quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Alegrai-vos comigo (Lc 15,6)

Os convívios de Jesus com os pecadores e os publicanos não deixam de causar escândalo e murmúrio naqueles que se consideravam a boa sociedade, as pessoas de bem. De alguma forma eram uma afronta à sua consideração, uma provocação ao seu prestígio, mas Jesus não se importa com isso, não se importa com os choques que pode provocar nos outros, com essa sua fidelidade à missão, com a coerência das suas atitudes face à palavra que anunciava. É num desses momentos que Jesus apresenta e justifica a razão das suas atitudes extravagantes, contando as parábolas da ovelha perdida e da dracma perdida.
São parábolas em que não há passado, não há história, não se fica a conhecer nem a forma como a ovelha se perdeu ou a dracma caiu à pobre mulher. Sabe-se apenas dos esforços que foram feitos para o encontro do perdido. Há apenas um presente, uma actualidade que é a do encontro e a da alegria.
Neste sentido, e vendo-nos cada um de nós nessa ovelha perdida e nessa dracma perdida não interessam a Jesus as nossas formas de perdição, a forma como nos desgarrámos numa manhã de nevoeiro, como nos perdemos no caminho do seu seguimento e da fidelidade devida.
A Jesus interessa a acção daquele que busca, dele próprio que veio ao nosso encontro enquanto perdidos, de nós próprios enquanto vamos ao encontro do outro que anda perdido, ou perdemos nalgum trajecto da nossa vida. A Jesus interessa a alegria que se produz naquele que encontra o objecto perdido, a ovelha ou a dracma, a pessoa que buscamos.
Por essa razão Jesus come e bebe com os pecadores e publicanos, por essa razão Jesus não se importa de escandalizar, porque vem ao encontro daqueles que estavam perdidos, porque quer encontrá-los e levá-los para a casa do Pai com toda a dignidade. Se os outros se consideram justos, ainda bem, não necessitam de quem os procure, mas aqueles que se consideram perdidos e abandonados necessitam de alguém que os busque.
Jesus ainda hoje vem ao nosso encontro, enquanto perdidos, enquanto abandonados, vem na sua misericórdia buscar-nos para nos levar para a intimidade do amor do Pai. Sabemos nós estar abertos a essa busca? E sabemos nós buscar nos outros a imagem do próprio Jesus que vem ao nosso encontro? Nesses outros que tantas vezes nos escandalizam, nos chocam pela sua diferença? Como reagiríamos se também hoje víssemos Jesus sentado à mesa daqueles que olhamos de soslaio, desconfiados do seu bom procedimento e das suas boas intenções?
E no entanto Jesus veio ao encontro deles, vem ao encontro deles e convida-nos a entrar na mesma dinâmica para podermos gozar da alegria do encontro. Que o nosso coração se abra e generosamente sejamos capazes de partilhar a busca em que todos nos encontramos e a alegria de nos vermos encontrados.

2 comentários:

  1. Boa noite Frei José Carlos,
    Reconheço no indómito preconceito o que nos impede de reconhecer quem nos procura e de buscar quem de nós necessita.
    Rogo ao Senhor que nos ajude a aceitar o Seu convite e a viver a alegria do encontro.
    Tenha uma santa noite,
    GVA

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  2. Frei José Carlos,

    As palavras da Meditação de hoje (Alegrai-vos comigo, Lc 15,6) que connosco partilha tocam a alma. São palavras de estímulo, de conforto, de encorajamento, de exortação. ...” A Jesus interessa a acção daquele que busca, dele próprio que veio ao nosso encontro enquanto perdidos, de nós próprios enquanto vamos ao encontro do outro que anda perdido, ou perdemos nalgum trajecto da nossa vida. A Jesus interessa a alegria que se produz naquele que encontra o objecto perdido, a ovelha ou a dracma, a pessoa que buscamos”…
    E recorda-nos de uma forma muito bela que esta atitude de Jesus não faz parte do passado, mas ela continua a ser presente … “Jesus ainda hoje vem ao nosso encontro, enquanto perdidos, enquanto abandonados, vem na sua misericórdia buscar-nos para nos levar para a intimidade do amor do Pai.”… E interroga-nos “sem rodeios”, desafiando-nos para que façamos o nosso próprio exame de consciência sobre as nossas atitudes, comportamentos, em resumo …“ como reagiríamos se também hoje víssemos Jesus sentado à mesa daqueles que olhamos de soslaio, desconfiados do seu bom procedimento e das suas boas intenções”…

    Que Jesus nos ilumine na procura de Deus, e que saibamos realizar no nosso quotidiano a Sua palavra, cumprindo o testamento do amor.

    Obrigada e bem haja por tudo e também por esta bonita partilha .
    Um abraço fraterno
    MJS

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