segunda-feira, 4 de junho de 2012

E a herança será nossa. (Mc 12,7)

Naquele tempo Jesus começou a falar em parábolas aos príncipes dos sacerdotes, aos escribas e aos anciãos do povo, e num desafio total apresenta-lhes a parábola dos vinhateiros assassinos.
Um desafio total porque o drama da parábola coloca aqueles homens e qualquer um dos interlocutores desta parábola face ao desejo de propriedade, de posse, que se revolve em cada um de nós.
Aqueles arrendatários da vinha, de quem o senhor esperava no tempo oportuno os frutos devidos, não se apoderaram apenas dos outros servos que maltrataram, nem do filho do proprietário que assassinaram, eles tinham-se apoderado da própria vinha, consideravam como seu o que não lhes pertencia por direito nenhum.
No contexto histórico não podemos deixar de perceber que Jesus está a fazer uma crítica muito severa àqueles que se tinham apoderado da Aliança de Deus, àqueles que a consideravam como propriedade sua e portanto não se preocupavam em entregar os frutos que eram devidos.
Neste sentido o desejo de prender Jesus é mais que normal, pois a parábola atacava profundamente os interesses e o estatuto daqueles que o ouviam, colocava-os face ao pecado da inviabilização da Aliança que eles tinham consumado e continuavam a praticar.
Hoje esta parábola coloca diante de nós o desejo de posse e propriedade, os mecanismos de violência que tantas vezes desenvolvemos para nos apossarmos daquilo que pertence ao outro, seja um bem material ou um bem moral como o bom nome.
E Jesus revela-nos que não somos donos de nada, e que todas as tentativas de apropriação do que é do outro, seja o outro nosso irmão ou Deus, apenas nos conduzem à condenação. A obra da criação e a Palavra de Deus revela-nos que somos administradores, apenas administradores, e portanto antes de mais devemos ser responsáveis pelo que nos foi confiado.
A forma como nos comportamos face aos bens naturais deste mundo, às oportunidades de realização, aos outros que partilham a nossa vida, é assim desafiada a uma liberdade responsável, a um sentido de despojamento acompanhado de um grande cuidado.
Nada é nosso, mas tudo devemos cuidar como se fosse nosso.

Ilustração: Amanhando a terra em Camponaraya. Caminho de Santiago. 20 Maio 2010.

1 comentário:

  1. Frei José Carlos,

    Ao lembrar-nos a parábola dos vinhateiros assassinos enquadrada no Evangelho do dia de hoje (Mc 12, 1-12), recorda-nos que …” Hoje esta parábola coloca diante de nós o desejo de posse e propriedade, os mecanismos de violência que tantas vezes desenvolvemos para nos apossarmos daquilo que pertence ao outro, seja um bem material ou um bem moral como o bom nome.
    E Jesus revela-nos que não somos donos de nada, e que todas as tentativas de apropriação do que é do outro, seja o outro nosso irmão ou Deus, apenas nos conduzem à condenação. A obra da criação e a Palavra de Deus revela-nos que somos administradores, apenas administradores, e portanto antes de mais devemos ser responsáveis pelo que nos foi confiado”. …
    Grata, Frei José Carlos, pela partilha da Meditação, profunda, que nos desinstala, por enfatizar-nos que …” Nada é nosso, mas tudo devemos cuidar como se fosse nosso.”
    Que o Senhor o ilumine e o guarde.
    Um abraço fraterno,
    Maria José Silva

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