SANTA JOANA PRINCESA
A Ordem de São Domingos celebra hoje a festa de Santa Joana Princesa, filha natural do rei D. Afonso V e filha religiosa do Mosteiro de Jesus de Aveiro.
Nasceu em 1452 e pelo facto de ser herdeira jurada do trono, pela morte do irmão mais velho, durante a ausência do pai e do irmão mais novo foi regente do Reino. Esta condição de jurada pelas Cortes trouxe-lhe alguns trabalhos e sofrimento aquando da entrada para o mosteiro, pois não era senhora de si nem da sua vontade. Já no mosteiro e mesmo depois de professa teve ainda que suportar as diligências do irmão, que por várias vezes a tentou demover da decisão tomada e retirar da clausura.
A Princesa Santa Joana viveu dezoito anos no mosteiro de Aveiro, vindo a falecer a 12 de Maio de 1490.
Na sua representação iconográfica aparecem como elementos identificadores três coroas reais, o hábito, a coroa de espinhos e o crucifixo.
As três coroas representam os três pretendentes a casamento que recusou. Foram eles Maximiliano, filho do imperador Frederico e rei dos Romanos, Ricardo III de Inglaterra e Luís XI de França. O hábito é o de monja dominicana e a coroa de espinhos o nome religioso que tomou aquando da profissão, pois passou a chamar-se Soror Joana da Coroa de Espinhos. O crucifixo representa a grande devoção que sempre mostrou pela paixão e morte de Jesus e por este símbolo da nossa salvação.
Assim a descrevem na sua vida de clausura religiosa:
“Não houve hábito de virtude que ela não vestisse com o da religião. Foi sumamente humilde, ocupando-se nos ministérios mais ínfimos e trabalhosos do mosteiro, como carregar sobre os delicados e reais ombros pedras e tijolos para a fábrica da sua cela e mais obras da casa. Amaçava o pão, lavava a roupa, varria as casas e em todo o trabalho não só igualava mas excedia a todas.
Na pobreza foi tão fina que se despojou de tudo, até de um relicário e uma cruz de relíquias que lhe tinha dado a rainha sua mãe quando estava a morrer para que se lembrasse dela. Como eram peças de ouro julgou que não convinham ao seu estado.
Foi tão exacta na observância regular que não passou um ponto do que mandam as nossas Constituições, não querendo que dela fizessem diferença de uma religiosa conversa das mais humildes. Já mais quis ouvir o título de Alteza ou Princesa, trocando todos pelo de Soror Joana da Coroa de Espinhos. Se a Prioresa, designando as freiras para os Ofícios ou ocupações da semana a mandava nomear por Infanta Soror Joana, servia-lhe isto de grande mortificação e o sentia com vivas lágrimas. A familiaridade com que tratava a todas era como se fossem iguais em tudo.
No tempo das recreações as suas práticas eram de coisas espirituais. Era tão diligente em conservar a pureza da consciência, que além de ser nas suas acções e palavras vigilantíssima, fazia todos os dias rigoroso exame apontando o mínimo escrúpulo ou sombra de defeito num livrinho de memória que trazia consigo.
Desde o dia em que vestiu o hábito não desceu mais à grade senão para tratar matérias espirituais com pessoas graves e de singular espírito. Na caridade foi ardentíssima e deixando em silêncio as esmolas que fazia, é inexplicável o afecto e ternura com que servia às enfermas, consolando-as e abatendo-se a exercitar os ofícios mais vis. Se sabia que alguma freira estava aflita buscava-a logo para aliviá-la e fazia diligência por saber a causa para dar lhe o remédio. Estava tão satisfeita da nova vida que se lhe enxergava no rosto o contentamento da alma, e costumava dizer que se no mundo havia estado que invejar era o da religião.
Sendo o voto da obediência o grilhão mais pesado, a Soror Joana parecia facilíssimo, dizendo que de boa vontade mercara com a mesma vida o ser Religiosa, quando não fosse por outra coisa mais que por estar sujeita a outrem e renunciar à própria vontade de que se seguiam tantos danos.
Com o exemplo da Santa Princesa se aumentava nas mais a observância, o retiro e o exercício de todas as virtudes, envergonhando-se e confundindo-se de se mostrarem mimosas e delicadas à vista de uma senhora humilde e rigorosa consigo”.[1]
Quando olhamos para os nossos mimos, privilégios e regalias, para o que hoje exigimos na vida religiosa, como nos devíamos sentir envergonhados e confundidos e interrogar sobre quais deveriam ser as nossas verdadeiras prioridades e preocupações para sermos um testemunho no mundo.
[1] LIMA, Fr. Manuel de – Agiológio Dominico, Tomo II. Lisboa, Officina de António Pedrozo Galrram, 1710, 321.
