sexta-feira, 5 de abril de 2013

Naquela noite não apanharam nada (Jo 21,3)

O último capítulo do Evangelho de São João apresenta-nos desde o primeiro momento a terceira aparição de Jesus ressuscitado aos discípulos, uma aparição que ocorre na margem do lago, depois de uma noite de fadiga e trabalho sem qualquer fruto, neste caso sem qualquer peixe.
Podemos imaginar o desalento dos discípulos, daquele grupo de homens que deixa o conforto das suas casas para passar a noite nos frágeis barcos a tentar pescar algum peixe que lhes pudesse servir de alimento e certamente de mercadoria para venderem.
Mas não necessitamos imaginar, porque sabemos por experiência o desalento que sentimos quando também nós depois de um tempo de trabalho, de um esforço aplicado, não vemos os frutos desse mesmo trabalho e esforço. Quantas vezes não pensamos em desistir ou voltamos desiludidos face aos resultados insuficientes.
A aparição de Jesus nas margens do lago, depois daquela noite de insucesso, mostra-nos que possivelmente há necessidade dessa noite perdida, há necessidade de passarmos por essa experiência de desalento, pois só dessa forma podemos confrontar-nos com as nossas forças limitadas, com a nossa incapacidade, e com a necessidade de confiarmos e nos confiarmos à acção de Deus.
Depois daquela noite infrutuosa os discípulos encontraram Jesus na margem do lago, mas só foram capazes de o identificar, o discípulo amado foi capaz de o identificar, depois de obedecendo à sua palavra se enfrentarem com uma rede cheia de grandes peixes.
É nas margens do nosso esforço, ao raiar do dia depois de um noite de insucesso, que se escutarmos a palavra de Jesus nos podemos encontrar com o fruto do trabalho e do esforço, com o fruto da acção da graça divina na nossa acção humana.
Com a Palavra de Jesus as nossas noites e os nossos fracassos, os nossos insucessos e desalentos, podem tornar-se passagem do vazio à plenitude, podem tornar-se encontros frutuosos da graça de Deus nas nossas parcas forças e capacidades.
Necessitamos para tal não desanimar e confiar a toda a prova na presença de Deus nas nossas vidas e nesses momentos de escuridão e noite. Se o fizermos experimentaremos a alegria da passagem de Deus que ilumina a nossa noite.
 
Ilustração: “Pesca milagrosa”, de Henri-Pierre Picou, Museu de belas Artes de Nantes.

2 comentários:

  1. Bom dia, Frei José Carlos,

    Fico a reflectir nas palavras confiantes e de esperança do texto que teceu da Meditação que teceu e partilha. Palavras que não só nos conscienlizam das nossas limitações como nos ajudam a aceitar os nossos sofrimentos, os desalentos, os fracassos e a certeza da presença constante de Deus nas nossas vidas.
    Como Frei José Carlos afirma ..” É nas margens do nosso esforço, ao raiar do dia depois de um noite de insucesso, que se escutarmos a palavra de Jesus nos podemos encontrar com o fruto do trabalho e do esforço, com o fruto da acção da graça divina na nossa acção humana.
    Com a Palavra de Jesus as nossas noites e os nossos fracassos, os nossos insucessos e desalentos, podem tornar-se passagem do vazio à plenitude, podem tornar-se encontros frutuosos da graça de Deus nas nossas parcas forças e capacidades.”…
    Grata, Frei José Carlos, pelas palavras partilhadas de confiança na Palavra de Jesus e esperança, de humanidade, por exortar-nos a …” não desanimar e confiar a toda a prova na presença de Deus nas nossas vidas e nesses momentos de escuridão e noite”. …
    Que o Senhor o ilumine, o guarde e o abençoe.
    Votos de um bom fim-de-semana.
    Um abraço fraterno,
    Maria José Silva

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  2. De facto,se confiamos verdadeiramente, não há noite que não se transforme em dia, com a passagem de Deus pelas nossas vidas. Inter Pars

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