O Saque dos Franceses no Convento de São Domingos de Évora em 1808
O Convento de São Domingos de Évora foi fundado em 1286. Nos primeiros anos era uma pequena casa que como diz frei Luís de Sousa servia apenas para agasalho dos frades. Com o passar dos anos e o crescimento da própria cidade de Évora o convento foi também crescendo, de forma que ao tempo de frei Luís de Sousa tinha capacidade para albergar e sustentar quarenta frades.
Quando os franceses entraram na cidade de Évora no fatídico dia 29 de Julho de 1808 encontraram uma casa e uma comunidade que não lhes podia passar indiferente. Pelo espólio artístico que chegou até nós, uma vez que o convento não chegou, pois foi totalmente demolido passado algum tempo depois da exclaustração, era uma casa rica e portanto apetecível para o saque.
Frei Sebastião da Silveira, membro da comunidade do convento de Évora à data da invasão e saque, relatou para a obra Évora Lastimosa o que nesse dia e seguintes aconteceu e o prejuízo que o convento teve.
Neste relato percebe-se que o Sacristão Mor, frei Vicente de Santa Barbara, foi um dos membros mais activos e diligentes em toda a situação, tanto no socorro e protecção de alguns membros, como na perda de grande parte das pratas, facto não devido à sua incúria mas inexperiência e até inocência.
Quando os franceses se aproximaram da cidade e portanto se tornou eminente o saque e as represálias, frei Vicente de Santa Barbara foi esconder os objectos de prata nos sacrários da igreja e capelas, com esperança de que ali estivessem salvaguardados. Foi um erro tremendo, porque entrando os franceses no convento e na igreja foram os primeiros lugares que vasculharam. O convento perdeu assim grande parte das suas alfaias litúrgicas, cálices, patenas, navetas, castiçais e toda a demais prata de serviço, escapando ao roubo apenas a magnífica custódia, o cofre de figuras de relevo usado na Quinta-feira Santa e a preciosa cruz da relíquia do Santo Lenho. A custódia e o cofre ficaram amassados e desfigurados na tentativa de comprovar se eram ou não de prata. Salvou estas peças, como diz frei Sebastião da Silveira, o fraco conhecimento de metais da soldadesca francesa.
Em relação às imagens, que em outros conventos e igrejas foram destruídas, mutiladas, ou que perderam os resplendores de prata, nada nos é dito, pelo que não podemos aferir dos estragos causados no património artístico que compunha a igreja e que certamente houve.
Mas se frei Vicente de Santa Barbara perdeu a prata da igreja, a sua diligência conseguiu salvar várias vidas, a daqueles que com ele se esconderam no campanário da igreja, ao qual uma escada de caracol escura e estreita não permitiu o acesso dos franceses. Passados os primeiros momentos do saque será dali que frei Vicente acorrerá a recolher as hóstias da profanação dos sacrários, a sepultar os mortos na noite de sábado, dia 30 de Julho, e a comprovar os estragos e destruição ocorrida em todo o convento. Segundo o relatado todas as portas foram destruídas, permitindo o saque do comum e do privado de cada cela conventual. Na capela do dormitório o sacrário foi também arrombado e profanado.
Neste assalto e apesar da diligência de frei Vicente de Santa Barbara morreram várias pessoas. Morreu o porteiro do convento, um empregado secular e certamente numa tentativa de impedir a entrada das tropas francesas no convento. Morreu um outro secular na cerca, um criado do convento e certamente também a defender a propriedade. Numa cela morreu Filipe de Reboredo Mesquita, entrado em idade e cego, e o seu criado particular. Tinham-se refugiado ambos no convento com esperança de encontrarem alguma segurança.
Os frades que morreram no convento foram frei Joaquim Machado e frei João Duro, Prior do convento, que frei Vicente de Santa Barbara ainda encontra exangue quando abandona o esconderijo. Fora do convento e em combate morreu frei Miguel do Rosário, o irmão Cantor da comunidade. Colocado numa guarita na muralha do Rocio tinha trabalhado arduamente na defesa da cidade. Dali teria morto mais de trinta franceses.
O convento de Évora perdeu assim neste ataque e saque, para além da prata e outro património não especificado, cinco membros da comunidade, a saber:
o Padre Prior Frei João Duro;
o Padre Frei Joaquim Machado;
o Padre Cantor Frei Miguel do Rosário;
e dois seculares empregados em tarefas do convento.
Relativamente aos outros membros que compunham a comunidade nada nos é dito, pelo que não podemos dizer se tinham conseguido fugir, se estavam escondidos com frei Vicente na torre do campanário ou o que lhes aconteceu. A verdade é que há data a comunidade era ainda composta por um bom número de religiosos e portanto há ainda histórias pessoais para desvendar.
