente uma prova mais do amor de Deus pelos homens que manifestei em toda a minha vida.

 


Ilustração: “Aparição de Jesus aos discípulos”, de Duccio di Buoninsegna, Catedral de Siena.

1 comentário:

  1. Frei José Carlos,

    Como nos afirma …” Tal como os discípulos também nós ainda hoje temos dificuldade em perceber o mistério da ressurreição de Jesus, o mistério da sua presença viva entre nós. E contudo continua vivo e presente, de certa forma palpável na Palavra da Escritura e no pão e no vinho da Eucaristia.”…
    “Felizes os que acreditam sem terem visto”, disse Jesus a Tomé. É o dom da fé que faz acreditar na ressureição de Jesus e que nos leva a dar testemunho. É uma outra dimensão, não visível, que nos leva a acolher e a anunciar o mistério da ressureição de Jesus.
    Como Frei José Carlos nos transmite, Jesus continua a dizer-nos …” Sou o mesmo, “eu mesmo”, e ofereço-me a ti numa outra dimensão, numa outra realidade, esperando que me acolhas no mistério da minha presença, que é somente uma prova mais do amor de Deus pelos homens que manifestei em toda a minha vida.” Que assim seja.
    Grata, Frei José Carlos, pelas palavras partilhadas, profundas, maravilhosamente ilustradas, que nos levam a acolher Jesus ressuscitado e a não querer racionalizar tudo.
    Que o Senhor o ilumine, o guarde e o abençoe.
    Bom descanso.
    Um abraço fraterno,
    Maria José Silva

    ResponderEliminar