quinta-feira, 7 de maio de 2009

FONTES PARA A HISTÓRIA DE SÃO DOMINGOS

Outras Fontes Documentais para a História de São Domingos

Um dos factos que chama a atenção em São Domingos, e numa tentativa de reconstituição da história da sua vida e da sua obra, é a falta de documentos autógrafos, ou seja, do seu punho. Ao contrário de São Francisco seu contemporâneo não encontramos escritos do fundador da Ordem de Pregadores.
Este facto torna-se ainda mais estranho quando os primeiros biógrafos e muitas das testemunhas do seu processo de canonização dizem que ele escrevia constantemente cartas aos seus frades espalhados pela Europa.
Podíamos duvidar destas afirmações se não tivesse chegado até nós uma dessas cartas, uma única, e que permite confirmar a verdade do que é dito. É uma carta que São Domingos escreveu às monjas de Madrid, a um grupo de mulheres que tinha conhecido aquando da sua viagem a Espanha em 1219 e que se tinham colocado sob a protecção da Ordem. Mas o que aconteceu às outras? Como foi possível que tivessem desaparecido? Porque não desapareceram só as cartas pessoais, desapareceram também aquelas, pelo menos duas, que serviram para convocar os Capítulos Gerais de 1220 e 1221. Podemos acreditar que houve bastante descuido, ou que a mobilidade dos frades não permitia a acumulação de coisas que impedissem essa mesma mobilidade.
Contudo, e ainda que não tenhamos as cartas que São Domingos escreveu, temos um conjunto de documentos onde a sua pessoa é referida ou atestada com assinatura. As Bulas Papais, as cartas de apresentação aos bispos das dioceses por onde passava, os privilégios que lhe são outorgados, actas de reuniões no âmbito da cruzada contra os cátaros, um processo de conversão, ou seja um conjunto de documentos diplomáticos e jurídicos que atestam não só a sua pessoa e actividades mas também os princípios da Ordem.
Interessantes são também as referências que se encontram em documentos extra Ordem, as referências feitas por gente que não tinha nada a ver com os dominicanos, como são as da Crónica de Guilherme de Puylaurens, capelão do Conde Raimundo VI, ou as da História Albigensis de Pedro de Vaux de Cernay.
Para além desta documentação, convém referir uma outra, de um outro género bastante diferente, quase oposto se poderia dizer, e que ajudou a construir a história de Domingos, ou pelo menos, a imagem hagiográfica que passou para a história. São os relatos dos milagres, que encontramos no processo de canonização e num outro texto, muito pessoal e até íntimo, como é a narração da Beata Cecília, uma monja do Mosteiro de São Sixto de Roma que conheceu São Domingos.
Serão estes relatos de milagres, de acções extraordinárias, que fundamentarão a iconografia da imagem de São Domingos, enquanto que os documentos diplomáticos e jurídicos forjarão a imagem histórica austera e inquisitorial. Uma e outra têm a mesma e única fonte mas estão turvadas pelos factores que as originaram e portanto é necessário clarificá-las, purificá-las, para podermos ver e encontrar-nos na medida do possível com a verdadeira pessoa de São Domingos de Guzman.

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