SÃO DOMINGOS E A BATALHA DE MURET
Há em todos nós uma tendência para ao contarmos uma história acrescentarmos sempre algo de novo, algo que é nosso e nos insere de alguma forma nessa história. Diz o povo que quem conta um conto acrescenta um ponto.
Com a história de São Domingos acontece exactamente assim. Apesar de os primeiros biógrafos nos quererem contar a história como ela verdadeiramente aconteceu, a verdade é que em alguns casos e momentos da vida de São Domingos se deixaram levantar pela fantasia, por um desejo de prestigio, mais que pela fidelidade à verdade histórica.
Tal falta à verdade acontece com a participação de São Domingos na cruzada e mais concretamente na batalha de Muret. Na história de São Domingos é mais um mito, um mito que se plasmou graficamente em imagens como nos painéis de azulejos que podemos apreciar na igreja do Convento de São Domingos de Elvas.
Conta a história:
“Era por Setembro de 1213. Andavam os hereges senhores do campo, e o Conde de Monfort repartidas as poucas gentes que tinha pelas terras ganhas, estava encerrado com poucos no Castelo de Muret, praça-forte sobre o rio Garona. Foram sobre ele os Condes hereges com tamanho poder que ameaçavam toda a França. Levavam em seu favor o rei D. Pedro de Aragão acompanhado de um exército vitorioso. […]
Foi conselho que se armassem todos das armas santas dos Sacramentos da Confissão e sagrada Comunhão. Assim animados, abrem as portas, põe-se o Santo na dianteira com o sagrado guião de Cristo crucificado nas mãos. Arremeteu aquele pequeno esquadrão aos inimigos com um trovão de alarido. […]
E notou-se nele mais ao claro, o que já em outros recontros tinham os homens visto, que sendo o Santo nos acometimentos o dianteiro, nem em sua pessoa, nem na figura do santo Crucifixo, tocou nunca lança, nem seta, nem outro tiro, ficando para inteira confirmação do milagre a haste em que ia arvorado, crespa de muitas setas que a pregaram. Este Crucifixo por memória do sucesso se guarda e mostra hoje no nosso convento de Toulouse”.[1]
Este relato que encontramos na História de São Domingos de Frei Luís de Sousa é mais um na longa carreira do mito, que se iniciou com o grande historiador dos primeiros tempos da Ordem que foi Bernardo Gui. É ele que ao copiar para a sua história de São Domingos a crónica de Pedro de Vaux de Cernay, na qual se narra que o bispo Fulco abençoava os cavaleiros e combatentes com um crucifixo, e inserindo o nome de São Domingos numa vigília de oração, possibilita que posteriormente o imaginário hagiográfico coloque o crucifixo nas mãos de Domingos e este à frente dos corpos católicos em combate.
Porque a verdade histórica e os documentos que existem colocam-nos Domingos a alguma distância deste acontecimento. São Domingos não participou na vigília de oração, não esteve nas reuniões dos grandes dignitários e religiosos com o Conde Simão de Monfort, nessa data estava em Carcassone como vigário do bispo que participava nos combates.
Como era incómodo e até de certa forma desprestigiante que o fundador da Ordem não tivesse tomado parte na glória da cruzada e das suas batalhas, na militia Christi que combatera os hereges, que São Domingos se tivesse de alguma forma demarcado da situação política ou religiosa de violência, os primeiros historiados e a hagiografia vão integrá-lo nessa história da forma mais maravilhosa possível, milagrosamente.
[1] SOUSA, Frei Luís de – História de São Domingos. Volume I. Porto, Edição Lello Editores, 1977, 43-44.
Há em todos nós uma tendência para ao contarmos uma história acrescentarmos sempre algo de novo, algo que é nosso e nos insere de alguma forma nessa história. Diz o povo que quem conta um conto acrescenta um ponto.
Com a história de São Domingos acontece exactamente assim. Apesar de os primeiros biógrafos nos quererem contar a história como ela verdadeiramente aconteceu, a verdade é que em alguns casos e momentos da vida de São Domingos se deixaram levantar pela fantasia, por um desejo de prestigio, mais que pela fidelidade à verdade histórica.