A Ordem de São Domingos celebra hoje a festa de Santa Joana Princesa, filha natural do rei D. Afonso V e filha religiosa do Mosteiro de Jesus de Aveiro.
Nasceu em 1452 e pelo facto de ser herdeira jurada do trono, pela morte do irmão mais velho, durante a ausência do pai e do irmão mais novo foi regente do Reino. Esta condição de jurada pelas Cortes trouxe-lhe alguns trabalhos e sofrimento aquando da entrada para o mosteiro, pois não era senhora de si nem da sua vontade. Já no mosteiro e mesmo depois de professa teve ainda que suportar as diligências do irmão, que por várias vezes a tentou demover da decisão tomada e retirar da clausura.
A Princesa Santa Joana viveu dezoito anos no mosteiro de Aveiro, vindo a falecer a 12 de Maio de 1490.
Na sua representação iconográfica aparecem como elementos identificadores três coroas reais, o hábito, a coroa de espinhos e o crucifixo.
As três coroas representam os três pretendentes a casamento que recusou. Foram eles Maximiliano, filho do imperador Frederico e rei dos Romanos, Ricardo III de Inglaterra e Luís XI de França. O hábito é o de monja dominicana e a coroa de espinhos o nome religioso que tomou aquando da profissão, pois passou a chamar-se Soror Joana da Coroa de Espinhos. O crucifixo representa a grande devoção que sempre mostrou pela paixão e morte de Jesus e por este símbolo da nossa salvação.
Assim a descrevem na sua vida de clausura religiosa:
“Não houve hábito de virtude que ela não vestisse com o da religião. Foi sumamente humilde, ocupando-se nos ministérios mais ínfimos e trabalhosos do mosteiro, como carregar sobre os delicados e reais ombros pedras e tijolos para a fábrica da sua cela e mais obras da casa. Amaçava o pão, lavava a roupa, varria as casas e em todo o trabalho não só igualava mas excedia a todas.
Na pobreza foi tão fina que se despojou de tudo, até de um relicário e uma cruz de relíquias que lhe tinha dado a rainha sua mãe quando estava a morrer para que se lembrasse dela. Como eram peças de ouro julgou que não convinham ao seu estado.
Foi tão exacta na observância regular que não passou um ponto do que mandam as nossas Constituições, não querendo que dela fizessem diferença de uma religiosa conversa das mais humildes. Já mais quis ouvir o título de Alteza ou Princesa, trocando todos pelo de Soror Joana da Coroa de Espinhos. Se a Prioresa, designando as freiras para os Ofícios ou ocupações da semana a mandava nomear por Infanta Soror Joana, servia-lhe isto de grande mortificação e o sentia com vivas lágrimas. A familiaridade com que tratava a todas era como se fossem iguais em tudo.
No tempo das recreações as suas práticas eram de coisas espirituais. Era tão diligente em conservar a pureza da consciência, que além de ser nas suas acções e palavras vigilantíssima, fazia todos os dias rigoroso exame apontando o mínimo escrúpulo ou sombra de defeito num livrinho de memória que trazia consigo.
Desde o dia em que vestiu o hábito não desceu mais à grade senão para tratar matérias espirituais com pessoas graves e de singular espírito. Na caridade foi ardentíssima e deixando em silêncio as esmolas que fazia, é inexplicável o afecto e ternura com que servia às enfermas, consolando-as e abatendo-se a exercitar os ofícios mais vis. Se sabia que alguma freira estava aflita buscava-a logo para aliviá-la e fazia diligência por saber a causa para dar lhe o remédio. Estava tão satisfeita da nova vida que se lhe enxergava no rosto o contentamento da alma, e costumava dizer que se no mundo havia estado que invejar era o da religião.
Sendo o voto da obediência o grilhão mais pesado, a Soror Joana parecia facilíssimo, dizendo que de boa vontade mercara com a mesma vida o ser Religiosa, quando não fosse por outra coisa mais que por estar sujeita a outrem e renunciar à própria vontade de que se seguiam tantos danos.
Com o exemplo da Santa Princesa se aumentava nas mais a observância, o retiro e o exercício de todas as virtudes, envergonhando-se e confundindo-se de se mostrarem mimosas e delicadas à vista de uma senhora humilde e rigorosa consigo”.[1]
Quando olhamos para os nossos mimos, privilégios e regalias, para o que hoje exigimos na vida religiosa, como nos devíamos sentir envergonhados e confundidos e interrogar sobre quais deveriam ser as nossas verdadeiras prioridades e preocupações para sermos um testemunho no mundo.
[1] LIMA, Fr. Manuel de – Agiológio Dominico, Tomo II. Lisboa, Officina de António Pedrozo Galrram, 1710, 321.
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