terça-feira, 16 de novembro de 2010

Santo Alberto Magno – II

Santo Alberto Magno foi eleito provincial em 1254 no capítulo de Worms. A província da Germânia era a mais extensa de todas as províncias da Ordem, contudo durante o seu governo Alberto percorreu a pé todas as regiões e visitou todos os conventos, mendigando pelos caminhos o seu sustento diário. Durante o seu governo deu-se um aumento das vocações e foram fundados três novos conventos, o de Straussberg, o de Seehussen e o de Rostok.
Santo Alberto era a presença viva do ideal de frade pregador, era um homem espiritual, com uma grande vida de piedade, de pobreza e de oração e um homem de estudo que queria levar a cabo a renovação da teologia e da pregação. Nesta dimensão e como provincial tomou medidas severas contra aqueles que não observavam a pobreza estrita.
Em 1256 e devido às lutas entre seculares e religiosos mendicantes na universidade de Paris tem que se deslocar a Roma para defender a presença dos mendicantes na universidade. Perante a sabedoria demonstrada, o papa Alexandre IV solicita que ele fique na cúria par expor aos cardeais e oficiais da cúria o evangelho de São João. Sem previsão do tempo que ia ficar retido e sabendo que dali não podia continuar a governar a província apresentou a renuncia ao seu lugar de provincial. Após este período junto da cúria romana Alberto voltou para a cidade de Colónia e para as suas aulas.
Em 5 de Janeiro de 1260 o Mestre Alberto foi nomeado bispo de Ratisbona por Alexandre IV. A sua tarefa consistia numa reforma em termos económicos e em termos de ministério dos sacerdotes diocesanos, reforma que lhe valeu duros trabalhos com os poderes e direitos instituídos. Devido às dificuldades na prossecução dos objectivos da missão de que tinha sido encarregue dirigiu-se a Roma para solicitar a renúncia, que só foi aceite passado um ano por Urbano IV, sucessor de Alexandre IV que tinha entretanto falecido.
Em 1263 foi nomeado pregador da cruzada para a Alemanha, com amplos poderes de conceder indulgências. O objectivo de Urbano IV era reunir forças para a reconquista dos lugares santos, mas os seus esforços foram em vão. Durante este tempo e missão Alberto foi solicitado para intervir como árbitro em muitas disputas nas cidades por onde passava.
Com a morte de Urbano IV em 1264 a sua tarefa terminou e retirou-se então para o convento de Wurzburgo onde escreveu o Comentário ao Evangelho de São Marcos. Aqui passou três anos dedicado à oração, ao estudo e à actualização filosófica. Entre 1267 e 1269 esteve no convento de Estrasburgo onde continuou a sua paixão de leitor de teologia e em 1270 foi a Paris defender a sua doutrina que era criticada por Siger de Brabante. Alberto conseguiu que as posições de Siger fossem condenadas e que fosse excomungado.
Ainda em 1270 voltou novamente a Colónia para intervir no conflito entre o bispo e a burguesia da cidade que tinha aprisionado o bispo, o que provocou a promulgação do interdito sobre a cidade pelo Papa, com o consequente abandono da cidade por todos os sacerdotes e religiosos. Durante quatro anos a cidade esteve votada ao anátema apesar de todos os esforços de Alberto para pôr fim a esta situação.
Em 1274 Alberto participou no concílio de Lyon, um dos mais brilhantes da história da Igreja e nele celebrou-se a reconciliação da igreja latina com a igreja grega. Neste concílio Alberto teve também uma grande influência no reconhecimento de Rodolfo de Habsburgo como imperador da Alemanha. Terminado o concílio regressou uma vez mais a Colónia e à sua vida de claustro.
Santo Alberto escreveu muito e sobre todas as matérias conhecidas na sua época. Na sua juventude foi dominado pelos temas da natureza e pelos comentários filosóficos, na maioridade foi dominado pelos temas teológicos e místicos. Em ambas as etapas os seus escritos estão sempre orientados para Deus, para a Igreja e a fé, para o serviço de instrução dos irmãos e para a divulgação das grandes questões junto dos mais simples.
Alberto escreveu sobre tudo, astronomia, meteorologia, climatologia, física, mecânica, química, mineralogia, alquimia, botânica e zoologia. Alberto reconheceu e apreciou a autoridade dos grandes filósofos gregos e por isso estudou e procurou aplicar a sua filosofia à teologia quando isso era visto na Igreja como algo pernicioso.
Para melhor conhecer as suas obras comentou a lógica, a metafísica, a moral, a política e as ciências naturais de Aristóteles e graças a ele o papa Alexandre IV encarregou outro dominicano, Guillermo de Moerbeke, de traduzir fielmente para latim as obras de Aristóteles, livres dos comentários e incisos que as escolas judias e árabes lhes tinham acrescentado.
Alberto, como era habitual na época, comentou também as Sentenças de Pedro Lombardo, assim como vários livros do Antigo Testamento e quase todos do novo. No comentário ao Cântico dos Cânticos e aos Salmos utilizou o método alegórico, mas nos outros livros utilizou o método histórico literal que está mais próximo da exegese moderna. Comentou também as obras do Pseudo Dionísio e a teologia mística que influenciou posteriormente a mística alemã dos séculos XIII e XIV.
Sobre a eucaristia escreveu três obras monográficas para além das várias referências que se encontram nas outras obras: Do Sacrifício da Missa, Do Sacramento da Eucaristia e 32 Sermões sobre o Sacramento da Eucaristia. Outro tema forte dos escritos de Santo Alberto Magno é a Virgem Maria, nenhum teólogo da escolástica escreveu tanto sobre a Virgem como ele. Tem um Comentário à Ave-Maria e um volumoso tratado de 230 questões sobre o Evangelho de Lucas conhecido como o De Laudibus Beatae Virginis, e em todas as suas obras teológicas faz referências à Virgem Maria e à sua acção na economia da salvação.
Alberto era um homem de fé, em tudo via a presença de Deus, desde os mais simples grãos de areia até às realidades mais santas e sublimes. Era também um homem de oração, pois a seguir ao estudo dedicava-se à contemplação, à procura do rosto de Deus. E foi também um homem de serviço ao próximo, às monjas, aos irmãos que formava, aos homens que teve que reconciliar e aos pobres que pôde ajudar.
Alberto faleceu a 15 de Novembro de 1280 e foi sepultado na igreja do convento de Colónia, onde tinha vivido a maior parte da sua vida. Em 1931 Pio XI firmou a bula de canonização e declarou-o doutor da Igreja e em 1942 Pio XII nomeou-o patrono daqueles que se dedicam ao estudo das ciências naturais.