Tal falta à verdade acontece com a participação de São Domingos na cruzada e mais concretamente na batalha de Muret. Na história de São Domingos é mais um mito, um mito que se plasmou graficamente em imagens como nos painéis de azulejos que podemos apreciar na igreja do Convento de São Domingos de Elvas.
Conta a história:
“Era por Setembro de 1213. Andavam os hereges senhores do campo, e o Conde de Monfort repartidas as poucas gentes que tinha pelas terras ganhas, estava encerrado com poucos no Castelo de Muret, praça-forte sobre o rio Garona. Foram sobre ele os Condes hereges com tamanho poder que ameaçavam toda a França. Levavam em seu favor o rei D. Pedro de Aragão acompanhado de um exército vitorioso. […]
Foi conselho que se armassem todos das armas santas dos Sacramentos da Confissão e sagrada Comunhão. Assim animados, abrem as portas, põe-se o Santo na dianteira com o sagrado guião de Cristo crucificado nas mãos. Arremeteu aquele pequeno esquadrão aos inimigos com um trovão de alarido. […]
E notou-se nele mais ao claro, o que já em outros recontros tinham os homens visto, que sendo o Santo nos acometimentos o dianteiro, nem em sua pessoa, nem na figura do santo Crucifixo, tocou nunca lança, nem seta, nem outro tiro, ficando para inteira confirmação do milagre a haste em que ia arvorado, crespa de muitas setas que a pregaram. Este Crucifixo por memória do sucesso se guarda e mostra hoje no nosso convento de Toulouse”.[1]
Este relato que encontramos na História de São Domingos de Frei Luís de Sousa é mais um na longa carreira do mito, que se iniciou com o grande historiador dos primeiros tempos da Ordem que foi Bernardo Gui. É ele que ao copiar para a sua história de São Domingos a crónica de Pedro de Vaux de Cernay, na qual se narra que o bispo Fulco abençoava os cavaleiros e combatentes com um crucifixo, e inserindo o nome de São Domingos numa vigília de oração, possibilita que posteriormente o imaginário hagiográfico coloque o crucifixo nas mãos de Domingos e este à frente dos corpos católicos em combate.
Porque a verdade histórica e os documentos que existem colocam-nos Domingos a alguma distância deste acontecimento. São Domingos não participou na vigília de oração, não esteve nas reuniões dos grandes dignitários e religiosos com o Conde Simão de Monfort, nessa data estava em Carcassone como vigário do bispo que participava nos combates.
Como era incómodo e até de certa forma desprestigiante que o fundador da Ordem não tivesse tomado parte na glória da cruzada e das suas batalhas, na militia Christi que combatera os hereges, que São Domingos se tivesse de alguma forma demarcado da situação política ou religiosa de violência, os primeiros historiados e a hagiografia vão integrá-lo nessa história da forma mais maravilhosa possível, milagrosamente.
[1] SOUSA, Frei Luís de – História de São Domingos. Volume I. Porto, Edição Lello Editores, 1977, 43-44.
Não tenho muita simpatia por São Domingos, porque ele, na realidade, foi um dos maiores incentivadores da famigerada Inquisição.
ResponderEliminarPerdoe-me o Frei José Almeida, mas, como Católico Apostólico Romano, não concordo com o comentário do internauta acima, que se assina como "anônimo", e que declara não ter "muita simpatia por São Domingos, porque foi um dos maiores incentivadores da Santa Inquisição". Seria bastante salutar para a Igreja que católicos desacautelados, como esse, procurassem ler os bons historiadores, sintonizados com a boa doutrina, a fim de que pudessem emitir opiniões em harmonia com os ensinamentos dos Santos Pontífices. São Domingos de Gusmão foi um grande santo sob diversos aspectos: por sua doutrina; pelo rosário de Nossa Senhora; pelos milagres; pela batalha contra os Albingenses; pela caridade e pela missão que em muitos momentos de sua vida recebeu do próprio Deus!
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