Quase no final da
história do filme “A Ilha”, do realizador Pavel Longine, um monge russo
pergunta a um “staretz” prestes a morrer se a morte provoca medo.
O pobre louco santo “staretz”
responde ao monge que não, que a morte não provoca medo, o que verdadeiramente
assusta é o encontrar-se face a face com Deus.
Não podemos deixar de
pensar que este medo, o medo deste encontro, se deve a uma ideia errada mas
extremamente difundida de que Deus nos julgará.
E, no entanto, Jesus
proclama a todos os homens que não veio ao mundo para julgar, que não é essa a sua
missão e nem é esse o atributo de Deus que Jesus revela.
Ao concebermos Deus
como juiz estamos de certa forma a denegrir a sua imagem, a falsificar a sua
natureza, porque Deus se revela amor, se revela relação, se revela dom total e
irrevogável.
Tal como diz Jesus, se
houver algum julgamento será da nossa responsabilidade, será exercido por nós
próprios e contra nós próprios, porque nos recusámos a acolher o dom de Deus,
porque nos recusámos a participar da relação e do amor. Nós seremos os juízes de
nós próprios.
Assim, e face às
palavras do “staretz” Anatoli, o que nos deve assustar, o que nos deve fazer
temer face à morte, não é encontrarmos Deus face a face, mas é apresentarmo-nos
diante de Deus de mãos vazias, bloqueados pela nossa falta de amor e pelo não
acolhimento do dom amoroso de Deus.
O que nos deve
assustar e fazer repensar a nossa vida, os nossos gestos e palavras, a nossa
atitude, são os grilhões a que nos sujeitamos, o juízo que desde já vamos
escrevendo com a recusa do dom de Deus e do seu apelo à partilha desse dom com
os outros homens.
Como dizia o Papa
Bento XVI “Deus permanece um enigma se não for reconhecido na face de Cristo”. Saibamos
pois, descobrir a verdade da justiça de Deus encontrando-a na pessoa do Filho
que se entregou por nós.
Ilustração: “Cristo
morto e os anjos”, de Édouard Manet, Metropolitan Museum of Art.
Certamente que Jesus veio acolher-nos.
ResponderEliminarEm descobrir que pela Sua plenitude, trouxe a Paz.
Com a justa consciência, Deus nos ensina que somos nós a reconhecer, descobrindo o dom que permanente entre a dignidade e a razão.
Verdadeira perante a glória dos que sabendo descobrir a verdade e a justiça dão-nos consciência pessoal no dom amoroso de Deus.
No fim, seremos julgados pelo Amor, o Amor do Pai, o Amor que partilhamos, aquele com que olhamos os outros.Mas às vezes é difícil viver esta certeza da exclusividade do Amor. I.T
ResponderEliminarFrei José Carlos,
ResponderEliminarLeio e releio atentamente cada uma das palavras da Meditação que teceu que me levam a reflectir sobre as questões da vida e da morte e, em regra, da forma como cada um de nós as concebe. Limito-me a pensar nos cristãos. Certamente há pessoas que nem a vida e a morte os fazem interrogar. Julgam-se pacificados. Há ainda aqueles para quem a vida não os faz interrogar e só a morte lhes mete medo. Outros só a vida os surpreende, a questão da morte consideram-na resolvida, encaram-na de forma tranquila. E fico-me por um quarto grupo que consideram que a morte não lhes levanta grandes questões, mas paradoxalmente são as questões do quotidiano, da sua participação na construção do Reino de Deus aqui e agora que lhe colocam mais dificuldades, auto-julgando-se em permanência. Como, Frei José Carlos nos afirma no texto … “Ao concebermos Deus como juiz estamos de certa forma a denegrir a sua imagem, a falsificar a sua natureza, porque Deus se revela amor, se revela relação, se revela dom total e irrevogável. (…)
(…) Nós seremos os juízes de nós próprios. ” … Sabemos e acreditamos que Jesus veio não para julgar o mundo mas para salvar-nos, que é a nossa Luz, é dom, é amor, que nunca nos abandona e que a Caminhada é feita na Sua companhia.
Façamos nossas as palavras de Frei José Carlos … “Saibamos pois, descobrir a verdade da justiça de Deus encontrando-a na pessoa do Filho que se entregou por nós.”
Grata, Frei José Carlos, pelas palavras partilhadas, profundas, esclarecedoras, e que nos dão confiança para continuar a Caminhada.
Que o Senhor o ilumine, o guarde e o abençoe.
Bom descanso.
Um abraço fraterno,
Maria José Silva