Jesus começa por estar em Jerusalém, onde foi
aclamado pelo povo. Vai passar a noite a Betânia e na manhã seguinte não
encontra figos numa figueira verdejante. Estando com fome, e não encontrando os
figos que procura, Jesus amaldiçoa a figueira, apesar de não ser tempo de
figos.
Entretanto Jesus regressa a Jerusalém e no templo
começa a expulsar os vendedores e a derrubar as bancas dos comerciantes, o que
provoca a ira dos príncipes dos sacerdotes, que não tomam a decisão de o fazer
morrer por medo da multidão.
Ao fim do dia sai novamente da cidade e na manhã
seguinte face à constatação de Pedro de que a figueira amaldiçoada tinha secado
Jesus fala aos discípulos sobre a oração e o seu poder.
É uma movimentação estranha, uma circunstância que
não se adequa muito ao que conhecemos de Jesus, à sua bondade e mansidão.
Contudo, se nos encontramos com este contraste, com esta diferença tão
significativa, é porque ela visa realçar a realidade do ensinamento de Jesus, a
fé na oração e no seu poder.
Neste sentido, a maldição da figueira, fora todas
as relações possíveis com o povo judaico e a sua falta de frutos face à aliança
com Deus, visa mostrar o poder da palavra, não só de Jesus, mas de toda a
palavra que sai da boca humana, e muito concretamente neste caso da palavra da
oração.
A palavra tem de facto um poder performativo, e
quando é proferida com fé, com a convicção e confiança da sua operacionalidade,
ela produz os seus resultados, realiza o enunciado expresso. É de facto o poder
do Espirito na palavra, o seu poder agente.
Por outro lado, e neste contexto a expulsão dos
vendedores do templo, visa mostrar a pureza do poder da palavra, o poder
próprio, pelo que os intermediários e as mediações perdem todo o seu sentido e
justificação. Diante da acção da palavra, as ofertas e os sacrifícios como
elementos propiciatórios da acção deixam de ter eficácia, e portanto podem ser
derrubados.
Compreende-se pois, desta forma, as palavras de
Jesus quando nos diz que acreditemos que já recebemos tudo o que pedimos na
oração. De facto, a palavra pelo seu poder operativo, proferida com fé,
alcança-nos o que pedimos.
Contudo, para que tal aconteça há uma condição que
antecede a própria petição e a fé, e que é a paz de coração, o haver perdoado
àqueles que nos possam ter ofendido. Necessitamos perdoar para que Deus também
nos perdoe, purificar o nosso coração de qualquer mau sentimento para que Deus
possa plenificar a nossa pureza e realizar o que lhe solicitamos e esperamos.
Confiemos pois nas palavras de Jesus, e na pureza
do nosso coração, com fé e confiança, peçamos ao Senhor o que necessitamos, o
que o Espirito geme em nós para a nossa realização plena e felicidade eterna.
Ilustração: “Jesus purificando o templo”, de
Bernardo Belloto. Museu Nacional de Varsóvia.
