É muito fácil colocarmos etiquetas, dividirmos em grupos ou facções, para sabermos com o que lidamos, que abordagem desenvolver na nossa relação.
Temos assim aqueles que nos são próximos e os que nos são distantes, os vizinhos do lado e os do último andar, o colega da secretária e a amiga com quem vamos tomar café no intervalo da manhã.
Temos os irmãos, a família, os amigos, os conhecidos e os desconhecidos, e agora no mundo cibernético temos a possibilidade de ter amigos que nunca vimos, cuja proximidade se estabelece por um “like”, por um “aceito”.
A lei que organizava o povo de Israel e as suas relações com os povos vizinhos estava também estruturada nestas categorias de proximidade e distância. Era assim obrigatório amar o próximo e possível odiar o inimigo, ainda que este inimigo pudesse ser próximo.
A diversidade das situações que a lei abarcava deixa perceber que não era fácil etiquetar e definir o inimigo, e por isso qualquer israelita devia obrigatoriamente conduzir o boi perdido a casa do dono, fosse ele amigo ou inimigo.
Face a esta ambiguidade e diversidade, Jesus apela ao primordial, coloca diante dos seus ouvintes o que era verdadeiramente fundamental, a igualdade de todos face a Deus, porque para Deus não há bons nem maus, Deus para todos faz nascer o sol e cair a chuva, ou seja, dá uma oportunidade de existir, uma possibilidade de relação.
E é neste sentido que Jesus convida os seus discípulos e ouvintes a ser perfeitos, a não saudarem apenas aqueles que os saúdam, a não viverem apenas com os amigos, mas a reconhecerem em cada situação a oportunidade de estabelecerem uma relação, a encontrar-se com Deus no outro e na sua diferença.
Tarefa difícil, na medida em que, ao prescindirmos das etiquetas, ao optarmos pelo acolhimento sem preconceitos, iniciamos um processo cujo fim desconhecemos, cujo controlo não nos pertence, cuja novidade constante nos pode desconcertar e abalar.
Contudo, o Senhor deixa-nos esse desafio, lança-nos esse repto de irmos ao encontro do outro para nele nos encontrarmos connosco próprios enquanto filhos de Deus e com o outro enquanto imagem do Pai.
Ilustração: Saída de Burguete. Caminho de Santiago. 1 de Maio de 2010.
Frei José Carlos,
ResponderEliminarAgradeço-lhe este belo texto do Evangelho de S. Mateus,muito profundo e esclarecedor.Ao ler e Meditar nas suas palavras tão profundas de sentido,que nos ajudam a reflectir com muito interesse,gostei muito.Como nos diz o Frei José Carlos,tarefa difícil,na medida em que,ao prescindirmos das etiquetas,ao optarmos pelo acolhimento sem preconceitos iniciamos um processo cujo controlo não nos pertence,cuja novidade constante nos pode desconcertar e abalar.
Contudo,o Senhor deixa-nos esse desafio,lança-nos esse repto de irmos ao encontro do outro para nele nos encontrarmos connosco próprios enquanto filhos de Deus e com o outro enquanto imagem do Pai.Obrigada,Frei José Carlos,pela maravilhosa e bela Meditação e também pela sua bela ilustração,que partilhou connosco.Bem-haja.Que o Senhor o abençõe e o ilumine.Votos de uma boa noite.
Um abraço fraterno.
AD
Frei José Carlos,
ResponderEliminarBem-haja por recordar-nos que ...” Jesus apela ao primordial, coloca diante dos seus ouvintes o que era verdadeiramente fundamental, a igualdade de todos face a Deus, porque para Deus não há bons nem maus, Deus para todos faz nascer o sol e cair a chuva, ou seja, dá uma oportunidade de existir, uma possibilidade de relação.”…
Amar quem nos ama é fácil, de quem esperamos que nos pode retribuir, mas amar com a radicalidade do amor de Deus , requer de cada um de nós, ir mais além. Por vezes, não se trata propriamente de um “inimigo declarado” mas alguém que por mero preconceito ou provas dadas não sentimos qualquer empatia quer esteja longe ou próximo.
Na estrada da vida que vamos percorrendo, amar sem medida, atingir esta perfeicção, só é possível quando vamos purificando o coração, sabendo acolher a Palavra do Senhor, com humildade, reconhecendo no nosso próximo, a imagem de Jesus.
Como nos salienta, é uma ...” Tarefa difícil, na medida em que, ao prescindirmos das etiquetas, ao optarmos pelo acolhimento sem preconceitos, iniciamos um processo cujo fim desconhecemos, cujo controlo não nos pertence, cuja novidade constante nos pode desconcertar e abalar.
Contudo, o Senhor deixa-nos esse desafio, lança-nos esse repto de irmos ao encontro do outro para nele nos encontrarmos connosco próprios enquanto filhos de Deus e com o outro enquanto imagem do Pai.”
Grata, Frei José Carlos, pela partilha da Meditação, profunda, que nos ajuda a reflectir e a ponderar os nossos comportamentos e a aceitar o desafio que o Senhor nos deixa. Que o Senhor o ilumine e o abençõe.
Um abraço fraterno,
Maria José Silva
P.S. Permita-me, Frei José Carlos, que partilhe de novo o texto de uma oração.
A ESTRADA DA MISERICÓRDIA
Faz-nos trilhar, Senhor, a estrada da Misericórdia. Dá a cada um de nós a capacidade de acolher
apenas, sem juízos prévios, nem cálculos. Dá-nos a arte de acolher o trémulo, o ofegante, o
frágil modo com que a vida se expressa. Torna-nos atentos ao desenho silencioso e áspero
dos dias: à dor profunda e, porém, quase anónima a nosso lado; ao grito sem voz; às mãos
que se estendem para nós sem as vermos; à necessidade que nem encontra palavras.
Ensina-nos que fomos feitos para a Misericórdia e ela é a Sabedoria que Tu, Senhor, mais amas.
(In, Um Deus Que Dança, Itinerários para a Oração, José Tolentino Mendonça, 2011)