2 comentários:

  1. Frei José Carlos,

    A partilha da segunda parte da biografia de Santo Alberto Magno mostra-nos a dimensão humana, intelectual e religiosa de um ser humano excepcional, de espírito aberto. Permita-me Frei José Carlos que destaque alguns excertos do texto que escreveu e que mais me sensibilizaram...” Santo Alberto era a presença viva do ideal de frade pregador, era um homem espiritual, com uma grande vida de piedade, de pobreza e de oração e um homem de estudo que queria levar a cabo a renovação da teologia e da pregação. Nesta dimensão e como provincial tomou medidas severas contra aqueles que não observavam a pobreza estrita.”…
    …”Em 1274 Alberto participou no concílio de Lyon, um dos mais brilhantes da história da Igreja e nele celebrou-se a reconciliação da igreja latina com a igreja grega.”
    …”os seus escritos estão sempre orientados para Deus, para a Igreja e a fé, para o serviço de instrução dos irmãos e para a divulgação das grandes questões junto dos mais simples.
    Alberto escreveu sobre tudo, astronomia, meteorologia, climatologia, física, mecânica, química, mineralogia, alquimia, botânica e zoologia. Alberto reconheceu e apreciou a autoridade dos grandes filósofos gregos e por isso estudou e procurou aplicar a sua filosofia à teologia quando isso era visto na Igreja como algo pernicioso”.
    …”Alberto era um homem de fé,(…), também um homem de oração (…), e foi também um homem de serviço ao próximo, às monjas, aos irmãos que formava, aos homens que teve que reconciliar e aos pobres que pôde ajudar”.
    Um grande obrigada por esta interessante, extensa e bem documentada biografia de Santo Alberto Magno que partilhou connosco e que nos permite conhecer mais e melhor este Santo Dominicano. Bem haja.
    Que o exemplo de Santo Alberto Magno nos inspire e “continue a interceder por todos nós junto de Deus Pai”.
    Um abraço fraterno
    Maria José Silva

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  2. Boa noite Frei José Carlos,
    É edificante a vida de Santo Alberto Magno e um exemplo de fé para todos nós ao ensinar-nos a ver a presença de Deus nas coisas mais pequeninas.
    Há um belo filme, de Xavier Beauvois, "Dos Homens e dos Deuses" baseado em factos da vida real e que nos aproxima ternamente de Deus. Vive da realidade dos homens, da sua fraternidade, da sua entrega a Deus, enfim da presença do Reino de Deus entre nós.
    Tenha uma santa noite,
    Graciete

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