Ao celebrarmos a memória de São Pedro Mártir trazemos para o conhecimento de todos mais um episódio da vida deste Santo Dominicano, um milagre que revela a profunda protecção da Ordem e dos seus filhos pela Virgem Maria. Uma vez mais servimo-nos do texto que frei Manuel de Lima compôs para o Agiológio Dominico publicado em Lisboa em 1710 na Oficina de António Pedrozo Galram.
Quanto mais se publicava a fama da santidade, doutrina, e milagres do nosso Santo frei Pedro, tanto crescia mais nos hereges a obstinação, e raiva, com que procuravam todas as ocasiões de desacreditá-lo.
Tinha já o Sumo Pontífice inocência IV instituído a frei Pedro Inquisidor da Fé em todo o estado de Milão, contra a herética pravidade, e ele andava incansavelmente exercitando este oficio, e lançando fora do escolhido campo da Igreja, as maliciosas raposas de Sansão, que com o fogo da sua perversa doutrina intentavam abrasar as verdades Católicas. Não se pode explicar quanto lhe custou o querer exercitar fielmente este ministério; porém favorecia-o Deus à custa de prodígios, como veremos.
Tinha-se determinado uma pública, e solene disputa em matérias da Fé entre os hereges, e Católicos; assignado o dia, e escolhida a hora juntaram-se os hereges no lugar destinado, e os Católicos não apareciam. Sucedeu que neste tempo passou o Santo Inquisidor a caso por aquela parte. Convidaram-no os inimigos da Fé para a disputa, visto faltarem os seus Cristãos. Foi isto tão público, e diante de tanta gente, que não podia o Santo deixar de aceitar, não obstante entender, que disputas públicas em semelhantes matérias, nunca convêm sem preceder grande estudo, e oração. Por obviar o escândalo, se resolveu a assistir à contenda.
Começou logo um dos hereges, que era o Mestre dos mais, a propor os sofísticos argumentos; e o fez com tal arrogância, com palavras tão concertadas, e com falácias tão subtis, porque era homem de muito engenho, e eloquência, que o Santo se viu perplexo, e pediu tanto tempo para responder, quanto foi necessário para ir a uma igreja vizinha a fazer breve oração.
Concedida a súplica, entrou ele no templo, com grande aflição: porque conjurando-se o inferno com a heresia, o tentou o demónio com alguns enganos. Prostrou-se diante de uma imagem de Nossa Senhora pedindo-lhe, que como destruidora das heresias, quisesse alcançar-lhe a firmeza da Fé; e como estrela da manhã, luz para responder a tão altivo competidor, e confundir a sua soberba.
Consolou a Rainha dos Anjos este fidelíssimo servo: dizendo-lhe por boca da sua imagem as mesmas palavras, que seu Unigénito Filho disse à cabeça da Igreja, e Príncipe dos Apóstolos São Pedro. ‘Eu roguei por ti, Pedro, para que não falte a tua fé; livre de teus inimigos, confirma os teus Irmãos, que são os mais Religiosos da tua Ordem, que te hão-de seguir no Oficio’.
Animado São Pedro com esta promessa, voltou onde o contrário o estava esperando com grande multidão de hereges, dando-se já por certa a vitória. Pediu-lhe o servo de Deus, que tornasse a repetir os argumentos propostos para lhe dar a resposta em forma. E querendo o herege fazê-lo, achou que o Senhor lhe tinha presa a língua; de tal modo, que por mais que quis dizer, não pôde proferir palavra.
Vendo-se impossibilitado para falar, intentou explicar-se com sinais; mas então acabou este perverso de conhecer, que não só estava mudo, mas imóvel para fazer semelhantes demonstrações. Confuso, e pasmado, o Heresiarca com todos os seus companheiros, se ausentaram; e os Católicos alegres, ficaram louvando a Deus.
À vista de caso tão prodigioso, se seguiram milagrosos efeitos: porque dos hereges, que estavam presentes, se reduziram muitos à nossa Fé. [1]
[1] LIMA, Frei Manuel de – Agiológio Dominico. Tomo II. Lisboa, Oficina de António Pedrozo Galrram, 1710, páginas 143-144.
Ilustração: “A morte de São Pedro de Verona”, de Giovanni Gerolamo Savoldo.
Frei José Carlos,
ResponderEliminarObrigada por partilhar connosco um episódio da vida de São Pedro de Verona, Mártir Dominicano, no dia em que a Igreja e particularmente, a Ordem de São Domingos celebra a sua Memória, que como nos afirma …”revela a profunda protecção da Ordem e dos seus filhos pela Virgem Maria.”…
Frei José Carlos, o texto que partilha faz-nos reflectir sobre o bem e o combate do mal. Que o Senhor o abençõe e proteja.
Um abraço fraterno,
Maria José Silva