sábado, 2 de junho de 2012

Também eu não vos digo com que autoridade faço isto. (Mc 11,33)

É depois do episódio da expulsão dos vendedores do templo que os príncipes dos sacerdotes procuram Jesus para o interrogar sobre a autoridade para a realização de tal acto. Atitude institucionalmente correcta, não só por causa da violência de Jesus, mas sobretudo pela falta de vinculação ao templo, pois Jesus não era sacerdote, nem da tribo sacerdotal de Levi, e muito menos era um funcionário do templo. Com que autoridade tinha feito aquilo?
Não lhes respondendo directamente, Jesus coloca aos príncipes dos sacerdotes uma pergunta embaraçante, pois questiona-os sobre a natureza do baptismo de João, sobre a autoridade de João em conexão com o baptismo praticado.
E é perante esta questão, a exigência de uma resposta, que os príncipes dos sacerdotes vacilam, se encerram numa contradição fatal, pois não reconhecendo nem a natureza divina nem a natureza humana do baptismo de João anulam a sua própria autoridade para perguntar pela autoridade de Jesus.
Manifesta-se desta forma a hipocrisia de os príncipes dos sacerdotes e de certa forma um ensinamento de Jesus presente em outra passagem dos Evangelhos, “que a vossa palavra seja sim ou não”, que haja uma coerência entre a palavra e a vida, que a verdade seja o princípio da vida.
Não encontrando sinceridade, nem verdade nos seus opositores, Jesus reserva-se o direito de não defender nem justificar a autoridade que possuía para realizar o que realizou. Há necessidade de uma coerência por parte do interlocutor para que Jesus se manifeste.
Neste sentido, também nós, na nossa relação com Deus, necessitamos de uma verdade intrínseca, de assumir com coerência as nossas próprias realidades e limitações, as nossas falhas e infidelidades, a nossa verdade com o que ela possa comportar de menos agradável ou fiel.
Não nos podemos apresentar diante de Deus com subterfúgios, com manobras que nos afastam da verdade e nos retiram o poder de relação e interpelação. E quantas vezes o fazemos desavergonhadamente.
Necessitamos por isso apresentar-nos em verdade diante de Deus para que a relação se estabeleça e o Senhor possa responder à nossa interpelação. E ainda que a resposta seja silenciosa não podemos deixar de insistir, pois na medida do encontro com a nossa verdade aumenta a possibilidade do encontro e da resposta de Deus.

Ilustração: “Os fariseus interrogam Jesus”, de James Joseph Jacques Tissot, Brooklyn Museum.

2 comentários:

  1. Frei José Carlos,

    Agradeço-lhe este maravilhoso texto do Evangelho de São Marcos,que partilhou connosco.Li com muito interesse,Meditação tão profunda,que muito gostei.Como nos diz o Frei José Carlos,faço minhas as suas palavras imprescindíveis,também nós,na nossa relação con Deus,necessitamos de uma verdade intrísseca,de assumir com coerência as nossas próprias limitações,as nossas falhas e infidelidades,a nossa verdade com o que ela possa comportar de menos agradável ou fiel.Obrigada,Frei José Carlos,por esta maravilhosa partilha de Meditação,pela beleza da ilustracão,que nos ajuda a uma reflecção muito mais rica de sentido.Bem-haja.Desejo-lhe uma boa semana.Que o Senhor o ilumine e o proteja.
    Um abraço fraterno.
    AD

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  2. Frei José Carlos,

    Bem-haja por recordar-nos verdades fundamentais e que passo a transcrever ...” um ensinamento de Jesus presente em outra passagem dos Evangelhos, “que a vossa palavra seja sim ou não”, que haja uma coerência entre a palavra e a vida, que a verdade seja o princípio da vida.” (…)
    Na realidade, Frei José Carlos, no quotidiano de cada um de nós, o princípio da verdade e a coerência entre a palavra e a vida, é essencial, na relação com Deus, connosco próprios e com o nosso próximo. Afinal, em todas as relações, indepentemente do contexto e do outro.
    Como nos afirma ...” também nós, na nossa relação com Deus, necessitamos de uma verdade intrínseca, de assumir com coerência as nossas próprias realidades e limitações, as nossas falhas e infidelidades, a nossa verdade com o que ela possa comportar de menos agradável ou fiel.”…
    Grata, Frei José Carlos, pelo desassombro das palavras partilhadas, por nos salientar que na nossa relação com Deus …” ainda que a resposta seja silenciosa não podemos deixar de insistir, pois na medida do encontro com a nossa verdade aumenta a possibilidade do encontro e da resposta de Deus.”
    Obrigada, Frei José Carlos, pela partilha da Meditação, por nos recordar princípios fundamentais da nossa existência. Que o Senhor o abençõe e o guarde.
    Um abraço fraterno,
    Maria José Silva

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