Fr. José Carlos, parece que é de propósito que escolhe certas citações para um título de post. Devolve-me à meditação, é um título arriscado precisamente porque a mensagem é para todos e compreender uma frase como esta implica um mergulho profundo ao coração do Evangelho. Não será difícil também imaginar as “caricaturas “que se formaram em redor dela, digo-o, talvez porque numa determinada fase da minha vida me questionei sobre o seu significado. Parece que Deus vai satisfazer todos os pedidos tornando-se um provedor de necessidades numa oração sem compromisso do género “peço e dás-me” em lugar de uma oração com compromisso, com tarefa e acção humana. Então, em princípio, um cristão tem de acreditar que está a orar exactamente à “inutilidade” de Deus, para que a oração seja autêntica. É psicologicamente difícil recolher demoradamente para uma oração. Aprendi que orar não consiste em precisar ou não de algo mas ter consciência de um desejo genuíno de ter e amar a Deus na minha vida por Ele ser, apenas por Ele ser. É como desejar o impossível sabendo que a necessidade não pode ser satisfeita, logo, sem esperar nada em troca, deixando o desejo tornar-se mais profundo, sempre a renunciar ao poder de Deus para satisfazer pedidos. Quem renuncia ao poder, pode de facto pedir e já o terá recebido. Deus sabe o interior de cada um e portanto ninguém Lhe ensina nada. Importa pois estar-se num estado de confidência profundo e verdadeiro. Orar é confidenciar. E por outro lado é fazer do quotidiano a própria oração, sentindo Deus em todas as tarefas. Nesse sentido, sei que em cada decisão que tomo, Deus encontra-se presente sem me julgar e sem ser protagonista nas minhas decisões e portanto, sei que devo ser espontaneamente construtiva e humanizante nos meus actos e pedir que o Espirito Santo me seja uma presença maior. Quando alguém pede bens materiais para salvaguardar o seu bem estar e dos seus, creio que também pode estar a assumir a condição de Deus como Pai, acolhendo deste modo numa atitude filial e neste sentido, os pedidos que faz são no fundo aquela súplica interior que é o querer ser transformado por Deus. Aí será sempre atendido. A percepção disto é um progresso gigantesco na vida espiritual e orar não será mais do que pedir a Deus o que Ele quer de facto dar.
ResponderEliminarAbraço fraterno Fr. José Carlos.
Frei José Carlos,
ResponderEliminarÉ interessante e importante que tenha falado no texto da Meditação da “fé na oração e no seu poder”. Por vezes, perguntamo-nos se Deus conhece o nosso pensamento, o nosso coração, as nossas fragilidades e angústias e se tudo o que nos dá é gratuito, por que orar? Em verdade, a oração é a nossa principal forma de comunicação, de diálogo com Deus, fundamental à nossa vida espiritual, com diversos efeitos.
Como nos salienta ...” A palavra tem de facto um poder performativo, e quando é proferida com fé, com a convicção e confiança da sua operacionalidade, ela produz os seus resultados, realiza o enunciado expresso. É de facto o poder do Espirito na palavra, o seu poder agente.(…)
(…) a palavra pelo seu poder operativo, proferida com fé, alcança-nos o que pedimos”.
Mas como nos recorda existe uma condição prévia …” que antecede a própria petição e a fé, e que é a paz de coração, o haver perdoado àqueles que nos possam ter ofendido. Necessitamos perdoar para que Deus também nos perdoe, purificar o nosso coração de qualquer mau sentimento para que Deus possa plenificar a nossa pureza e realizar o que lhe solicitamos e esperamos.”
Façamos nossas as palavras de Frei José Carlos e …” Confiemos pois nas palavras de Jesus, e na pureza do nosso coração, com fé e confiança, peçamos ao Senhor o que necessitamos, o que o Espirito geme em nós para a nossa realização plena e felicidade eterna.”
Grata, Frei José Carlos, pela partilha da Meditação que nos ajuda a reflectir e a prosseguir a caminhada. Que o Senhor o abençõe e o guarde.
Um abraço fraterno,
Maria José Silva
P.S. Permita-me, Frei José Carlos, que partilhe de novo o texto de uma oração.
ORAÇÃO DO
TEMPO
Senhor, de todas as perguntas com que Tu me deixas, há uma que cresce dentro de mim: “que fazes do teu tempo?”.
Sabes, perco-me nas tarefas, nas voltas a dar, nesta e naquela responsabilidade, num imprevisto ... e no meio disso tudo,
confesso, o tempo da minha vida assemelha-se mais a uma fuga que a uma sementeira. Hoje, queria pedir-te que me desses
a sabedoria de viver e de repartir o meu tempo. Ajuda-me a realizar o meu trabalho e o meu lazer, o meu esforço e a minha pausa como tempos de dádiva e de encontro. Como tempos que não sejam apenas tempo, mas circulação de vida, de entusiasmo, de criação e afecto.
(In, Um Deus Que Dança, Itinerários para a Oração, José Tolentino Mendonça, 2011)
Não é fácil esse perdão para quem no dia a dia insiste em fazer mal aos outros. Onde está pois a justiça divina? Miguel
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