terça-feira, 26 de junho de 2012

Entrai pela porta estreita (Mt 7,13)


De acordo com as palavras de Jesus o acesso à vida faz-se por uma porta estreita e um caminho apertado, mas apesar disso, Jesus deixa-nos o convite de não desistirmos, de apesar das dificuldades continuarmos a tentar avançar e passar.
E esta passagem torna-se estreita na medida em que está estruturada nesse princípio de que tudo o que quisermos que os homens nos façam, nós o devemos fazer primeiro, pois nisso consiste a Lei e os Profetas.
É o amor e a fraternidade, a justiça e a misericórdia, com as suas dificuldades inerentes que vão estreitando a passagem, que vão fazendo com que a porta seja estreita e o caminho apertado.
Por isso quando Jesus se apresenta como a porta por onde passam as ovelhas, ou o caminho para alcançar a verdade e a vida, está a apresentar-nos e a colocar à nossa mão a sua vida e o seu exemplo como possibilidades.
É porque é o amor, porque vive na verdade e na justiça, porque é a misericórdia de Deus Pai, que Jesus se pode apresentar como porta e caminho. Porta e caminho estreitos porque viver no amor e na justiça, com a verdade e a misericórdia implica abdicar de si e da sua vontade, fazer-se nada para ser tudo em Deus.
Ao longo da nossa existência vamos no entanto encontrando portas largas e caminhos amplos, caminhos de fácil acesso e que nos conduzem a uma satisfação e a um prazer imediatos.
Contudo, quantas desilusões e tristezas por esses caminhos percorridos e nos quais nos perdemos, quanta insatisfação face ao desejo íntimo de realização que nos habita.
O caminho apertado e a porta estreita oferecem-se a cada um de nós, e se são poucos os que os atravessam, como diz Jesus, esses poucos podem trazer outros, podem servir de luz ou de fermento na massa da humanidade.
O pequeno passo, a pequena passagem, podem ser como o grão de mostarda, pequenos mas cheios de poder para crescerem em passos maiores.
Que o Senhor nos guie e ajude a passar por todos os caminhos e desafios do seu seguimento.

Ilustração: Pórtico de entrada ao Claustro dos Reis do Convento de São Tomás de Ávila.

1 comentário:

  1. Frei José Carlos,

    Leio e fico a reflectir no texto da Meditação que teceu e ilustrou de forma tão simbólica, com um pórtico de entrada “estreita” que nos conduz a um claustro e à luz. A porta de que Jesus nos fala está aberta a todos mas a passagem é exigente, pressupõe um compromisso de cada um de nós, fazer em liberdade uma escolha, a de viver com e em Jesus, seguir os seus ensinamentos.
    Como Frei José Carlos nos recorda ...” É porque é o amor, porque vive na verdade e na justiça, porque é a misericórdia de Deus Pai, que Jesus se pode apresentar como porta e caminho. Porta e caminho estreitos porque viver no amor e na justiça, com a verdade e a misericórdia implica abdicar de si e da sua vontade, fazer-se nada para ser tudo em Deus.”…
    Façamos nossas as palavras de Frei José Carlos e peçamos ao “Senhor que nos guie e ajude a passar por todos os caminhos e desafios do seu seguimento.”
    Grata, Frei José Carlos, pela partilha da Meditação, profunda, maravilhosamente ilustrada, que nos encoraja a não desistir do Caminho para a casa do Pai.
    Que o Senhor o ilumine e proteja.
    Um abraço fraterno,
    Maria José Silva


    P.S. Permita-me, Frei José Carlos, que partilhe o texto de uma oração.

    NÃO NOS
    DEIXES CAIR EM
    TENTAÇÃO


    “E não nos deixes cair em tentação”. Rezo devagar estas palavras, fazendo-as minhas. Não me
    deixes, Senhor. Não me deixes quando as paredes do tempo se tornam instáveis, e as palavras
    de hoje têm a dureza do pão amassado ontem. Não me deixes quando recuo porque é difícil,
    quando quase me inclino perante a idolatria do que é cómodo e vulgar. Não me deixes atravessar
    sozinho os baços corredores da incerteza, ou perder-me no sentimento do cansaço e da desilusão.
    Não me deixes tombar na maledicência e no descrédito quanto à vida. Que a Tua mão levante à
    altura da luz a minha esperança!

    (In, Um Deus Que Dança, Itinerários para a Oração, José Tolentino Mendonça, 2011)

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