sábado, 13 de novembro de 2010

Faz-me justiça, pedia a viúva (Lc 18,3)

O Evangelho de hoje interroga-nos sobre o fim último das nossas orações, sobre a finalidade dos nossos pedidos a Deus e mostra-nos como de facto temos, face a esse fim, necessidade de orar sempre e sem desanimar.
A parábola que Jesus conta da pobre viúva e do juiz iníquo mostra-nos de uma forma clara qual deve ser o fim último das nossas orações, ou seja, a nossa oração deve ser para que nos seja feita justiça, deve ser um pedido de justiça, porque de facto é isso que a viúva pede ao juiz, que se lhe seja feita justiça contra o seu adversário.
No contexto bíblico a justiça tem um sentido muito particular, um sentido que se distancia da formulação jurídica e das nossas concepções mais quotidianas de dar a cada um segundo o que lhe é devido. Na Bíblia a justiça significa e é a justificação do homem face a Deus pelo perdão dos seus pecados.
Encontramos deste modo o que deve ser o objecto das nossas orações, o fim último da nossa oração, e a razão para a necessidade de orar sempre e sem desanimar, atitude que tem também fundamento na certeza que a resposta aos nossos pedidos não tardará, que na medida em que pedirmos a justiça ela nos será feita e sem demora.
Este objecto, este fim último deve ser também o elemento que enquadra e justifica todas as nossas outras orações, todos os outros nossos pedidos apresentados a Deus. Primeiro porque essa demanda de justiça manifesta a nossa dependência radical de Deus, a nossa fragilidade e incapacidade que só podem ser colmatadas e supridas por Deus e pela sua graça. Depois porque toca o essencial da nossa salvação, que nos é alcançada por Deus, bem como a nossa participação na vida de Deus, justiça obtida pela entrega do Filho como resgate por cada um de nós. Por fim porque relativiza e regula todos os outros nossos pedidos que não podem deixar de ser pedidos inseridos e iluminados pela justiça.
Ao pedirmos a justiça a Deus, que nos seja feita justiça contra o nosso adversário que é o mal, estamos também a pedir a misericórdia de Deus, bem como a manifestar a nossa fé, pelo que ganha sentido a pergunta de Jesus sobre o encontrar fé sobre a terra quando regressar no último dia. A nossa oração manifesta a nossa fé.

1 comentário:

  1. Frei José Carlos,

    O texto que elaborou sobre ...“o objecto das nossas orações, o fim último da nossa oração, e a razão para a necessidade de orar sempre e sem desanimar …” e que ilustrou com tanta beleza, levou-me à releitura e meditação das Homílias que connosco partilhou nos XXIX e XXX Domingos do Tempo Comum e interpreto-as como se completassem esta Meditação.
    ....” A parábola que Jesus conta da pobre viúva e do juiz iníquo mostra-nos de uma forma clara qual deve ser o fim último das nossas orações, ou seja, a nossa oração deve ser para que nos seja feita justiça, deve ser um pedido de justiça,”…
    E o Frei José Carlos lembra-nos “que na medida em que pedirmos a justiça ela nos será feita e sem demora” e … “este fim último deve ser também o elemento que enquadra e justifica todas as nossas outras orações, todos os outros nossos pedidos apresentados a Deus”, apresentando a sua fundamentação, a necessidade de “manifestarmos a nossa fé, pelo que ganha sentido a pergunta de Jesus sobre o encontrar fé sobre a terra quando regressar no último dia.”
    Que o Espírito Santo interceda para que a fé nunca nos falte e se manifeste no nosso quotidiano e seja fortalecida pela oração, num processo mutuamente interactivo.
    Obrigada por esta importante partilha. Bem haja.
    Desejo ao Frei José Carlos um bom fim de semana.
    Um abraço fraterno
    Maria José Silva

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