O Convento de São Domingos de Évora foi fundado em 1286. Nos primeiros anos era uma pequena casa que como diz frei Luís de Sousa servia apenas para agasalho dos frades. Com o passar dos anos e o crescimento da própria cidade de Évora o convento foi também crescendo, de forma que ao tempo de frei Luís de Sousa tinha capacidade para albergar e sustentar quarenta frades.
Quando os franceses entraram na cidade de Évora no fatídico dia 29 de Julho de 1808 encontraram uma casa e uma comunidade que não lhes podia passar indiferente. Pelo espólio artístico que chegou até nós, uma vez que o convento não chegou, pois foi totalmente demolido passado algum tempo depois da exclaustração, era uma casa rica e portanto apetecível para o saque.
Frei Sebastião da Silveira, membro da comunidade do convento de Évora à data da invasão e saque, relatou para a obra Évora Lastimosa o que nesse dia e seguintes aconteceu e o prejuízo que o convento teve.
Neste relato percebe-se que o Sacristão Mor, frei Vicente de Santa Barbara, foi um dos membros mais activos e diligentes em toda a situação, tanto no socorro e protecção de alguns membros, como na perda de grande parte das pratas, facto não devido à sua incúria mas inexperiência e até inocência.
Quando os franceses se aproximaram da cidade e portanto se tornou eminente o saque e as represálias, frei Vicente de Santa Barbara foi esconder os objectos de prata nos sacrários da igreja e capelas, com esperança de que ali estivessem salvaguardados. Foi um erro tremendo, porque entrando os franceses no convento e na igreja foram os primeiros lugares que vasculharam. O convento perdeu assim grande parte das suas alfaias litúrgicas, cálices, patenas, navetas, castiçais e toda a demais prata de serviço, escapando ao roubo apenas a magnífica custódia, o cofre de figuras de relevo usado na Quinta-feira Santa e a preciosa cruz da relíquia do Santo Lenho. A custódia e o cofre ficaram amassados e desfigurados na tentativa de comprovar se eram ou não de prata. Salvou estas peças, como diz frei Sebastião da Silveira, o fraco conhecimento de metais da soldadesca francesa.
Em relação às imagens, que em outros conventos e igrejas foram destruídas, mutiladas, ou que perderam os resplendores de prata, nada nos é dito, pelo que não podemos aferir dos estragos causados no património artístico que compunha a igreja e que certamente houve.
Mas se frei Vicente de Santa Barbara perdeu a prata da igreja, a sua diligência conseguiu salvar várias vidas, a daqueles que com ele se esconderam no campanário da igreja, ao qual uma escada de caracol escura e estreita não permitiu o acesso dos franceses. Passados os primeiros momentos do saque será dali que frei Vicente acorrerá a recolher as hóstias da profanação dos sacrários, a sepultar os mortos na noite de sábado, dia 30 de Julho, e a comprovar os estragos e destruição ocorrida em todo o convento. Segundo o relatado todas as portas foram destruídas, permitindo o saque do comum e do privado de cada cela conventual. Na capela do dormitório o sacrário foi também arrombado e profanado.
Neste assalto e apesar da diligência de frei Vicente de Santa Barbara morreram várias pessoas. Morreu o porteiro do convento, um empregado secular e certamente numa tentativa de impedir a entrada das tropas francesas no convento. Morreu um outro secular na cerca, um criado do convento e certamente também a defender a propriedade. Numa cela morreu Filipe de Reboredo Mesquita, entrado em idade e cego, e o seu criado particular. Tinham-se refugiado ambos no convento com esperança de encontrarem alguma segurança.
Os frades que morreram no convento foram frei Joaquim Machado e frei João Duro, Prior do convento, que frei Vicente de Santa Barbara ainda encontra exangue quando abandona o esconderijo. Fora do convento e em combate morreu frei Miguel do Rosário, o irmão Cantor da comunidade. Colocado numa guarita na muralha do Rocio tinha trabalhado arduamente na defesa da cidade. Dali teria morto mais de trinta franceses.
O convento de Évora perdeu assim neste ataque e saque, para além da prata e outro património não especificado, cinco membros da comunidade, a saber:
o Padre Prior Frei João Duro;
o Padre Frei Joaquim Machado;
o Padre Cantor Frei Miguel do Rosário;
e dois seculares empregados em tarefas do convento.
Relativamente aos outros membros que compunham a comunidade nada nos é dito, pelo que não podemos dizer se tinham conseguido fugir, se estavam escondidos com frei Vicente na torre do campanário ou o que lhes aconteceu. A verdade é que há data a comunidade era ainda composta por um bom número de religiosos e portanto há ainda histórias pessoais para desvendar.
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