quinta-feira, 7 de maio de 2009

FONTES PARA A HISTÓRIA DE SÃO DOMINGOS

As Legendas de São Domingos

Se o “Libellus” do Beato Jordão de Saxónia é a primeira e principal obra com carácter histórico sobre São Domingos, e portanto a melhor fonte para o conhecer, não podemos deixar de lado, nem esquecer, as obras que se lhe seguiram; obras que tiveram um maior carácter divulgativo que histórico, mas que não nos podem ser indiferentes na construção da história e da vida de São Domingos.
A primeira dessas obras “Legenda Sancti Dominici” é a do dominicano espanhol Pedro Ferrando, que entre 1237 e 1242 foi encarregue de escrever um texto que servisse para ser lido comunitariamente, e mormente para ser lido nos serviços litúrgicos. É a primeira Legenda e na qual se recolhe o texto do Beato Jordão e mais algumas tradições, nomeadamente as que tinha escutado em Espanha.
Em 1245 Constantino de Orvieto recebe do Capítulo Geral a missão para refazer a obra de Pedro Ferrando. Em 1247 o fruto do seu trabalho é apresentado ao novo Capítulo Geral. É uma obra onde o maravilhoso e o extraordinário pontifica de sobremaneira, ficando o fundamento histórico reduzido ao mínimo indispensável. O maior valor da obra assenta na lista dos milagres que regista, tem mais 47 milagres que a Legenda de Pedro Ferrando, e muitos deles posteriores à morte de São Domingos.
A partir destes dois textos, o quinto Mestre da Ordem Frei Humberto de Romans tentou redigir aquela que queria que fosse a Legenda definitiva. Não podemos esquecer que este desejo se enquadra no seu trabalho de normalização e regulamentação orgânica da Ordem, que levou a cabo enquanto Mestre da Ordem.
A par destas obras imbuídas de um certo carácter histórico, “científico”, foram aparecendo outras obras, pequenas biografias que se destinavam ao uso dos pregadores nos seus sermões. Temos assim a obra de Bartolomeu de Trento, escrita entre 1245 e 1251, a obra de Rodrigo de Cerrato, escrita entre 1270 e 1281, e a obra de Tiago de Voragine, incorporada na sua colecção de histórias de Santos chamada “Legenda Dourada”. Tomás de Cantimpré e Estêvão de Borbon entre 1256 e 1263 escrevem também as suas vidas do fundador da Ordem de Pregadores.
Devido à grande e diversa produção, e certamente a alguns exageros, os Capítulos Gerais de 1255 e 1256 ordenaram que se procedesse a uma investigação completa e fundamentada. O resultado desta ordenação é a obra do francês Gerardo de Frachet “Vitae Fratrum Ordinis Praedicatorum”. As viagens pela Europa e um bom número de contactos permitiu-lhe recolher muita informação e muitos relatos de milagres, que no conjunto da obra acabaram por prevalecer sobre os dados históricos que hoje a nós nos interessariam muito mais.
Já perto do final do século XIII Estêvão de Salagnac escreve uma outra vida de São Domingos e dos primeiros frades e pouco depois o alemão Teodorico de Apoldia fazia de certo modo a síntese de todas as lendas e histórias hagiográficas anteriores na sua volumosa obra Libellus sobre a vida morte e milagres de São Domingos.
A estas obras e a mais um conjunto de crónicas anónimas há que acrescentar a grande obra de Bernardo Gui. Prior, inquisidor em Toulouse entre 1307 e 1323, e amante da história, Bernardo Gui leu tudo o que anteriormente a ele se tinha escrito sobre São Domingos e a Ordem. Recolheu documentos, testemunhos escritos e orais, que hoje de outra forma seriam desconhecidos, e com eles escreveu não só a vida de São Domingos mas também a de todos os seus predecessores no governo da Província de Toulouse e da Provença. É um documento histórico único.
Esta enumeração, que não é exaustiva, dá-nos uma ideia do interesse que as primeiras gerações, de modo particular durante o século XIII, tiveram pela história e vida do fundador Domingos de Guzman, bem como daqueles que o acompanharam na fundação da Ordem e sucessivas fundações de conventos e Províncias.
A razão deste interesse não se prende apenas com a canonização, com a necessidade de ter material hagiográfico para a divulgação de São Domingos, prende-se sobretudo com a necessidade de não perder a memória, de não perder as manifestações e prodígios que ajudaram e podiam ajudar a Ordem e os frades a serem conscientes da sua prestigiosa origem.

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