quinta-feira, 14 de junho de 2012

Encerramento do Seminário Dominicano de Fátima. Notícia falsa?

O jornal “A Voz”, no dia 11 de Agosto de 1967, publicava quase despercebida na sua página 2 a seguinte notícia:
Encerramento de um seminário dominicano
De fonte eclesiástica portuguesa geralmente fidedigna (como dizem as agências), consta-nos que o mestre geral da Ordem de São Domingos mandou encerrar o seminário dominicano de Fátima e dispersar o corpo docente e discente. Supõe-se que o motivo são os estragos do ‘progressismo’ nesta era pós conciliar.”

Face a tal notícia, no dia seguinte, o Prior Provincial frei Raul de Almeida Rolo viu-se obrigado a escrever ao jornal a solicitar a publicação de uma carta, pois “é uma instituição veneranda pelo passado e honesta no presente que foi gravemente afrontada por um informador leviano e sem escrúpulo”.

Ainda nesse mesmo dia, 12 de Agosto, Diniz da Luz da parte do jornal envia um telegrama ao Prior Provincial frei Raul Rolo: “Ausência Director apresento desculpas, jornal informando sairá longa nota lastimando equívoco amanhã, mal imagina vossa reverendíssima fonte notícia, creia nos desolados penitentes, nada género se repetirá bem vinda qualquer nota sua.”

No dia 13 de Agosto e tal como prometido por Diniz da Luz era publicado o desmentido

Notícia Felizmente sem Fundamento
A do Encerramento de um Seminário Dominicano
Anteontem, neste mesma secção, embora sem qualquer relevo, publicámos a seguinte local:
«De fonte eclesiástica portuguesa geralmente fidedigna (como dizem as agências), consta-nos que o mestre geral da Ordem de São Domingos mandou encerrar o seminário dominicano de Fátima e dispersar o corpo docente e discente. Supõe-se que o motivo são os estragos do PROGRESSISMO nesta era pós conciliar.»
Apesar de termos como fidedigna e certa a notícia, publicámo-la com as costumadas reservas das agências noticiosas. Não fosse o Diabo tecê-las e dispará-las…
Pois foi o que sucedeu – e felizmente. Isto é, a notícia não correspondia à verdade.
No mesmo dia à noite, teve a bondade e paciência de nos telefonar de Fátima o ilustre e venerando provincial dos dominicanos portugueses, reverendo Dr. Raul de Almeida Rolo, a esclarecer-nos de que não tem qualquer fundamento a notícia que déramos, embora com certa reserva.
Devemos, pois, uma palavra de desculpa e explicação ao seminário assim visado injustamente e também aos nossos leitores. E até a nós próprios.
Agimos com boa fé, como a que admitimos e sabemos em quem nos informou e demos a notícia sem qualquer realce e – insistimos – com as devidas cautelas da redacção (pelo sim pelo não).
Da mesma fonte – podemos afirmar – e durante longos anos, quase um quarto de século, nos têm chegado informes nunca até hoje desmentidos. Alguma vez havia de ser o percalço – e com ele, desta vez sem exemplo, nos regozijamos, em homenagem à verdade.
Não é literatura de desculpa: nós próprios nos espantamos de como poderá ter nascido esse boato que nos chegou com foros de notícia certa e por via límpida. Tratou-se certamente, na origem da informação, de um mal entendido, lastimável sem dúvida.
Como está em voga a crise dos seminários – e o encerramento de alguns, no estrangeiro ao menos – a notícia que penosamente tivemos por fidedigna não obteve o nosso silêncio, o que foi pena, desta vez. Cavacos de oficio espinhosos, nesta era pós conciliar…
Insistimos. Nunca nos passou pela cabeça dada a nossa habitual confiança na referida fonte informativa, que pudesse não ser de todo exacta a notícia ao fim e ao cabo infeliz. E como sabemos da crise que existe nos seminários (e a ela nos temos referido algumas e muitas vezes) e não vemos vantagem numa «coutada» de silêncio na Igreja portuguesa (isto é, a respeito dos acontecimentos religiosos em Portugal), cedemos ao interesse aparente da notícia.
Às vezes, quem sabe? no melhor pano branco dominicano podia ter caído a nódoa do nosso tempo. Assim não foi e assim não é, pelos vistos.
Felizmente, a notícia que demos não foi uma «caixinha» jornalística: foi o que se chama um «caixão». E antes assim, sinceramente.
Esperemos a justiça de se admitir que ao darmos a notícia inexacta, nenhuma animosidade nos moveu contra aquela escola de formação religiosa e muito menos contra a Ordem de São Domingos a cuja feliz restauração em Portugal, na medida das nossas informações e possibilidades, temos feito sempre, e sem favor, as melhores e justas referências. Todos, na verdade, sabemos o que Portugal, através da história e em nossos dias outra vez, deve aos dominicanos.
Mesmo que fosse verdade – e não é – o que informámos, nem na informação haveria qualquer intuito de agravo ou melindre, como não há quando, a bem dizer dia a dia, se dá e damos conta de certos sinais dos tempos. Notícias exactas não são agravos, o que felizmente não é agora o caso. O «infelizmente» é apenas a respeito da nossa informação errónea.
Apresentamos todas as desculpas ao seminário visado e todas as felicitações e votos pelo seu progresso ao serviço de um Ordem egrégia. E que benignamente São Domingos nos perdoe – e também o insigne Provincial, a quem, até aqui, na medida embora da nossa fraqueza, temos procurado ajudar a levar a «cruz» luminosa e salutar do seu mandato.”

Face à notícia e ao pedido de desculpas podemos interrogar-nos se houve de facto um mal entendido, ou pelo contrário, se a fonte jornalística estava na posse de conhecimentos bem fundamentados da vida privada dominicana.


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