sexta-feira, 15 de junho de 2012

A verdade possível sobre o encerramento do Seminário Dominicano de Fátima

Face à notícia do encerramento do seminário dominicano de Fátima, o Prior Provincial, frei Raul de Almeida Rolo, escreveu ao jornal A VOZ um carta de esclarecimento que foi publicada no dia 14 de Agosto de 1967.
Nesse mesmo dia, e na primeira página do jornal, aparecia em caixa o destaque sobre a abertura em Lisboa do Centro de Estudos Eclesiásticos.

Os Dominicanos restabelecem a verdade explicando o que realmente se passou
O reverendíssimo Dr. Frei Raul de Almeida Rolo, Provincial da Ordem de São Domingos em Portugal, vice-presidente da Conferência Nacional dos Institutos Religiosos e presidente da Comissão Instaladora, eleito pela Assembleia Geral dos Provinciais federados para a fundação de um Centro de Estudos Eclesiásticos, comum a diversos institutos religiosos, enviou-nos com pedido de publicação, uma carta esclarecimento a uma notícia publicada no nosso jornal e já por nós rectificada.
Eis o esclarecimento do insigne Provincial, por nós solicitado, logo que tivemos conhecimento do equívoco:
… Senhor Director do jornal «A Voz» Lisboa.
Senhor, Digne-se Vossa Excelência aceitar os meus respeitosos cumprimentos.
Fiquei profundamente impressionado e com o sentimento da mais viva repulsa pela falsa e caluniosa notícia enviada ao nosso jornal e neste publicada no dia 11 do corrente mês sob a epígrafe – Encerramento de um Seminário Dominicano – seguida ainda de breve mas tendenciosa e malévola interpretação.
Como efectivamente o Estudo Dominicano de Filosofia e Teologia se suspende agora em Fátima – porém, muito ao contrário do que supunha o vosso informador, por motivos que muito o acreditam e honram – creio ser de pura ética e de elementar justiça esclarecer de quanto segue os respeitáveis leitores do conceituado jornal que Vossa Excelência tão superiormente dirige:
1 – O Estudo dominicano de Fátima é centro de formação filosófica e teológica para os alunos dominicanos, carmelitanos, missões da Consolata e da Sociedade do Verbo Divino. Nele ensinam professores dominicanos e carmelitas.
2 – Em virtude dos resultados positivos desta colaboração, e de a maior parte dos institutos religiosos em Portugal ainda não ter resolvido o problema dos estudos de filosofia e de teologia, o Provincial dos dominicanos, juntamente com os Provinciais dos institutos que formam o Estudo de Fátima, propuseram na Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Institutos Religiosos, celebrada em 24 de Abril último, ampliar a experiência de Fátima por uma cooperação mais vasta dos institutos religiosos no campo da formação.
3 – Aderiram a esta proposta quinze institutos religiosos, reunindo-se os respectivos Provinciais na tarde desse mesmo dia para iniciar o projecto de execução.
4 – Por resolução unânime, determinou-se que o Centro de Estudos Eclesiásticos se estabelecesse em Lisboa, para facilitar uma cooperação mais íntima com a futura Universidade da Igreja, por parte dos institutos religiosos.
5 – Este Centro de Estudos Eclesiásticos está em vias de organização, esperando-se poder abrir já no próximo ano lectivo de 1967-1968.
6 – Em vista do acolhimento da proposta feita em 24 de Abril e do bom andamento para a sua realização, o Conselho Provincial dos Dominicanos, nas suas reuniões celebradas em 26 de Maio e 4 de Julho, votou um súplica a dirigir ao seu reverendíssimo Mestre Geral, no sentido de ser autorizada a cooperação plena e a consequente integração do Estudo de Fátima no Centro de Estudos Eclesiásticos de Lisboa.
7 – Para presidente da Comissão Instaladora do novo centro de Estudos, formada por Provinciais e professores, foi eleito o Provincial dos Dominicanos. Para presidir à secção dos professores foi eleito também o dominicano Frei Raimundo Duarte de Oliveira, director do Estudo de Fátima.
8 – Todos os professores dominicanos portugueses que ensinam em Fátima são professores efectivos do Centro de Lisboa, excepto um, por ter sido convidado pelo Instituto Teológico de Otava (Canadá), para aí reger um curso de teologia.
9 – É, pois, em virtude de um gesto de confiança de um maior número de institutos religiosos pela experiência realizada no Estudo Dominicano de Fátima que esta experiência se amplia transferindo-se para Lisboa.
Reiterando os meus melhores cumprimentos, me subscrevo de Vossa Excelência Atento e Venerando.
Padre frei Raul de Almeida Rolo, OP, Prior Provincial
Fátima, 12 de Agosto de 1967
Convento dos Padres Dominicanos. Fátima.

Muito nos apraz este esclarecimento e agradecer a gentileza das palavras do venerando Provincial. Seria caso, noutras circunstâncias menos penosas, para dizer que há males que vêm por bem…
Apenas um breve reparo: «a breve mas tendenciosa e malévola interpretação a que se refere o ilustre superior religioso tinha apenas a intenção de explicar o motivo do suposto encerramento disciplinar.
Como se vê as aparências iludem quase sempre os incautos. A verdade é que a ordem dominicana acaba de ser honrada mais uma vez e de forma tão notável, com o que muito nos regozijamos.”

A bem da verdade histórica, há que assumir que a interpretação tendenciosa e malévola, não era tão tendenciosa e malévola como se fez crer, que a fonte da notícia estava verdadeiramente bem informada da vida dominicana, e que o projecto do Centro de Estudos Eclesiásticos foi uma solução bastante digna para uma situação extremamente difícil de que a correspondência com o Mestre da Ordem Aniceto Fernandez é testemunha documental.

1 comentário:

  1. Frei José Carlos,

    Li com interesse os dois textos que publicou sobre o encerramento do Seminário Dominicano de Fátima que intitulou ... .“Notícia Falsa?” e “A verdade possível” ...
    Da leitura dos mesmos, como afirma Frei José Carlos ...” Face à notícia e ao pedido de desculpas podemos interrogar-nos se houve de facto um mal entendido, ou pelo contrário, se a fonte jornalística estava na posse de conhecimentos bem fundamentados da vida privada dominicana” e …” o projecto do Centro de Estudos Eclesiásticos foi uma solução bastante digna para uma situação extremamente difícil de que a correspondência com o Mestre da Ordem Aniceto Fernandez é testemunha documental.”
    A forma como é feito o desmentido é ilustrativa de que não se trata de um mal entendido. Para mim a questão não está na divulgação do facto em si mas a forma como são feitas as considerações sobre o acontecimento.
    Desde há muito sabemos que a actividade jornalística é uma forma de poder que se afirmou nas últimas décadas … Pode e deve ter um papel importante na informação e formação de cada um de nós mas pode ser consideravelmente demolidora, manipuladora … A comunicação social deve ser um meio ao serviço do homem.
    Grata pela partilha dos textos que nos permitem conhecer melhor a História da Província e no caso em apreço faz-nos reflectir sobre o passado e o presente do jornalismo. Bem-haja.
    Votos de um bom fim-de-semana.
    Um abraço fraterno,
    Maria José Silva

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