quarta-feira, 27 de maio de 2009

O Saque Francês de 1808 ao Mosteiro de Santa Catarina de Sena de Évora

Durante o saque de Évora pelo exército francês nos fatídicos dias 29, 30 e 31 de Julho de 1808, como o convento de São Domingos, também os mosteiros femininos dominicanos foram assaltados e espoliados dos seus bens.
D. Maria Cândida Amália da Conceição Boto do Amaral fez para a obra “Évora Lastimosa” a relação do acontecido e das perdas sofridas no Mosteiro de Santa Catarina de Sena.
Como diz, e graças a Deus e a alguns guardas que acudiram no sábado à tarde, dia 30, não sofreram nenhuma perda de vida, nem nenhum atentado físico, embora muitas vezes tivessem estado em perigo de morte. E não só as monjas da comunidade, mas também o numeroso grupo de pessoas que se tinha refugiado no mosteiro na esperança de encontrar alguma protecção.
O assalto ao mosteiro começou imediatamente após a entrada das tropas francesas na cidade, eram quatro horas da tarde. Escalaram a porta da portaria e teriam feito o mesmo à porta que dava para a clausura se não lhe tivesse sido aberta. Foi uma decisão da comunidade, que teve como consequência a posterior invasão da clausura por bandos de soldados e a destruição de tudo o que encontraram. Segundo diz D. Maria Cândida roubaram e quebraram tudo o que era das religiosas e das pessoas que com elas estavam refugiadas.
Na igreja roubaram todas as imagens sagradas e quebraram a imagem do crucificado que presidia ao altar-mor. No âmbito das pratas e alfaias litúrgicas é dito que roubaram uma âmbula, duas patenas, umas colherzinhas e a lâmpada do Capítulo, e não levaram mais porque o resto já tinha ido.
A relação de D. Maria Cândida é muito breve e concisa, mas em alguns pontos levanta algumas questões, como no caso das pratas. Ao dizer que já tinham ido, não nos diz para onde nem por quem. Teriam sido roubadas? Pelo apresentado parece que não, que tinha havido outra circunstância que as tinha feito desaparecer. Teriam sido enviadas para Lisboa, de acordo com a ordem dada por Junot e que o Prior Provincial frei José Inácio Sanches enviou para todos os conventos e mosteiros, para que lhe fosse dada cumprimento? É certamente o mais provável, que as religiosas tivessem cumprido a ordem de Junot e tivessem enviado as melhores pratas que tinham, ficando apenas com a necessária para o culto e roubada neste momento do saque.
Outra questão que este relato suscita é a das imagens roubadas. Para serem roubadas e levadas pode-se supor que eram imagens de vulto pequeno, fáceis de transportar e certamente preciosas para originarem esse interesse e o roubo consequente. Seria de facto assim, ou ao dizer que foram roubadas as imagens a relatora está-se apenas a referir aos resplendores de prata? Porque nos outros relatos dos assaltos é isso que interessa à avidez dos soldados franceses. O que se teria de facto passado?
No Mosteiro de Santa Catarina de Sena ao contrário do que aconteceu em São Domingos e em muitas outras casas religiosas não houve profanação do sacrário e das sagradas espécies, pois como nos é dito apesar dos fortes puxões não conseguiram abrir o sacrário. Para o autor da obra “Évora Lastimosa” este facto compensa todas as demais perdas acontecidas.
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[1] Cf. SILVA, José Joaquim da – Évora Lastimosa II, in O Saque de Évora pelos Franceses em 1808. Lisboa, Caleidoscópio, 2008, 110.

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