terça-feira, 9 de abril de 2013

Todos devem nascer de novo (Jo 3,7)

Não podemos deixar de nos associar a Nicodemos e estranhar as palavras de Jesus, porque afinal é uma ideia bastante bizarra nascer de novo. Como nascer de novo?
E tal como Jesus responde a Nicodemos, usando a imagem do vento, também nós em cada dia, em cada momento, enfrentamos desafios que não sabemos de onde provêm, a onde nos conduzirão, mas que mesmo assim enfrentamos.
Em cada dia, em cada momento, a vida apresenta-se-nos como uma aventura, como um nascimento para uma realidade nova e tantas vezes desconhecida e imprevisível. E nós arriscamos, conscientes ou não de que tudo se pode desvanecer de um momento para o outro.
A ousadia de em cada momento enfrentar a novidade, a abertura e acolhimento do novo de cada momento, é afinal um dom do Espirito Santo, uma manifestação da identidade daquele que nasceu já do Espirito.
Quem vive na órbita do Espirito sabe que Deus providenciará, que o Senhor é o pastor que conduz a prados verdejantes, que não nos deixará abandonados nas trevas do medo ou do pecado.
Quem vive no Espirito sabe que cada dia e cada momento é uma nova oportunidade, uma nova oferta de Deus à realização e ao cumprimento da promessa, uma possibilidade de nascer de novo, de poder ser fiel.
Que o Espirito vença em nós as resistências e as hesitações que tão frequentemente nos impedem de nascer de novo, de disfrutar de uma nova oportunidade, de viver a vida em plenitude em cada momento nascente.
 
Ilustração: “Jesus e Nicodemos”, de Frans Francken, Kunsthistorisches Museum, Viena.

1 comentário:

  1. Frei José Carlos,

    Falta-nos muitas vezes, como nos diz …“A ousadia de em cada momento enfrentar a novidade, a abertura e acolhimento do novo de cada momento, é afinal um dom do Espirito Santo, uma manifestação da identidade daquele que nasceu já do Espirito.”…
    A vida de cada um de nós, mesmo frágil, pode sempre transfigurar-se, renovar-se, para a qual precisamos de um sopro de renovação. Fico a reflectir nas múltiplas etapas da vida, da aventura permanente que vivemos, das surpresas da caminhada e surge-me o som do chilrear dos pássaros nesta Primavera incipiente mas fixo-me particularmente na dança do voo, no desenho único de cada movimento, cheio de vivacidade, pleno de musicalidade. Há como que uma força criadora que nos transmitem, quiçá a força, o sopro que precisamos para acolhermos o permanente desafio com que esvoaçam. Sinto que temos sempre a aprender com a contemplação da natureza, no comportamento de outros seres vivos.
    Façamos nossas as palavras de Frei José Carlos e …”Que o Espirito vença em nós as resistências e as hesitações que tão frequentemente nos impedem de nascer de novo, de disfrutar de uma nova oportunidade, de viver a vida em plenitude em cada momento nascente.”
    Grata, Frei José Carlos, pela partilha da Meditação, profunda, bela, pelas palavras de coragem, confiança e esperança que nos transmitem. Que o Senhor o ilumine, o guarde e o abençoe e que nos ajude a renascer.
    Bom descanso.
    Um abraço fraterno,
    Maria José Silva

    P.S. Permita-me, Frei José Carlos, que partilhe de novo o texto de uma oração.

    A VENTANIA
    DE DEUS

    Penso nos vários sentidos que a palavra Espírito tem no texto bíblico: sopro, hálito vital, vento ...
    E é isso que me apetece rezar esta manhã, Senhor. Sopra sobre o indeciso, venha o sussurro do Teu alento
    íntimo renovar o hesitante, a ventania de Deus nos mova. Parecemo-nos tanto a embarcações travadas,
    velas erguidas sem a energia de novas praias, de intactos e aventurosos cabos ... Os nossos barcos rodam apenas
    em redor de si próprios. Manda, Senhor, a pulsão do Espírito, o ânimo criador que incessantemente nos coloca ao
    encontro da novidade e da beleza do Teu Reino.

    (In, Um Deus Que Dança, Itinerários para a Oração, José Tolentino Mendonça, 2011)

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